Precisamos pensar em quem vai cuidar dos idosos
Com informações da Agência Fapesp
Os cientistas também estão tentando entender por que o tempo passa mais rápido conforme envelhecemos e como a percepção do envelhecimento muda com a idade.
[Imagem: Duke University]
[Imagem: Duke University]
O Brasil está envelhecendo rápido. Hoje são quase 30 milhões de idosos, ou 14,3% da população brasileira. Em 2030, estima-se que o país tenha mais idosos do que crianças, com 41,5 milhões (18%) de pessoas com idade superior ou igual a 60 anos e 39,2 milhões (17,6%) entre zero e 14 anos. O crescimento deve continuar até 2060, quando cerca de 25% da população terá 65 anos ou mais.
A despeito da clara mudança no perfil demográfico que vem ocorrendo há algumas décadas, ainda falta uma política adequada para cuidar dessa parcela crescente da população.
"Precisamos pensar a respeito de qual velhice falamos e sobre como reordenar as políticas públicas frente a crescentes demandas apresentadas por esse grupo. Envelhecimento sempre será um triunfo, nunca deve ser visto como um problema. Basta pensar em qual é a alternativa.
"O que precisamos é envelhecer bem e, se isso não for possível, é necessário que exista uma estrutura social pronta para atender as demandas que cada um de nós possa vir a apresentar," disse Yeda Duarte, coordenadora do estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), sobre as condições de vida e saúde dos idosos residentes no município de São Paulo.
Idosos do presente
Para Maria Helena Concone, da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC de São Paulo, não se trata simplesmente de criar estruturas de apoio para os próximos 20 anos. Há carência na atualidade, uma vez que o aumento da longevidade e a redução do número de nascimentos já alteraram a estrutura demográfica brasileira.
O número de habitantes em idade economicamente produtiva (entre 15 e 64 anos) já é menor do que o total de brasileiros considerados dependentes (idosos e crianças). O fim do chamado bônus demográfico - considerado o ideal para o crescimento econômico de um país - foi anunciado no fim de 2018 pelo IBGE, cinco anos mais cedo que o previsto.
De acordo com a pesquisadora, para preparar estruturas de apoio e políticas públicas para os idosos é preciso entender que o processo de envelhecimento, embora seja global, ocorre de maneira diferente de uma pessoa para outra. "Mais que velhice, deveríamos falar em velhices", disse Maria Helena.
Envelhecendo bem?
Na última coleta de dados do projeto SABE (2017), com idosos da cidade de São Paulo, verificou-se que parte das pessoas que hoje têm entre 60 e 65 anos chega a essa idade com condições funcionais comprometidas em comparação às gerações anteriores e necessitando de cuidados. Isso reflete a necessidade de reorganizar a sociedade e criar estruturas e políticas para atender a essas novas demandas.
"Estamos falando das pessoas que nasceram entre 1951 e 1955, na época da denominada 'revolução cultural' ou nos 'anos dourados'. São pessoas que vivenciaram profundas e significativas mudanças nos padrões sociais e só agora será possível saber o impacto ocasionado. Elas vão viver muito, mas, dado o seu comprometimento funcional em idades mais precoces, talvez envelheçam com menos qualidade de vida.
Junto a isso, temos uma população jovem que está progressivamente sendo reduzida, o que impactará de alguma forma nas futuras estruturas de cuidado para as pessoas longevas que dele necessitarem", apontou Yeda Duarte.
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