Teste da Linguinha: aliado contra o
desmame precoce
Dia 20 de junho é o Dia Nacional do Teste da Linguinha. Nesta data, em 2014, a Presidência da República sancionou a Lei Federal nº 13.002,
instituindo a obrigatoriedade da realização do Protocolo de Avaliação
do Frênulo da Língua em bebês nascidos em todos os hospitais e
maternidades do país, ação pioneira em políticas públicas para prevenção
à anquiloglossia, popularmente conhecida como “língua presa”.
Em
2019, portanto, a obrigatoriedade da avaliação nos hospitais e
maternidades públicas ou privadas brasileiras completa cinco anos.
O teste é indolor e direito de toda a criança.
A
fonoaudióloga e neurofisiologista Viviane Marques (CRFa 1-10022),
coordenadora da Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar e docente da
graduação de Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de
Janeiro, defende a realização do teste, principalmente dentro das
maternidades, para evitar o desmame precoce. “Não é só uma
anquiloglossia que promove o desmame precoce. Um frênulo curto, um
frênulo curto anteriorizado também dificultam a mamada”, alerta.
Para
Viviane Marques, o Teste da Linguinha no recém-nascido, dentro das
maternidades, possibilita um melhor desenvolvimento das funções do sistema estomatognático, que envolve sucção, posteriormente a mastigação, deglutição (o ato de engolir) e a fala.
“Muitas
pessoas só vão ter o diagnóstico e só vão identificar que tem o frênulo
(membrana que une a língua ao assoalho da boca) curto pelo distúrbio da
fala. Muitas crianças que não fazem o teste dentro da maternidade, não
conseguem fazer a amamentação adequada, têm dificuldades, machucam o
bico do seio da mãe. Então elas desmamam. E a mãe acaba alimentando com a
mamadeira. Quando vem a fase de iniciar as consistências alimentares,
quando começa a ingestão de alimentos sólidos, uma criança que tem um
frênulo curto realmente não conseguirá lateralizar a língua. Então, a
mastigação fica prejudicada”, explica.
A
coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital Municipal Albert
Schweitzer (HMAS), no Rio de Janeiro, e fonoaudióloga responsável
técnica do Hospital Infantil Ismélia da Silveira, em Duque de Caxias,
Debora Gomes Montalvão (CRFa 1-11929), também considera o Teste da
Linguinha muito importante para o desenvolvimento pleno da criança. “A
anquiloglossia limita o movimento da língua, causando uma má pega. O
bebê não abocanha toda a aréola materna e não ordenha a quantidade ideal
de leite materno, causando dores e fissuras no seio da mãe”.
Coordenadora da equipe do HMAS há cinco anos, Debora Montalvão
acredita que oferecer condições favoráveis para o aleitamento materno
exclusivo nos casos de anquiloglossia é garantir a saúde e o bem-estar
da criança e de sua família.
“Desde
2014 realizamos o Teste da Linguinha em todos os nascidos na unidade.
Temos uma média de 400 bebês avaliados por mês. Nos casos severos de
anquiloglossia, a frenotomia (cirurgia
de correção do frênulo lingual) é realizada antes da alta hospitalar. O
procedimento cirúrgico é realizado pela equipe de Odontologia. Já foram
muitas famílias beneficiadas pelo protocolo. Seus relatos de sucesso na
amamentação nos emocionam e são estímulos para a continuidade de
estudos sobre o tema”, disse.
A
fonoaudióloga, com 14 anos de profissão, há oito anos se dedica à
assistência materno-infantil. E admite que desde 2014, quando foi
sancionada a lei, o Teste da Linguinha faz parte da sua rotina de
estudos e atuação profissional.
Para
ela, a Lei Federal 13.002/2014 foi um marco para o diagnóstico precoce
da anquiloglossia. Mais recentemente veio a Nota Técnica 25/2018, do
Ministério da Saúde, que orienta quanto à necessidade da realização do
Teste da Linguinha nas primeiras 48h de vida do bebê, ainda na
maternidade, a orientação quanto ao uso do Protocolo Bristol de
Avaliação da Língua e um fluxograma de atenção aos lactentes para
avaliação e abordagem da anquiloglossia na Rede de Atenção à Saúde. Mas,
na avaliação de Debora, ainda faltam as capacitações. “Estamos
caminhando, avançando e abrir a discussão sobre este tema é promover
saúde e qualidade de vida a todos, entendendo que a lei foi uma
conquista e traz benefícios à sociedade”.
Na Especialização em Atenção Integral à Saúde Materno-Infantil
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Debora Montalvão teve
oportunidade de aprofundar o assunto, relacionando o protocolo às
políticas públicas. O trabalho de conclusão do curso, “Teste da
Linguinha no Brasil: da Lei às Políticas Públicas”, foi desenvolvido com
orientação do pediatra Marcus Renato de Carvalho e a contribuição da odontopediatra Clarissa Brandão.
“Considero que a pesquisa foi apresentada em um momento oportuno, pois
recentemente a Sociedade Brasileira de Pediatria havia solicitado a
revogação da Lei do Teste da Linguinha, em defesa corporativa de uma
categoria, atribuindo exclusivamente ao médico a avaliação e diagnóstico
das anquiloglossias.
O
Teste da Linguinha depende de uma abordagem interdisciplinar,
envolvendo fonoaudiólogos, odontopediatras e médicos”, completou.
Viviane
Marques não tem dúvidas de que o fonoaudiólogo é o profissional ideal
para realizar o Teste da Linguinha. “O fonoaudiólogo é o profissional
ideal para fazer a avaliação, até porque ele não avalia só a morfologia
de língua, mas também as funções do sistema estomatognático. O
profissional legalmente habilitado para avaliar essas funções é o
fonoaudiólogo”, concluiu Viviane.
Por Rose Maria, Assessoria de Imprensa do Crefono1. Fotos: Arquivo pessoal Debora Montalvão
Última atualização: 24/6/2019
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