terça-feira, 19 de novembro de 2019

Teste da Linguinha: aliado contra o
desmame precoce

                                Dia 20 de junho é o Dia Nacional do Teste da Linguinha. Nesta data, em 2014, a Presidência da República sancionou a Lei Federal nº 13.002, instituindo a obrigatoriedade da realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em bebês nascidos em todos os hospitais e maternidades do país, ação pioneira em políticas públicas para prevenção à anquiloglossia, popularmente conhecida como “língua presa”.

Em 2019, portanto, a obrigatoriedade da avaliação nos hospitais e maternidades públicas ou privadas brasileiras completa cinco anos.

O teste é indolor e direito de toda a criança.
A fonoaudióloga e neurofisiologista Viviane Marques (CRFa 1-10022), coordenadora da Pós-graduação em Fonoaudiologia Hospitalar e docente da graduação de Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, defende a realização do teste, principalmente dentro das maternidades, para evitar o desmame precoce. “Não é só uma anquiloglossia que promove o desmame precoce. Um frênulo curto, um frênulo curto anteriorizado também dificultam a mamada”, alerta.
Para Viviane Marques, o Teste da Linguinha no recém-nascido, dentro das maternidades, possibilita um melhor desenvolvimento das funções do sistema estomatognático, que envolve sucção, posteriormente a mastigação, deglutição (o ato de engolir) e a fala.
“Muitas pessoas só vão ter o diagnóstico e só vão identificar que tem o frênulo (membrana que une a língua ao assoalho da boca) curto pelo distúrbio da fala. Muitas crianças que não fazem o teste dentro da maternidade, não conseguem fazer a amamentação adequada, têm dificuldades, machucam o bico do seio da mãe. Então elas desmamam. E a mãe acaba alimentando com a mamadeira. Quando vem a fase de iniciar as consistências alimentares, quando começa a ingestão de alimentos sólidos, uma criança que tem um frênulo curto realmente não conseguirá lateralizar a língua. Então, a mastigação fica prejudicada”, explica.
A coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Hospital Municipal Albert Schweitzer (HMAS), no Rio de Janeiro, e fonoaudióloga responsável técnica do Hospital Infantil Ismélia da Silveira, em Duque de Caxias, Debora Gomes Montalvão (CRFa 1-11929), também considera o Teste da Linguinha muito importante para o desenvolvimento pleno da criança. “A anquiloglossia limita o movimento da língua, causando uma má pega. O bebê não abocanha toda a aréola materna e não ordenha a quantidade ideal de leite materno, causando dores e fissuras no seio da mãe”.
Coordenadora da equipe do HMAS há cinco anos, Debora Montalvão acredita que oferecer condições favoráveis para o aleitamento materno exclusivo nos casos de anquiloglossia é garantir a saúde e o bem-estar da criança e de sua família. 

“Desde 2014 realizamos o Teste da Linguinha em todos os nascidos na unidade. Temos uma média de 400 bebês avaliados por mês. Nos casos severos de anquiloglossia, a frenotomia (cirurgia de correção do frênulo lingual) é realizada antes da alta hospitalar. O procedimento cirúrgico é realizado pela equipe de Odontologia. Já foram muitas famílias beneficiadas pelo protocolo. Seus relatos de sucesso na amamentação nos emocionam e são estímulos para a continuidade de estudos sobre o tema”, disse.

A fonoaudióloga, com 14 anos de profissão, há oito anos se dedica à assistência materno-infantil. E admite que desde 2014, quando foi sancionada a lei, o Teste da Linguinha faz parte da sua rotina de estudos e atuação profissional.
Para ela, a Lei Federal 13.002/2014 foi um marco para o diagnóstico precoce da anquiloglossia. Mais recentemente veio a Nota Técnica 25/2018, do Ministério da Saúde, que orienta quanto à necessidade da realização do Teste da Linguinha nas primeiras 48h de vida do bebê, ainda na maternidade, a orientação quanto ao uso do Protocolo Bristol de Avaliação da Língua e um fluxograma de atenção aos lactentes para avaliação e abordagem da anquiloglossia na Rede de Atenção à Saúde. Mas, na avaliação de Debora, ainda faltam as capacitações. “Estamos caminhando, avançando e abrir a discussão sobre este tema é promover saúde e qualidade de vida a todos, entendendo que a lei foi uma conquista e traz benefícios à sociedade”.

Na Especialização em Atenção Integral à Saúde Materno-Infantil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Debora Montalvão teve oportunidade de aprofundar o assunto, relacionando o protocolo às políticas públicas.  O trabalho de conclusão do curso, “Teste da Linguinha no Brasil: da Lei às Políticas Públicas”, foi desenvolvido com orientação do pediatra Marcus Renato de Carvalho e a contribuição da odontopediatra Clarissa Brandão. “Considero que a pesquisa foi apresentada em um momento oportuno, pois recentemente a Sociedade Brasileira de Pediatria havia solicitado a revogação da Lei do Teste da Linguinha, em defesa corporativa de uma categoria, atribuindo exclusivamente ao médico a avaliação e diagnóstico das anquiloglossias.
O Teste da Linguinha depende de uma abordagem interdisciplinar, envolvendo fonoaudiólogos, odontopediatras e médicos”, completou.
Viviane Marques não tem dúvidas de que o fonoaudiólogo é o profissional ideal para realizar o Teste da Linguinha. “O fonoaudiólogo é o profissional ideal para fazer a avaliação, até porque ele não avalia só a morfologia de língua, mas também as funções do sistema estomatognático. O profissional legalmente habilitado para avaliar essas funções é o fonoaudiólogo”, concluiu Viviane.

 Por Rose Maria, Assessoria de Imprensa do Crefono1. Fotos: Arquivo pessoal Debora Montalvão



Última atualização: 24/6/2019
 

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