Câncer de boca causado por sexo oral avança no Brasil
Em uma década, dispararam no país os
casos de câncer de boca e orofaringe relacionados à infecção por HPV
(papilomavírus humano), transmitidos por sexo oral.
Câncer na língua
O índice de tumores provocados pelo vírus é três vezes superior ao registrado no fim da década de 1990. Não há um aumento do número total de casos, mas sim uma mudança no perfil da doença.
Antes, cânceres de boca e da
orofaringe (região atrás da língua, o palato e as amígdalas) afetavam
homens acima de 50 anos, tabagistas e/ou alcoólatras.
Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
Uma recente análise publicada no
periódico "International Journal of Epidemiology" mostra que, quanto
maior o número de parceiras com as quais pratica sexo oral e quanto mais
precoce for o início da vida sexual, mais risco o homem terá de
desenvolver câncer causado pelo HPV.
MAIS CASOS
No Hospital A.C. Camargo, em São
Paulo, 80% dos tumores de orofaringe têm associação com o
papilomavírus. Há dez anos, essa associação existia em 25% dos casos.
O HPV já está presente em 32%
dos tumores de boca em pacientes abaixo dos 45 anos ""antes, o índice
era de 5%. Por ano, o hospital atende 160 casos desses tumores.
"O aumento dos tumores por HPV é
real, e não porque houve melhora do diagnóstico. Os casos relacionados
ao tabaco vêm caindo, mas o HPV está ocupando o lugar", diz o cirurgião
Luiz Paulo Kowalski, do A.C. Camargo.
No Icesp (Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), 60% dos 96 casos de
câncer de orofaringe atendidos em 2010 tinham relação com o HPV. As
mulheres respondem por 20% dos casos.
"Começa-se a notar um maior
número de mulheres com esse câncer, por causa do sexo oral
desprotegido", diz o oncologista Gilberto de Castro Júnior, do Icesp.
No Hospital de Câncer de
Barretos, no interior paulista, casos ligados ao HPV respondem por 30%
dos cânceres da orofaringe, um aumento de 50% em relação à década
passada, segundo o cirurgião André Lopes Carvalho.
"A maioria dos nossos pacientes
tem o perfil clássico, de homens mais velhos que bebem e fumam. Mas
estamos percebendo uma virada." O Inca (Instituto Nacional de Câncer)
desenvolve seu primeiro estudo sobre o impacto do HPV nos tumores orais.
Segundo o cirurgião Fernando Dias, coordenador da área de cabeça e
pescoço do instituto, o HPV de subtipo 16 é o que mais provoca câncer da
orofaringe.
"O HPV está criando um novo
grupo de pacientes. Por isso, é preciso reforçar a necessidade de fazer
sexo oral com preservativo." O Inca estima que, por ano, o país registre
14 mil novos casos de câncer de boca.
Segundo os especialistas, a boa
notícia é que os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm um melhor
prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo.
Paulo
Kowalski afirma que eles respondem melhor à quimioterapia e à
radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia.
VACINA
A vacina contra o HPV não é
aprovada para homens no Brasil. Nos EUA, onde foi liberada, a imunização
masculina não protege contra o HPV 16, o tipo que mais causa câncer de
boca e de orofaringe.
No Brasil, só mulheres entre 9 e
26 anos têm indicação para a vacina contra quatro tipos de HPV, entre
eles o 16. Mas a imunização só existe na rede privada, ao custo médio de
R$ 900.
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