Posted: 22 Jul 2012 04:57 AM PDT
Um
chip de poucos centímetros, mas que pode fazer o trabalho de um
laboratório inteiro, é a aposta de cientistas brasileiros para o
diagnóstico rápido e barato de três doenças que afetam principalmente a
população pobre do país e do mundo: malária, leishmaniose e Chagas.
Basta uma gota de sangue para que o dispositivo, criado por cientistas do Instituto de Física da USP de São Carlos, consiga detectar se alguém está infectado. O resultado sai em poucos segundos.
Hoje, os testes laboratoriais são a principal forma de diagnóstico dessas moléstias.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Além de não
ficarem prontos na hora, esses exames necessitam de uma boa
infraestrutura laboratorial. Algo que, em regiões isoladas e endêmicas,
pode se tornar um grande obstáculo.
O novo chip elimina esses inconvenientes.
Para funcionar, o dispositivo se
vale de impulsos elétricos. É o mesmo princípio dos velhos testes de
glicemia -aqueles aparelhinhos geralmente usados por diabéticos para
verificar a quantidade de açúcar no sangue.
Mas, em vez de açúcar, o exame
brasileiro considera os impulsos elétricos gerados pela reação de uma
proteína com os anticorpos que combatem as doenças.
Método
Os
anticorpos são uma resposta do sistema de defesa do organismo à doença e
só são produzidos por quem já foi infectado por um parasita.
"O chip tem várias
nanopartículas [minúsculas esferas] que contêm uma proteína específica.
Em contato com o sangue, essa proteína se liga ao anticorpo. O exame se
vale das medidas elétricas causadas por essa reação", explica o
coordenador do estudo, Valtencir Zucolotto, do Laboratório de
Nanomedicina e Nanotoxicologia da USP de São Carlos.
Para cada uma das doenças testadas é usada uma nanopartícula específica.
"O exame conseguiu detectar as
doenças até em estágios bastante iniciais", afirma Zucolotto, que tem a
colaboração de um time de cientistas: Osvaldo Oliveira Júnior, Fernando
Paulovich, Cristina Oliveira e Pietro Ciancaglini, também da USP, e
Rodrigo Stabeli, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Rondônia.
O grupo já deu início ao processo para patentear o microchip do teste.
Por conta de seu princípio de
ação, o método poderia ser usado ainda para detectar outras doenças que
também geram uma resposta do sistema imune, como a dengue.
"Ainda é complicado falar em valores, mas ele certamente seria mais barato do que os exames laboratoriais", avalia Zucolotto.
Segundo o cientista, hoje seria
possível produzir os circuitos que verificam os impulsos elétricos por
algo em torno de R$ 100 e R$ 200.
Os chips, que são descartáveis após o uso, sairiam por cerca de US$ 1 (aproximadamente R$ 2,10).
"Nós
desenvolvemos o protótipo, mas, para chegar ao mercado, é preciso que
haja indústrias interessadas", completa o pesquisador.
Ressalvas
Na opinião de Fernando Tobias Silveira, pesquisador responsável pelo laboratório de leishmanioses do Instituto Evandro Chagas, do Pará, a ideia do teste é "muito interessante", mas deve-se levar em conta as especificidades de cada doença.
Na opinião de Fernando Tobias Silveira, pesquisador responsável pelo laboratório de leishmanioses do Instituto Evandro Chagas, do Pará, a ideia do teste é "muito interessante", mas deve-se levar em conta as especificidades de cada doença.
"É preciso estar atento para o
fato de que esses chips devem ser impregnados com antígenos altamente
específicos. Por exemplo, se a suspeita é de leishmaniose visceral, é
preciso que um desses chips esteja impregnado com antígeno de Leishmania
infantum chagasi, que é o agente da leishmaniose visceral nas
Américas", diz.
"Não adianta impregnar antígeno,
por exemplo, de L. amazonensis, porque essa espécie é agente de
leishmaniose cutânea no Brasil. Portanto, é preciso considerar que
ocorrerão reações sorológicas cruzadas, reações falsas, se essas
especificações não forem previstas", completa.
Fonte Folhaonline
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