Resultado de exames levam médicos a antecipar cirurgias cesarianas
ENSP, publicada em 17/01/2012
A pesquisa Nascer no Brasil - Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento traz, entre seus resultados, um aumento de cirurgias cesarianas realizadas antes que o corpo do bebê esteja plenamente formado, fruto de exames de ultrassonografia realizados no terceiro trimestre de gestação. A pesquisadora da ENSP/Fiocruz Silvana Granado, integrante da equipe de pesquisadores do inquérito, explica que há um excesso de confiança, por parte dos médicos, nos dados apontados. A matéria foi destaque na edição de 15 de janeiro do jornal Correio Braziliense.
Confira, abaixo, a íntegra da matéria.
Uma antecipação desnecessária
Correio Braziliense
15 de janeiro de 2012
Iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo Nascer no Brasil - Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento revela o aumento da taxa de nascimentos prematuros (pré-termo intermediário e tardio), bem como um maior número de cesarianas e de recém-nascidos que necessitam de ventilação mecânica. São sinais negativos, que merecem atenção dos profissionais de saúde. Segundo a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Silvana Granado, o excesso de confiança nos dados apontados pelas ultrassonografias em exames feitos no terceiro trimestre leva médicos a realizar cirurgias cesarianas antes que o corpo do bebê esteja perfeitamente maduro para a vida extrauterina.
Tais erros induzem nascimentos precoces: bebês muito mais magros do que o esperado, ou com o sistema respiratório imaturo, o que gera a necessidade de internação na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). "Para datar uma gestação, é necessário avaliar os dados do ultrassom realizado no primeiro trimestre, que é quando a margem de erro é de, no máximo, cinco dias. Mas existem muitos profissionais despreparados. A ultrassonografia do terceiro trimestre tem uma margem de erro muitíssimo maior com relação à idade gestacional", avalia o médico obstetra Victor Bunduki, especialista em medicina fetal e ultrassonografia do CDB Premium.
De acordo com Silvana Granado, a ideia de que o bebê está totalmente pronto para nascer com as 38 semanas de gestação completas também é um erro. "Tem bebês que vão alcançar o desenvolvimento total apenas com 40 semanas. E, como o pulmão é o último órgão a amadurecer, os problemas respiratórios são uma constante em casos de prematuros. O fato é que só quem pode dizer o momento certo para um bebê nascer é o corpo da mulher, quando entra em trabalho de parto", indica. "É preciso repensar todo o sistema. De exames e de obstetrícia. Tudo. É uma agressão um bebê nascer e ter que ir direto para a UTI, quando deveria estar amadurecendo no útero da mãe. Fora os riscos de infecção que a UTI oferece", opina a especialista.
Ferramentas da ciência
Entre tantos exames, você sabe por que fazê-los?
Primeiro trimestre
Hemograma completo: feito pela coleta de sangue da mãe, o exame avalia as células sanguíneas, conta as plaquetas e detecta infecções e problemas, como anemias.
Tipagem sanguínea: revela o Rh sanguíneo da mãe. Se pai e mãe tiverem Rhs diferentes (ele positivo, ela negativo, ou vice-versa), a gestante precisará fazer um tratamento simples para evitar sensibilizações.
Sorologia para HIV: detecta a presença do vírus HIV no sangue da mãe. A detecção pode prevenir que a criança nasça com o vírus.
Sorologia para hepatite B e C: verifica a presença desses vírus no sangue da mãe, evitando que o filho os contraia e apresente problemas graves de fígado ao longo da vida.
Sorologia para toxoplasmose: busca a presença do protozoário causador da toxoplasmose no sangue da mãe, podendo causar aborto ou problemas graves no feto, como hidrocefalia e cegueira.
Sorologia para rubéola: a doença, que em geral é de baixa gravidade para o adulto, pode trazer transtornos sérios para uma mulher grávida, expondo o feto a más-formações e até à morte.
Sorologia para sífilis: detecta se a mãe é portadora da doença, que pode causar más-formações graves e aborto.
Sorologia para citomegalovírus: detecta a presença do citomegalovírus na corrente sanguínea. O vírus é o principal causador de surdez congênita no bebê, além de estar relacionado a baixo peso e quadros de icterícia.
Urina 1 e urocultura: o exame busca infecções no aparelho urinário feminino, que podem causar partos prematuros.
Papanicolau: o exame ginecológico busca infecções vaginais que podem trazer complicações diversas para a gravidez.
Ultrassom básico obstétrico endovaginal ou transvaginal: o exame é feito com uma sonda introduzida na vagina da gestante. Além de confirmar a presença de um ou mais fetos, vai definir a idade gestacional, medir os batimentos cardíacos e analisar o útero.
Translucência nucal (entre a 11ª e a 14ª semana): feita por meio de um ultrassom transabdominal, verifica o acúmulo de líquido na região da nuca do feto, avaliando assim os riscos de o bebê apresentar alguma síndrome genética, más-formações e alterações cromossômicas. É conhecido por ser o exame que indica o risco da síndrome de Down.
Teste oral de tolerância à glicose: para o diagnóstico de diabetes. A grávida faz um primeiro exame de sangue, depois ingere uma mistura de glicose. Duas horas depois faz outro exame de sangue.
Recomendados para casos específicos: TSH, T3, T4 e T4 livre; ecocardiografia fetal; Coombs indireto; perfil bioquímico fetal; protoparasitológico de fezes; cariótipo; biópsia de vilo corial; dosagem de ureia; ácido úrico e creatinina; teste de enzimas hepáticas; ecocardiograma e eletrocardiograma; sexagem fetal.
Segundo trimestre
Ultrassom morfológico: o ultrassom abdominal vai analisar e medir toda a morfologia do feto.
Casos específicos: amniocentese, ecocardiograma fetal, cordocentese, beta gonadotrofina coriônica humana, teste de proteína plasmática associada à gravidez, dosagem de ureia, ácido úrico e creatinina, teste de enzimas hepáticas, ecocardiograma e eletrocardiograma.
Terceiro trimestre
Ultrassom obstétrico: verifica a quantidade de líquido amniótico, a morfologia do bebê, o crescimento, o peso e a maturação da placenta.
Ultrassom obstétrico com dopplervelocimetria colorida: busca uma avaliação mais específica, por meio de ultrassom mais moderno, do fluxo sanguíneo no corpo do bebê e da resistência vascular, avaliando se há sofrimento fetal.
Cardiotocografia: feito durante o trabalho de parto, consiste na monitoração elétrica dos batimentos cardíacos do bebê e das contrações uterinas. Busca indicar sinais de sofrimento fetal.
Recomendados: pesquisa da bactéria estreptococo B na cultura de secreção vaginal, perfil biofísico fetal, ultrassom 3D ou 4D, dosagem de ureia, ácido úrico e creatinina, teste de enzimas hepáticas, ecocardiograma e eletrocardiograma.
Fontes: Lidia Freire e Silvana Fabel
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