terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Adoecendo....

Adolescentes adoecem?

Com informações do Jornal da Unicamp

Filho de ninguém

Quem deve atender os adolescentes?

Quantos pais já fizeram essa pergunta no momento em que o filho, ao atingir 14 anos de idade, precisou passar por atendimento médico?

De acordo com a pediatra Marici Braz, da Universidade Estadual de Campinas, o impasse está também na cabeça dos médicos, pois o pediatra especializa-se em atender crianças, e o clínico nem sempre está preparado para lidar com o paciente que acaba de sair da infância.

Esta lacuna faz, segundo Marici, com que o adolescente seja "filho de ninguém" e pode estar ligada ao mito de que adolescente não fica doente.

Contrariamente a esse mito, sua pesquisa mostrou que 20% dos adolescentes de Campinas têm diagnóstico de doença crônica (asma, doença cardíaca hipertensão, diabetes, etc).

Outro fator preocupante é que 60% dos entrevistados relatam ter algum problema de saúde, como dor de cabeça, dor nas costas, insônia, nervosismo, entre outros.

"É consenso falar que eles não ficam doentes, mas os números estão registrados, e é preciso tomar iniciativas em relação a isso", enfatiza Marici.

Doença de adolescentes

Os adolescentes acima de 15 anos apresentaram maior prevalência de doenças crônicas, segundo a pediatra.

Asma foi a doença mais citada pelos adolescentes (8%), seguida das doenças do coração, manifestadas por 2% dos entrevistados, hipertensão, 1%, e diabetes, menos de 1%. Porém, ao declarar os problemas de saúde, 10% referem-se a problemas emocionais e 6%, a insônia, 42% dizem ter alergia, e 25%, dor de cabeça.

As adolescentes grávidas apresentaram maior razão de prevalência de doença crônica quando comparadas a adolescentes não-grávidas, o que não significa que as doenças sejam ligadas à gravidez.

Marici informa que, em pesquisas realizadas em outros países, verificou-se que as adolescentes com doenças crônicas têm mais parceiros sexuais e tomam menos anticoncepcionais. Diante dessas informações, esta pode ser também uma hipótese para a maior prevalência. "Deve-se tomar cuidado para não inverter a causa", diz Marici.

A ocorrência de doenças crônicas também é expressiva entre adolescentes trabalhadores, também inseridos no grupo acima de 15 anos. Ela explica que a mesma evidência ocorre entre os adultos, pois quanto mais velho, mais sujeito a desenvolver doenças crônicas. "Talvez porque estejam se aproximando mais da idade adulta", explica Marici. A maior prevalência também aparece entre adolescentes com quadro de obesidade.

Em relação aos problemas de saúde, foi encontrada maior prevalência em adolescentes do sexo feminino, o que ocorre também entre os adultos. Esse dado pode estar ligado a um fator cultural, já discutido amplamente, que diz respeito ao fato de a mulher procurar mais atenção médica. "Homem é mais reservado, se queixa menos", acrescenta. Além disso, a mulher busca mais informações sobre cuidados com a saúde.

De acordo com Marici, enquanto pesquisas com adultos mostram que a prevalência de doenças está ligada à escolaridade e à situação socioeconômica, entre os jovens não foi encontrada nenhuma evidência nesse sentido.

Os dados levantados devem mudar a ideia de que o adolescente não fica doente e contribuir para que os serviços de saúde sejam organizados para um melhor acolhimento dos jovens.

Estilo de vida

A pediatra lembra que o novo modelo de vida, com acesso à informática, espaço cibernético, também é um aspecto novo para o qual os médicos devem se confrontar neste momento. Alguns sintomas podem estar relacionados com o tempo que o adolescente permanece diante do computador.

Esta será justamente a próxima etapa de sua pesquisa, em que ela avaliará a qualidade de vida e os hábitos saudáveis dos adolescentes, passando por alimentação, atividade física, uso de cigarro e álcool, acesso dos adolescentes ao serviço de saúde, entre outros.

Marici afirma que os adolescentes somente procuram atendimento em situação de doença aguda. "Neste momento em que eles chegam com queixa aguda, procuramos acolhê-los e aproveitar a oportunidade de propor um seguimento com agendamento de retorno". Esse é o momento de fazer avaliação geral do paciente.

A pediatra lembra que na adolescência o próprio paciente deve expor os sintomas e conversar diretamente com o médico, pois quando é criança quem observa os sintomas são os pais.

Para que eles falem o que estão sentindo é preciso que o médico o acolha e ele sinta confiança e estabeleça uma boa relação médico-paciente.

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