Posted: 22 Apr 2013 05:19 AM PDT
Pesquisadores realizaram o sequenciamento completo de 12 amostras de DENV-2 de pacientes atendidos em São José do Rio Preto
Estudo mapeou no Brasil, a história evolutiva do sorotipo 2 do vírus da
dengue (DENV-2) - uma das quatro espécies transmitidas ao homem pelo
mosquito Aedes aegypti .Para mapear a diversidade filogenética e
filogeográfica do vírus, ou seja, o caminho evolutivo trilhado em
diferentes regiões do país, pesquisadores da Faculdade de Medicina de
São José do Rio Preto (Famerp), da Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados
Unidos, realizaram o sequenciamento completo de 12 amostras de DENV-2 de
pacientes atendidos em São José do Rio Preto durante a epidemia de
2008. Os dados foram comparados com amostras de bancos de dados
genéticos de dengue do Brasil e do mundo.
Os resultados revelam a circulação simultânea de diferentes linhagens de
DENV-2 no país, o que pode estar associado a um maior número de surtos
epidêmicos e de manifestações graves da doença quando comparado aos
outros três sorotipos da dengue. A existência de uma maior variabilidade
genética entre o DENV-2 também tem sido apontada como causa do
insucesso em testes com vacinas.
O trabalho foi coordenado por Mauricio Lacerda Nogueira, do Laboratório
de Pesquisas em Virologia da Famerp. " Dentro de cada uma das quatro
espécies de vírus causadoras da dengue existem diferentes genótipos.
Dentro de cada genótipo ainda há variações genéticas que chamamos de
clados ou linhagens. Nossos dados mostram que três diferentes linhagens
de DENV-2 entraram no Brasil nos últimos 30 anos e todas elas pertencem
ao genótipo Americano/Asiático" , disse Nogueira.
Genótipos diferentes
Segundo o pesquisador, há ao todo seis diferentes genótipos do DENV-2. O
genótipo Americano/Asiático, que estima-se teria vindo do Vietnã via
Cuba, predomina hoje em todo o continente americano. " O genótipo
Americano existente na região originalmente foi expulso por uma versão
do vírus oriunda da Ásia, mais agressiva e mais adaptada às condições
epidemiológicas das Américas" , explicou.
As três diferentes linhagens de DENV-2 analisadas no estudo foram
chamadas pelos pesquisadores de BR1, BR2 e BR3. Diferem geneticamente
entre si por 37 alterações de aminoácidos. Essas variações, segundo
Nogueira, encontram-se na região do genoma do vírus que mais interage
com o sistema imunológico humano.
Os resultados indicam que a primeira introdução do genótipo
Americano/Asiático teria ocorrido entre 1988 e 1989, possivelmente no
Rio de Janeiro. Essa linhagem, batizada de BR1,teria circulado
continuamente em diferentes regiões do país por pelo menos 14 anos.
Entre 1998 e 2000 teria ocorrido a introdução da linhagem BR2, mais
restrita à região Nordeste do país. Paralelamente, em 1999, o BR3 teria
aparecido no Sudeste e, em 2001, na região Norte, causando grandes
epidemias no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 2007 e 2008 e superando
as outras duas linhagens em termos de número de casos e de
manifestações graves.
Perigo constante
" Fizemos um estudo semelhante com o DENV-1, publicado em 2012 na
revista Archives of Virology, no qual mostramos que, quando uma nova
linhagem do vírus emergia, a anterior desaparecia completamente. Mas, no
caso do DENV-2, existem períodos em que há dois clados(grupo de
espécies que compartilham um ancestral comum) diferentes circulando ao
mesmo tempo no país, o que torna esse vírus mais perigoso. A maior
variabilidade genética favorece epidemias" , disse Nogueira.
Não é por coincidência, afirmou o pesquisador, que o DENV-2 é há pelo
menos dez anos uma presença constante no interior de São Paulo, enquanto
os demais sorotipos causam epidemias em anos específicos e depois
desaparecem por longos períodos. " Ao analisar os dados do Ministério da
Saúde é possível detectar dengue do tipo 2 todos os anos no Brasil e em
diferentes regiões" , disse.
Há alguns anos, o consenso entre os especialistas era de que, uma vez
afetado por um sorotipo da dengue, o indivíduo ficaria imune àquela
espécie do vírus, mesmo se infectado por diferentes genótipos e
linhagens. Mas estudos recentes têm levantado novos questionamentos
entre os cientistas.
Vacina distante
Pesquisadores de uma empresa de imunização reportaram o sucesso apenas
parcial da vacina tetravalente contra a dengue testada em 4 mil crianças
com idades entre 4 e 11 anos na Tailândia.
Entre os sorotipos DENV-1, DENV-3 e DENV-4, a taxa de eficiência ficou
entre 60% e 90%. Mas o sorotipo DEN-2 resistiu quase que totalmente aos
efeitos da vacina. Uma das razões apontadas no estudo seria a diferença
entre os clados circulantes na população da Tailândia e os usados para
fazer o imunizante.
Outros testes com a vacina estão em andamento em dez países da Ásia e da
América Latina, entre eles o Brasil, com 31 mil crianças e
adolescentes." Não sabemos se os resultados brasileiros serão parecidos
com os da Tailândia. Pode ser, por exemplo, que aqui a vacina funcione
contra o DENV-2 e não funcione contra o DENV-4. Precisamos de mais
estudos para entender a evolução dos quatro sorotipos, as variações de
linhagem e o quanto isso importa em termos de resposta imune, do número
de casos e da gravidade da doença" , afirmou Nogueira.
Para o pesquisador, no entanto, o mais provável é que os resultados
apontem para a necessidade de desenvolver vacinas específicas para cada
país e para cada região.
Nogueira também coordena, um projeto de vigilância em dengue para
acompanhar em tempo real o que acontece no município, que atualmente
enfrenta uma forte epidemia." Já foram registrados mais de 8 mil casos
somente em 2013 e nossos dados indicam que mais de 90% correspondem ao
DENV-4, que aparentemente é menos agressivo. O número de casos graves
não está sendo grande" , contou.
Entre 2009 e 2010, a região enfrentou uma epidemia de DENV-1 com mais de
20 mil casos. "Com epidemias tão próximas causadas por diferentes vírus
e a presença constante do DENV-2, o risco de a população sofrer
infecções repetidas aumenta, o que eleva também o risco de manifestações
graves", alertou o pesquisador.
Fonte isaude.net
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