Brasil torna-se referência mundial em resistência do HIV
Com informações da FiocruzUm dos problemas encontrados no tratamento da Aids é a resistência do vírus aos medicamentos existentes.
Para monitorar e buscar soluções para esse desafio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) conta com a rede Global HIV Drug Resistance Network (HIVResnet),
O Brasil passou agora a integrar essa rede, com a certificação do Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular do Instituto Oswaldo Cruz.
O laboratório vai funcionar como Centro de Referência nacional no monitoramento da resistência do HIV junto à HIVResnet, desenvolvendo também ações horizontais com outros países vizinhos.
Assim, o Brasil passa a ser o primeiro da América do Sul e o segundo da América Latina credenciado na Rede.
Além de atuar no monitoramento de variantes resistentes do HIV, o Laboratório pretende intensificar seu trabalho de estudo e monitoramento da resistência do vírus no Brasil.
Centro de Referência
O Laboratório foi selecionado como Centro de Referência entre cerca de 30 candidatos da América Latina.
"O processo de certificação levou em consideração aspectos como a capacitação da equipe, a relevância e o volume de publicações em pesquisa clínica com o HIV, a infraestrutura e a biossegurança das instalações, além da experiência e da atuação do laboratório em redes e serviços nacionais de isolamento, caracterização, genotipagem e avaliação da resistência do vírus", explica o coordenador do novo Serviço de Referência da OMS, José Carlos Fernandez.
Como Centro de Referência da OMS, o Instituto vai atuar no fortalecimento das redes de laboratórios dos outros países sul-americanos.
"Seremos responsáveis por atividades como suporte e referência na identificação de casos de resistência primária do HIV, treinamento e capacitação de equipes, avaliação e adequação de laboratórios e transferência de tecnologia para sistemas de saúde dos demais países da América Latina, além de atendermos demandas diretas da OMS, como a análise da resistência de amostras referentes a populações específicas", afirma José Carlos.
"Mesmo antes da certificação oficial, integramos uma comissão internacional para realizar avaliação periódica do laboratório do Panamá, que atua como Referência regional da OMS na América Central, além das instalações de laboratórios de outros países da região, como Costa Rica, El Salvador, Honduras, Guatemala e Nicarágua", conta.
No Brasil, o novo Centro de Referência também irá intensificar sua atuação na coordenação dos esforços para o monitoramento da resistência primária do HIV aos medicamentos, aproveitando as redes já existentes no país.
"É cada vez mais comum que a OMS aposte na otimização de estratégias de vigilância internacional de doenças apoiadas nas redes já existentes dentro dos países", ressalta o coordenador do Centro.
"Nosso Laboratório já participa de forma destacada da Rede Nacional de Isolamento e Caracterização do HIV e da Rede Nacional de Genotipagem do HIV, realizando, por exemplo, a contagem das células-T CD4 e quantificação da carga viral plasmática do HIV nas amostras de parte dos pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS), indicando a necessidade de começar ou não o uso de remédios para controlar o HIV. As atividades do Centro de Referência serão integradas na rotina dessas redes, o que vai otimizar nossa atuação", avalia.
Resistência aos medicamentos
O pesquisador destaca que é fundamental entender melhor os perfis de resistência do vírus aos medicamentos e como isso afeta a estratégia terapêutica adotada, de forma a aprimorar a qualidade de vida dos pacientes.
Hoje, existem 25 drogas para combater o HIV, das quais o Brasil distribuiu gratuitamente 21.
De forma geral, eles são divididos como de primeira ou segunda linha. As primeiras foram desenvolvidas na década de 1990 e são utilizadas no início do tratamento, enquanto as outras são drogas mais modernas, utilizadas substituindo ou complementando a ação dos medicamentos de primeira linha, para combater infecções mais avançadas ou quando o vírus apresenta resistência a alguns dos medicamentos.
Um dos maiores problemas associados ao desenvolvimento da resistência do vírus é que elas precisam ser adequadamente combinadas e consumidas com muita regularidade, conforme destaca José Carlos.
"O HIV é muito mutável. A utilização incorreta dos medicamentos pelo paciente favorece o surgimento de mutações, que tornam o vírus resistente às drogas utilizadas, processo que chamamos de resistência secundária. Quando o vírus é transmitido, o novo paciente já será infectado por vírus apresentando mutações de resistência a certos medicamentos, caracterizando o que se conhece como resistência primária ou transmitida", esclarece o pesquisador.
Bioinformática
Um dos recursos que vêm auxiliando o estudo da resistência é o desenvolvimento da bioinformática. No entanto, José Carlos pondera que o crescente complexidade dos perfis mutacionais do HIV representa uma barreira importante para a interpretação dos laudos de genotipagem.
Existem mais de 350 mutações conhecidas do HIV, muitas delas podendo ocorrer simultaneamente. Para cada situação, é preciso determinar a melhor forma de combinar os medicamentos existentes visando a controlar a replicação viral", argumenta.
Por isso, é preciso investir na capacitação dos médicos, de forma a otimizar a prescrição dos medicamentos disponíveis e a adesão dos pacientes ao tratamento. Temos participado, nos últimos anos, de programas nacionais que têm este objetivo, trabalho que poderá agora ser expandido para os sistemas de saúde de toda região da América do Sul, no contexto da criação do Centro de Referência para a OMS."
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde, o Brasil possui um índice de resistência primária do HIV entre 5 %e 15%, situação classificada pela OMS como intermediária. Em países europeus e nos Estados Unidos, onde o acesso e a utilização dos medicamentos existem há mais tempo, o índice de resistência do vírus aos antirretrovirais supera os 15%.
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