Pesquisadora comenta sobre violência entre jovens namorados
ENSP, publicada em 13/12/2011
Em entrevista ao Jornal do Brasil, a pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP) Maria Cecília Minayo falou sobre o aumento da violência entre jovens namorados. A reportagem destaca uma pesquisa divulgada no livro Amor e violência - um paradoxo das relações de namoro e do "ficar" entre jovens brasileiros, da Editora Fiocruz, e que revela que as agressões estão cada vez mais presentes nos relacionamentos amorosos dos adolescentes.
Segundo Cecília Minayo, coordenadora do estudo, a violência vem crescendo entre as meninas, que passam a agredir os namorados. "A não ser no caso da violência sexual, que é predominantemente praticada pelos homens, os outros tipos de violência são comuns de ambas as partes. As agressões físicas, sexuais e psicológicas vivenciadas pelos jovens costumam ocorrer simultaneamente", comenta.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Pesquisa mostra que quase 90% dos jovens são violentos nos relacionamentos
JB Online
Amor e ódio caminham juntos. O ditado popular vem se tornando realidade, pelo menos entre os jovens. Uma pesquisa recente, divulgada no livro Amor e violência - um paradoxo das relações de namoro e do "ficar" entre jovens brasileiros, da Editora Fiocruz, revela que as agressões estão cada vez mais presentes nos relacionamentos amorosos dos adolescentes.
De acordo com a pesquisa, 86,8% dos jovens já praticaram e 86,9% já foram vítimas de algum tipo de agressão durante o relacionamento. O dado surpreendente é que a maioria das meninas (76,6%) sofre e pratica a violência ao mesmo tempo. Isso indica que as jovens se revoltaram e começam a impor suas palavras na força? Pesquisas anteriores indicam que sim.
A socióloga Maria Cecília Minayo, organizadora do estudo, conta que já em 2008 uma pesquisa de base populacional mostrou essa mudança na realidade. E isso não vale só para o Brasil - países como os Estados Unidos e a Espanha já mostraram as mulheres agredindo os homens em proporções elevadas.
Mais de 86% dos jovens já praticaram ou sofreram violência. Entre as meninas, 76,6% admitiram ser agressivas.
"A não ser no caso da violência sexual, que é predominantemente praticada pelos homens, os outros tipos de violência são comuns de ambas as partes. As agressões físicas, sexuais e psicológicas vivenciadas pelos jovens costumam ocorrer simultaneamente", explica Maria Cecília. "Há uma constante interseção de papéis entre vítimas e perpetradores [que praticam a violência], por parte tanto dos rapazes como das moças."
Seja porque se tornou mais frequente ou porque ganhou mais visibilidade, os casais têm feito vista grossa para a violência. Juliana Alcântara, 18, conta que as ofensas se tornaram normais nos seus relacionamentos. "No início é um mar de rosas, mas depois que a gente xinga a primeira vez, é ladeira abaixo", lembra. "Meu último namorado me chamava de vadia sempre que a gente brigava. Ele tinha ciúme de um amigo meu. Mesmo assim, fiquei com ele durante sete meses".
O caso de Juliana não é apenas um em mil. Entre os tipos de agressão, o mais comum é a violência verbal, praticada e sofrida por cerca de 85% dos jovens. Já as agressões sexuais aparecem em segundo lugar, cometida por 38,9% e com 43,8% de vítimas, dentre as quais, acrescenta Cecília, os agressores são principalmente os rapazes.
Mas o que faz as meninas agredirem mais? A pesquisa levantou quatro teorias, entre elas a de que as mulheres teriam aprendido o comportamento agressivo ao longo da vida. De acordo com os pesquisadores, a exposição dos jovens a maus-tratos na família faz com que eles entendam que a violência é a única forma de resolver os conflitos.
Pesquisa revela que quase 90% dos jovens brasileiros vivem com a violência no namoro.
Os pesquisadores também levantam a polêmica de que em uma perspectiva feminista, as agressões são uma questão de controle e poder. Para a psicóloga clínica Ângela Albuquerque, as atitudes violentas das meninas podem ter origem no subconsciente: "Pode ser uma resposta inconsciente à dominação do homem e submissão da mulher durante séculos", explica. "Os homens são orientados a se comportar de forma agressiva, dominante, enquanto as mulheres foram educadas a serem submissas".
A pesquisa analisou jovens de 15 a 19 anos, de dez capitais brasileiras e classes sociais diferentes. Isso demonstra que a violência acontece em diversas camadas sociais, ainda que alguns estudos indiquem que a agressão esteja ligada ao nível de escolaridade das pessoas. De acordo com os estudiosos, o resultado do estudo demonstra, na verdade, que a sociedade e a escola consideram normais os arroubos temperamentais dos jovens e prestam pouca atenção no que ocorre nas relações entre eles. "A violência no 'ficar' ou no namoro pode prenunciar ou dar continuidade à constituição de famílias violentas", explica Maria Cecília.
A estudante G. M., 19 anos, conta que presenciou as agressões entre os pais desde pequena e que, muitas vezes, quando briga com os namorados, se vê imitando o comportamento dos pais. No atual relacionamento com R. S., 18, ela conta que as brigas são comuns, e enquanto não "saírem no tapa", nada se resolve.
"Toda vez que a gente briga ele grita comigo", desabafa. "E fica gritando até me tirar do sério. Até que eu me irrito e dou uns tapas na boca dele. A gente só se entende desse jeito".
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