Especialista defende reformulação do PSF
Consultor diz que prioridade deveria ser tratamento de problemas crônicos, como diabetes e hipertensão, em vez de doenças agudas
BRASÍLIA
A decisão do governo federal de flexibilizar a carga horária dos médicos que trabalham no Programa Saúde da Família (PSF) divide especialistas. Alguns defendem que a medida seja estendida aos demais profissionais da equipe. Outros acreditam que a concessão vai prejudicar a qualidade do atendimento.
"A equipe do PSF deve formar um time. Todos trabalhando integrados. Algo que será muito difícil com dois médicos dividindo as tarefas", disse o consultor em saúde pública Eugenio Vilaça, que prepara um livro sobre a experiência do PSF no Brasil,
Para Vilaça, o programa não precisa de pequenas concessões como a mudança na carga horária e sim de uma radicalização.
"Com a mudança no perfil populacional, a atenção básica deve se voltar cada vez mais para o tratamento de problemas crônicos, como diabetes e hipertensão, em vez de doenças agudas, como diarreias", disse.
Para fazer frente a essa demanda, completou Vilaça, é essencial que as equipes adquiram cada vez mais o caráter multidisciplinar, agregando, por exemplo, profissionais como nutricionistas e fisioterapeutas.
O modelo atual já prevê núcleos de apoio às equipes do PSF com profissionais de diversas áreas. Uma iniciativa que, na avaliação de Vilaça, não é suficiente.
Aconselhamento. "Eles são responsáveis por áreas muito grandes e acabam fazendo um serviço mais de aconselhamento do que de acompanhamento direto. Não é isso que propomos. A ideia é que cada equipe multidisciplinar trabalhe como um time. Funcione 40 horas atendendo diretamente um grupo de pessoas", observou.
Com 17 anos de funcionamento, o PSF coleciona vários indicadores positivos, diz Vilaça. O programa ajudou a reduzir a mortalidade e tem penetração na áreas mais pobres e mais necessitadas. "Mas há problemas a superar. Para isso, é preciso investimento, gerenciamento e capacidade de atender à mudança na demanda", defende Vilaça.
O pediatra Gilson Carvalho também considera que o programa precisa de alterações. Mas, ao contrário de Vilaça, defende que alguns dogmas sejam quebrados, como a carga horária integral. A realidade do País, argumenta, é muito diferente e, por isso, algumas adaptações podem ser feitas.
Carvalho acredita não haver inconvenientes se a mudança for estendida para outras categorias do PSF. "A qualidade do atendimento depende muito mais de outras variáveis como o compromisso e dedicação dos profissionais."
Nenhum comentário:
Postar um comentário