Brasil é o maior consumidor de crack no mundo
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O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Paulo Amarante, participou da última reportagem da série sobre o avanço do crack no Brasil, exibida pelo Jornal Nacional,
na sexta-feira (24/5).
A matéria apresentou um estudo da Universidade
Federal de São Paulo, cujos resultados apontam o Brasil como maior
consumidor de crack do mundo. Na opinião do pesquisador da ENSP, é
necessário constituir uma política regular de estado permanente para
lidar com o usuário.
Confira o texto da reportagem abaixo. Acesse o vídeo aqui.
Brasil é o maior consumidor de crack do mundo, revela estudo da Unifesp
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Brasil é o maior consumidor de crack do mundo, revela estudo da Unifesp
Edição do dia 24/05/2013
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo revelou que o Brasil é o maior consumidor de crack do mundo. Nesta última reportagem da série sobre o avanço da droga pelo país, você vai ver o que pensam os especialistas e as medidas adotadas pelo governo federal.
O homem vê o enteado sendo algemado, em surto, sob o efeito de drogas. Ele mesmo levou o rapaz à delegacia.
“É ver o que a autoridade pode colaborar, o que tem que fazer com ele”, diz o padrasto Reineu Unhaeri, técnico eletricista.
Depois de responder a meia dúzia de perguntas, o jovem foi liberado.
“Eu não posso mais lidar com o usuário como se ele tivesse opção do uso. Uma vez que, após o consumo, ele alimenta toda uma cadeia de criminalidade e aumenta cada vez mais a proliferação do consumo. Então, o consumo de drogas no Brasil não pode ser uma opção. O usuário precisa ser levado à abstinência, queira ou não”, afirma Sérgio Harfouche, promotor e presidente do Conselho Estadual Anti-Drogas - MS.
“A política de encarceramento dos usuários não deu certo. Nós deixamos de entender que isso é um problema só de Segurança Pública e passamos a entender que é um problema de Saúde Pública e afeta a Segurança Pública. É um programa que tem muita capacitação a ser feita, porque nós temos que ter os agentes de saúde, os agentes de assistência, os agentes de segurança trabalhando em conjunto no mesmo local”, aponta Regina Miki, da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Um rapaz, dependente de crack, foi abandonado pela mãe. Mas a avó não desistiu do neto. “Ele falou para mim: ‘Vó, me ajuda. Eu quero ajuda. Se ninguém me ajudar, eu vou até morrer deste jeito’”, conta.
“Como é que se para uma dependência? Se não tiver um mínimo de adesão da pessoa, um mínimo de desejo? Se a questão está crescendo no país, é necessário que se constitua uma política regular de estado permanente onde este serviço seja constituído com um certo planejamento, com consistência, com recursos”, comenta Paulo Amarante, pesquisador da Fiocruz.
É difícil dizer ao certo quantas pessoas usam crack no Brasil. Mas um estudo feito pelo Inpad - ligado à Universidade Federal de São Paulo, estima que um milhão de usuários morem com as famílias.
Segundo os pesquisadores, este número pode dobrar se forem considerados os dependentes que vivem nas ruas. Essa possibilidade revela um cálculo assustador: 1 em cada 95 brasileiros já teria caído na armadilha do crack.
Como aconteceu com a filha da moradora de uma casa visitada pelo Jornal Nacional. A mãe chega a ficar meses sem notícias da jovem, que troca o lar pelas cracolândias.
A mãe conta que tentou internar a filha várias vezes. Chegou a algemá-la em casa, mas foi ameaçada de prisão.
“A delegada falou para mim que a minha filha era maior de idade e que eu não tinha o direito de prender ela em casa. Ou soltava ela ou então eu ia responder a um processo”, conta.
Para estar perto da filha, ela se aproxima dos dependentes. Distribui comida, carinho e faz planos: quer se formar em direito. “Se um dia ela, se um dia ela não estiver mais aqui, se acontecer alguma coisa com ela, eu vou querer ajudar. Eu não vou parar, eu vou ajudar outras mães”, afirma.
“Este é o maior mercado consumidor de crack do mundo. Acho que não tem local, região ou mesmo cidade que esteja imune do acesso do mercado do crack no Brasil. Nós temos aí um amadorismo das políticas federais que é incompatível com a dimensão do problema. A sociedade precisa saber que, se nós continuarmos nesse amadorismo, nós vamos continuar pagando um preço alto com as grávidas usando o crack, com os adolescentes usando o crack e com um custo para as famílias muito grande”, avalia Ronaldo Laranjeira, diretor do Inpad.
Em dezembro de 2011, o governo federal lançou um programa de combate ao crack e anunciou a abertura de mais de 13 mil leitos para usuários de álcool e drogas, em todo o país. A previsão é investir R$ 4 bilhões até 2014. Segundo a Casa Civil da Presidência da República, até agora já foram gastos R$ 1,2 bilhão, 30% do total.
“Nós estamos agindo e usando os dados que estão disponíveis. Nós temos a segurança que existem os dependentes, estamos preocupados com eles e aí estamos montando a rede. À medida que a rede é montada, você detecta a necessidade de ampliação e por aí vai. Ou seja, é um planejamento e uma ação em tempo real, melhorando a assistência”, diz Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde.
“Roubei o cofrinho de moedas da minha filha para comprar crack", conta um usuário.
"É só uma alucinação que dá apenas de dez segundos", diz outro.
"Não quero isso para mim mais não”, afirma um terceiro usuário.
“Não é um problema da mãe do drogado, é um problema de todos. Tem que haver, sim, um trabalho de conscientização, de embate e de extermínio do crack”, aponta Lidiângela Maia, conselheira tutelar de Gravataí.
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