segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

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EPILEPSIA TEM CURA

Epilepsia (epi=de cima e lepsem=abater) palavra originada do grego que significa “algo que vem de cima e abate as pessoas” Um distúrbio elétrico originado no cerebro que provoca crises epilépticas”. Na própria etimologia, a epilepsia foi premiada com um caráter místico, misterioso, religioso e mágico. Para atingir o preconceito que, aliás, sempre ostentou, bastaria um passo. E assim aconteceu, a superstição, a crendice, as idéias infundadas passaram a ser os maiores inimigos do epiléptico.

Continuamente vemos recomendações esdrúxulas ao jovem portador de uma única crise epiléptica, do tipo não pode tomar café, cocacola, não pode dormir tarde, não pode ir para festas, correr, andar de bicicleta, jogar futebol, não pode sair só, não pode tomar banho de mar, piscina etc, é um continuo e irritante, “não pode, não pode e não pode”. “É um saco” ele reage, pois sofreu tão somente uma única crise epileptica e, portanto não pode ser rotulado com portador de epilepsia.

Quando sou procurado por esses adolescentes e seus pais aflitos, eu os acalmo dizendo que nessa faixa etária tudo é possível inclusive o direito de ter até uma crise epiléptica, pois o desgaste é muito grande. Eles namoram demais no mundo físico e virtual na Internet, são pressionados pelos familiares e pela sociedade a desenvolver muitas atividades ao mesmo tempo sejam elas desportivas, escolares (colégio, cursinhos pré-vestibulares, idiomas), artísticas (instrumentos), etc, ufa!.

Para cumprir tudo isso, sobra pouco tempo para dormir e para se alimentar e podem ser vitimas de hipoglicemias levando-os a crises generalizadas tônico-clonicas(CGTC), chamadas convulsões ou crises convulsivas pelos leigos. Em vez de prescrever antiepilépticos (impropriamente chamado de anticonvulsivantes), oriento-os para melhorar sua alimentação e recomendo tomar glicose em forma de mel, quando não tiver tempo para comer na hora certa. Tenho muitos adolescentes tratados de sua "epilepsia" com "MEL". Estamos habituados a ver nos dias de hoje as pessoas evitarem falar na palavra epilepsia, e em seu lugar usarem expressões como “disritmia” “convulsão”, “desmaio”.

Disritmia é um termo genérico que significa literalmente distúrbio do ritmo, seja qual for, cardíaco, intestinal, do sono, cerebral, e até começou a ser usado como sinônimo de distúrbio do comportamento em crianças. Disritmia continua sendo usada erroneamente como sinônimo de epilepsia.

Convulsão ou crise convulsiva também muito empregada errada- mente como sinônimo de epilepsia é apenas um tipo de crise epiléptica quando generalizada, ou seja, quando há uma sucessão de contrações e relaxamentos dos músculos em todo o corpo. Apenas nesta situação se deve chamá-la convulsão, aliás, esta palavra está se transformando num termo mais leigo do que cientifico. As outras crises, cerca de quarenta e nove, não são convulsões, apenas crises epilépticas.

Quando ouvirem falar que alguém teve convulsão e está tomando medicamento, deve ser epilepsia e essa pessoa deve ter sofrido mais de uma crise, porque nós neurologistas só tratamos o nosso paciente com segurança, quando ele apresentou mais de uma crise epiléptica.

Desmaio, é o termo leigo de sincope. As pessoas podem sentir escurecimento da visão, sensação de fraqueza generalizada, suor frio e palidez, e pode até cair ao solo. Não é epilepsia, mas é usado, pelo receio, pelo medo de se falar no nome EPILEPSIA.

O desmaio tem várias causas, pode ser do coração, pode acontecer até por diminuição da taxa de glicose no sangue, ou seja, na hipoglicemia. O cérebro gosta muito de glicose, suportando às vezes taxas altíssimas no sangue e detesta quando sua taxa diminui. Quando isto acontece pode ocorrer uma CGTC.

Epilepsias curáveis na infância

Na infância existem muitas formas de epilepsia capazes de serem curadas às vezes até com facilidade. Citamos como exemplo as epilepsias benignas da infância. Entre estas está a epilepsia parcial benigna da infância com espicula centro-temporal ou rolândica e a epilepsia benigna da infância com paroxismos occipitais.

Apesar dos nomes não há motivo para se assustar, aliás, epilepsia não deveria assustar ninguém.

Na primeira, a criança geralmente em torno dos 9 a 10 anos de idade pode apresentar espasmos ou contrações numa metade da face e se acontecerá noite, pode se tornar generalizada. O Eletrencefalograma (EEG) mostra uma alteração que pode impressionar o medico assistente sem experiência. Mas a regra é que ocorrem em crianças saudáveis sem evidencia de lesão cerebral.

As crises podem desaparecer com o uso de antiepilépticos ou até curar sem eles. Portanto, o prognostico é excelente.

Na segunda, a epilepsia benigna da infância com paroxismos occipitais, as crises são caracterizadas por sintomas visuais do tipo perda parcial ou completa da visão ou outros distúrbios visuais como aqueles que precedem a enxaqueca, seguidos de cefaléia, ocorrendo na criança em torno dos 7 a 8 anos de idade. O EEG também como o anterior pode assustar, mas nada mais que isso.

Podemos citar mais dois tipos benignos: epilepsia mioclânica benigna, uma forma rara, que ocorre em crianças com um ou dois anos de idade e a ausência. Esta é mais conhecida do publico leigo. A crise consiste, como o nome já diz, numa ausência ou desligamento ou “numa parada” durante alguns breves minutos.

As crianças geralmente em idade escolar, entre 6, 7 anos (não existe ausência antes dos 3 anos de idade), ficam como se “estivessem no mundo da lua”, param o que estavam fazendo, seja escrevendo, alimentando-se, falando, etc. As crises tendem a desaparecer às vezes espontaneamente com ou sem tratamento.

A cura através da cirurgia

Tem muita gente tomando medicamento antiepiléptico (impropriamente chamado anticonvulsivante) desnecessariamente, porque não sofrem de epilepsia e sim de um tipo de sincope, por exemplo, ou o contrario, sofre de epilepsia há muitos e muitos anos já tomou diferentes remédios, mas continua a ter crises e já deveria ter sido encaminhada para uma cirurgia.

A epilepsia como já dissemos, tem cura desde que seja diagnosticada corretamente, seja tratada em tempo, com a medicação apropriada e se esta não der resultado, deverá ser avaliada a possibilidade de cirurgia. E bom que todos saibam disso: a cirurgia da epilepsia é uma realidade e esta minorando o sofrimento de muita gente por ai afora. Mas tem uma ressalva: não são todos os pacientes. Cada caso é um caso e tem que ser analisado individualmente.

MARCO AURELIO SMITH FILGUEIRAS
NEUROLOGISTA CRM-P8 1368

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