24/02/2012 23h17 - Atualizado em 28/02/2012 16h28
Mulheres cuidam da saúde de comunidade com produtos naturais
As pesquisas e as comprovações dos benefícios das plantas que as gerações mais antigas já usavam apareceram.
A cura pela natureza. Há mais de 30 anos, o médico naturalista Celerino Carriconde semeia informações e experiências sobre o uso das plantas medicinais. Ele foi um dos pioneiros a defender a fitoterapia nos serviços públicos de saúde. "O preço disso, no começo, foi tentar caçar o meu diploma", diz.
Nada como o tempo, as pesquisas e as comprovações dos benefícios das plantas que as gerações mais antigas já usavam apareceram.
“Por que gastar dinheiro em tanto analgésico e anti-inflamatório se você tem a natureza que pode fazer isso?", reflete o doutor Celerino.
O Centro Nordestino de Medicina Popular espalhou sementes por locais distantes e esquecidos. As hortas e as farmácias populares se multiplicaram por comunidades quilombolas, de pescadores, de agricultores, indígenas e chegaram às periferias das grandes cidades, e ao alcance de quem mais precisa.
O Centro de Saúde Alternativa da Muribeca - um bairro pobre, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife - é mais conhecido como "a casa das sete mulheres". São sete donas de casa da comunidade que se juntaram para contribuir com a melhoria de vida dos moradores da vizinhança.
“Se você pode vir comprar um remédio onde você tem a segurança, tem todos esses cuidados, e você sabe que vai surtir efeito para a sua criança, para você, então isso é importante. Eu acredito que as pessoas valorizam muito por causa disso", comenta a dona de casa Giselda Alves da Silva.
E valorizam mesmo. A clientela está sempre pelo lugar. A produção é diversificada. Entre pomadas, tinturas e xaropes, as donas de casa produzem 40 produtos fitoterápicos. São cerca de 600 unidades por mês. A produção é sazonal. Depende da fase de desenvolvimento das plantas que fornecem as folhas, as flores, as raízes e os frutos - as matérias-primas da farmácia verde. É uma farmácia diferente. Os clientes são conhecidos pelo nome.
A professora Maria de Fátima Galindo sempre aparece em busca de fitoterápicos para ela, parentes e amigos. "Para a família toda. Para o pessoal de Petrolina, de Camaragibe, de Piedade”, diz. “Dá resultado, por isso que eu volto.”
O preço é simbólico. Varia de R$ 2 a R$ 6. O suficiente para manter a horta e a produção.
Kattalinny Garcez está desempregada e faz da casa das sete mulheres o pronto-socorro da família. A filha Luiza, de 3 anos, nunca fica sem o xarope feito a base de xambá, uma planta medicinal.
“Minha filha está entrando agora na fase escolar, então ela vai viver gripada. É um ótimo expectorante. Excelente”, garante.
O chá de amora miúra, que funciona como diurético, também não falta na casa de Kattalliny. Ela toma várias vezes ao dia.
“O resultado você vê de imediato. E tem a gratificação de ser uma coisa natural, um produto natural. O resultado eu não tenho nada de ruim para falar”, afirma.
A dona de casa Claudete Moraes foi em busca de uma multimistura que funciona como uma espécie de reposição hormonal. Leva germe de trigo, leite de soja, semente de linhaça, farinha de aveia e pó de amora. Ela aprovou. "Estou bem melhor, não sinto mais aquele calorão”, comemora.
A reposição hormonal natural é indicada para mulheres que estão na menopausa. As donas de casa foram capacitadas para extrair os princípios ativos das plantas. Em um pequeno laboratório, cercado de todo o cuidado com a higiene, elas produzem os fitoterápicos.
A dona de casa Carmelita Pereira da Silva, de 68 anos, oito filhos, já é craque na preparação de lambedores, tinturas e multimisturas.
"É uma atividade que está me fazendo muito bem. Me realizando como pessoa, com uma coisa que a gente acredita, porque, quando a gente acredita em uma coisa, a gente se sente mais estimulada a fazer", diz.
Na horta, mais cuidados: não entram adubos químicos nem agrotóxicos. A produção é ecologicamente correta. O principal desafio destas mulheres é divulgar a forma correta de usar as plantas medicinais, porque, apesar de o uso ser muito antigo, cada planta tem seus segredos, os seus pequenos mistérios que as diferentes gerações foram descobrindo com o passar do tempo.
"Nós temos que observar a natureza, olhar a planta se ela realmente está sadia, e também tem que ter o horário. Se for uma planta que cheira, por exemplo, a gente tem que tirar logo cedo. Mas tem a questão também do capim santo. Ele cheira, mas a gente só pode tirar ele quando tiver o sol bem forte, porque o princípio ativo dele está mais presente. A planta tem energia como nós. Se ela está amarelinha, se está com alguma deficiência, você não pode colher porque está doente, então o princípio ativo dela não está correto”, explica Giselda Alves da Silva.
O pioneiro na divulgação do poder de cura extraído da natureza não desiste de um sonho: ele espera que um dia os pacientes possam sair dos postos de saúde com os remédios caseiros que as nossas avós já usavam.
“E é barato, eficaz e seguro, gerando renda de forma indireta para população”, diz Celerino Carriconde.
O doutor Celerino, aos 73 anos de idade, é um bom exemplo da medicina que ele defende. "Quero chegar aos 100 anos", ri. "É a minha meta. Por enquanto está tudo bem. Todas as taxas normais. Disposição não falta.”
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