Doença de trabalho
Síndrome de Burnout: uma doença do trabalho
Saiba mais sobre um distúrbio ainda pouco conhecido da população, mas cada vez mais inerente ao ambiente de trabalho.
Não há dados sobre a incidência da Síndrome de Burnout no Brasil, mas
os consultórios médicos e psicológicos registram um constante aumento do
número de pacientes com relatos de sintomas típicos da Síndrome.
O
problema foi identificado em 1974, nos Estados Unidos, pelo pesquisador
Freunderberger, a partir da observação de desgaste no humor e na
motivação de profissionais de saúde com os quais trabalhava.•.
O
termo síndrome de Burnout resultou da junção de burn (queima) e out
(exterior), caracterizando um tipo de estresse ocupacional, durante o
qual a pessoa consome-se física e emocionalmente, resultando em exaustão
e em um comportamento agressivo e irritadiço.
“Boa parte dos
sintomas também é comum em casos de estresse convencional, mas com o
acréscimo da desumanização, que se mostra por atitudes negativas e
grosseiras em relação às pessoas atendidas no ambiente profissional e
que por vezes se estende também aos colegas, amigos e familiares”, é bom
observar que “o problema é sempre relativo ao mundo do trabalho”.
“É importante ressaltar, que a doença atinge pessoas sem antecedentes psicopatológicos”.
A Síndrome afeta especialmente aqueles profissionais obrigados a manter
contato próximo com outros indivíduos e dos quais se espera uma
atitude, no mínimo, solidária com a causa alheia.
É o caso de médicos, enfermeiros, psicólogos, professores, policiais.
“Recentemente, a categoria dos funcionários de companhias aéreas
inseriu-se entre aquelas de alto risco para desenvolver a Síndrome,
devido às pressões intensas e ao desgaste vivido durante a crise dos
atrasos nos horários dos vôos”.
Veja a lista completa das áreas mais estressantes:
1) Tecnologia da Informação;
2) Medicina;
3) Engenharia;
4) Vendas e Marketing;
5) Educação;
6) Finanças;
7) Recursos Humanos;
8) Operações;
9) Produção;
10) Religião.
FONTE: Consultoria SWNS, 2006.
Apesar da associação do distúrbio com o perfil de trabalhadores
já mencionados, ele pode afetar executivos e donas de casa também. Em
comum, os candidatos à Síndrome apresentam uma personalidade com maior
risco para desenvolver Burnout. “Ou seja, são pessoas excessivamente
críticas, muito exigentes consigo mesmas e com os outros e que têm maior
dificuldade para lidar com situações difíceis”.
características individuais que podem incentivar o estabelecimento da
Síndrome: idealismo elevado, excesso de dedicação, alta motivação,
perfeccionismo, rigidez.
“Em geral, são indivíduos que gostam e se
envolvem com o que fazem, não medindo esforços para atingir seus
próprios objetivos e os da instituição em que atuam”.
De “certa
forma, é tudo o que as organizações esperam de um bom profissional”, ou
seja, os ambientes corporativos estimulam, de alguma maneira, esse tipo
de comportamento entre os profissionais, criando condições que podem
predispor ao adoecimento e, na seqüência direta, em licenças médicas e
eventuais afastamentos por longos períodos.
Principais características da Síndrome de Burnout:
SINTOMAS EMOCIONAIS:
avaliação negativa do desempenho profissional, esgotamento, fracasso, impotência, baixa auto-estima.
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS OU TRANSTORNOS PSICOSSOMÁTICOS:
fadiga crônica, dores de cabeça, insônia, úlceras digestivas,
hipertensão arterial, taquicardia, arritmias, perda de peso, dores
musculares e de coluna, alergias, lapsos de memória.
ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS:
maior consumo de café, álcool e remédios, faltas no trabalho, baixo
rendimento pessoal, cinismo, impaciência, sentimento de onipotência e
também de impotência, incapacidade de concentração, depressão, baixa
tolerância à frustração, ímpeto de abandonar o trabalho, comportamento
paranóico (tentativa de suicídio) e/ou agressividade.
É
preciso deixar claro que a Síndrome de Burnout não deve ser confundida
com estresse ou depressão. No primeiro caso, o aparecimento dos sintomas
psicossomáticos (dores de cabeça, insônia, gastrite, diarréia,
alterações menstruais) sugere muito mais um estresse ocupacional
crônico, algo que os estudiosos do assunto definem com tentativa de
adaptação a uma situação claramente desconfortável no trabalho. Em
relação à depressão, chegou-se a cogitar uma sobreposição entre Burnout e
depressão, no entanto, tratam-se de conceitos distintos.
“O que ambos têm em comum é a disforia, o desânimo”.
Todavia, avaliando-se as manifestações clínicas, encontramos nos
depressivos uma maior submissão à letargia e a prevalência aos
sentimentos de culpa e derrota, enquanto nas pessoas com Burnout são
mais marcantes o desapontamento e a tristeza.
A “pessoa que vivencia o Burnout identifica o trabalho como desencadeante deste processo”.
Atenção ao ritmo de trabalho
Na realidade, o ritmo acelerado e as tensões no trabalho existentes atualmente, por si só, não desencadeiam a Síndrome.
“O desgaste com rotinas extenuantes, horas extras e cobranças de
chefias constituem a regra quando o assunto é trabalho nos dias de
hoje”.
O ambiente de trabalho e as condições organizacionais são
fundamentais para que a Síndrome se desenvolva, mas a sua manifestação
depende muito mais da reação individual de cada pessoa frente aos
problemas que surgem na rotina profissional.
A sensação de
inadequação na empresa e o sofrimento psíquico intenso desembocam
geralmente nos sintomas físicos, quando não dá mais para disfarçar a
insatisfação, porque ela afetou a saúde.
O tratamento da Síndrome de Burnout é essencialmente psicoterapêutico.
Mas, em alguns casos, pode-se lançar mão de medicamentos como os
ansiolíticos ou antidepressivos para atenuar a ansiedade e a tensão,
sendo sempre necessária à avaliação e, no caso medicamentoso, a
prescrição feita por um medico especialista.
“No processo
psicoterapêutico, além do enfoque individual para o alívio das
dificuldades sentidas, é necessário à reflexão e um redimensionamento
das atitudes relativas à atividade profissional, objetivos de vida e
cuidados com a auto-estima e com sentimentos mais profundos de
aceitação”.
O mercado financeiro
No mercado financeiro,
ansiedade e agitação são ingredientes do trabalho. Mas, em excesso,
estes componentes podem provocar insônia, variação de peso, exaustão e
falhas de memória - motivos que têm levado esta categoria a procurar
ajuda médica e psicológica.
"Os profissionais do mercado financeiro têm metas muito apertadas, que exigem grande esforço do indivíduo".
O aumento de pacientes vindos do mercado financeiro nos
consultórios médicos e psicológicos é fruto do próprio crescimento do
mercado de capitais brasileiro, com maior volume de negócios e mais
pessoas atuando em bancos, corretoras e gestoras de recursos
. “O
problema surge com mais freqüência entre os novatos neste setor, que
começam a atuar sem a devida preparação e sem o pleno conhecimento dos
mecanismos do mercado de ações”.
“Os mais antigos na profissão estão mais preparados para lidar com a pressão psicológica da atividade que exercem”.
A demanda é maior em momentos de crise no mercado de capitais.
Para estes profissionais, “a terapia serve para mostrar que o universo financeiro não condiz com a realidade fora dele”.
“Através de reflexões, mostramos que o cotidiano não funciona assim, que sem saúde física e mental não se pode fazer nada”.
Hora de parar
No decreto N° 3048/99 que regulamenta a Previdência Social, o
grupo V da Classificação Internacional de Doenças (CID) 10 menciona no
inciso XII a “Síndrome de Burnout, “Síndrome do Esgotamento
Profissional”, também identificada como “Sensação de Estar Acabado”“.
O profissional tem direito a afastar-se uma vez que tenha sido diagnosticada a Síndrome.
“É preciso que as empresas se conscientizem da urgência de reavaliar a
cultura de exigir dos funcionários metas, às vezes, impossíveis para um
ser humano”.
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