Posted: 20 May 2012 04:58 AM PDT
Intolerância ao glúten atrofia a mucosa do intestino e causa diarreia nos casos graves
A doença celíaca é mais comum do
que se imagina: de acordo com os especialistas, muita gente apresenta
algum tipo de intolerância ao glúten, mas sequer desconfia disso. Um
estudo da UNIFESP em doadores de sangue em de São Paulo identificou que
há um celíaco para cada 214 pessoas. O cuidado em identificar e
controlar a doença, adotando uma dieta restritiva, é fundamental.
"Quanto mais cedo o paciente descobre que tem problemas para digerir o
glúten, mais chances terá de levar uma vida saudável", afirma o
gastroenterologista Celso Mirra, da Federação Brasileira de
Gastroenterologia. No Dia Interncional do Celíaco, 20 de maio, ele e
outros especialistas no assunto esclarecem algumas dúvidas sobre a
doença.
1. Após iniciar uma dieta sem glúten, a mucosa do intestino se recupera em quanto tempo?
A
gastroenterologista Vera Lucia Sdepanian, coordenadora do ambulatório
de celíacos da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, afirma que, se o
glúten for totalmente excluído da dieta, o intestino leva de seis meses a
um ano para voltar ao normal. "No entanto, fizemos uma pesquisa e
descobrimos que cerca de 30% dos celíacos não seguem adequadamente a
dieta restritiva", diz a gastroenterologista da Unifesp. Esses deslizes
podem retardar ainda mais o tempo de recuperação da mucosa.
2. A doença celíaca traz complicações apenas para o intestino?
Não,
segundo a gastroenterologista Vera Lucia, uma pessoa que tem a doença e
não segue a restrição ao glúten pode ter riscos maiores de desenvolver
vários problemas: osteoporose, anemia, infertilidade, câncer (tanto no
intestino quanto em outras partes do corpo, como no sistema linfático),
entre outros.
Para evitar esses problemas, o
gastroenterologista Eduardo Berger, do Complexo Hospitalar Edmundo
Vasconcelos, recomenda ter muita disciplina na alimentação. "As
complicações são gravíssimas e todas relacionadas à má nutrição, mas só
ocorrem em pacientes que não se dedicam à dieta livre de glúten", diz.
3. É verdade que alguns medicamentos podem ter glúten?
Sim,
embora sejam poucos. "O paciente só terá problemas quando o medicamento
possuir glúten no excipiente da cápsula (material que dá massa ao
medicamento), mas hoje este ingrediente é pouco usado", afirma o
gastroenterologista Celso Mirra. É importante ficar de olho nos rótulos,
já que as indústrias farmacêuticas são obrigadas por lei a informar na
embalagem a presença de glúten.
4. Com que frequência é preciso realizar exames para verificar a saúde do intestino?
Uma
vez por ano, pelo menos. "É preciso consultar o médico, realizar exames
laboratoriais rotineiros e os testes sanguíneos específicos para doença
celíaca", afirma o gastroenterologista Celso Mirra. A endoscopia e a
biópsia duodenal são exames feitos quando o quadro clínico da doença se
normaliza, em geral após dois anos.
5. Por que a mucosa intestinal é prejudicada?
Eduardo
Berger conta que o paciente com doença celíaca tem imunidade
incompatível com uma proteína presente no glúten chamada gliadina.
"Quando essa proteína é ingerida, uma enzima localizada na mucosa do
intestino chamada transglutaminase atua contra ela, causando uma
resposta imune, ou seja, o próprio organismo forma uma substância
nociva, um autoanticorpo, que atrofia a mucosa intestinal", explica.
6. É possível ter doença celíaca sem manifestar sintomas?
Há
casos em que os sintomas podem ser muito leves e o paciente mal
desconfia que é portador da doença. "O diagnóstico acontece com uma
observação mais rigorosa dos poucos sinais apresentados, como gases,
irregularidade, ainda que discreta, do hábito intestinal e perda de peso
pouco significativa", afirma o gastroenterologista Eduardo. Sempre que
há suspeita, o médico também deve pesquisar os autoanticorpos
específicos da doença a partir de um exame de sangue.
7. Algumas pessoas podem manifestar a doença só na fase adulta
Sim,
apesar de aparecer mais em crianças, a doença pode afetar qualquer
idade. Segundo Eduardo Berger, o motivo de algumas pessoas só
descobrirem na fase adulta pode ser a presença de poucos sintomas
durante anos. "Isso faz com que o diagnóstico seja, muitas vezes, feito
apenas na idade adulta, aumentando o risco de complicações", afirma.
8. Além da restrição ao glúten, é preciso tomar suplementação
Em
alguns casos, sim. A suplementação costuma ser necessária quando o
paciente demora muito para descobrir a doença ou não segue rigorosamente
uma dieta sem glúten. Nesses dois casos, a mucosa do intestino estará
tão atrofiada que terá dificuldades de absorver nutrientes. "O paciente
pode não conseguir absorver, principalmente, as vitaminas B9 (ácido
fólico), B12, D, K e os minerais cálcio e ferro", afirma Celso Mirra.
A falta desses nutrientes pode provocar anemia, osteoporose,
problemas de coagulação do sangue, entre outros problemas. "A
suplementação, no entanto, precisa sempre ser feita com acompanhamento
médico ou nutricional", afirma Eduardo Berger.
9. A doença celíaca é hereditária
Sim.
Vera Lucia Sdepanian explica que, para manifestar a intolerância ao
glúten, você deve apresentar predisposição genética. "Se isso não
acontece, há chance mínima de desenvolver a doença e com uma intensidade
pequena", conta a gastroenterologista. "A proporção encontrada em
estudos é de que 6% dos familiares de primeiro grau de uma pessoa com a
doença também possuem a intolerância."
10. Mesmo uma quantidade mínima de glúten pode desencadear complicações
Dependendo
da intensidade da doença, sim. "Há pessoas com doença celíaca que, se
usarem a mesma faca que outra pessoa usou para passar geleia no pão de
trigo, por exemplo, podem ter uma diarreia",
afirma o nutrólogo Andrea Bottoni, coordenador da equipe de nutrologia
do Hospital Villa Lobos. Por isso, é essencial ter o cuidado de evitar
qualquer ingestão de glúten.
Fonte Minha Vida
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