terça-feira, 29 de novembro de 2011

Alcoolismo pode estar ligado a causas genéticas


Alcoolismo pode estar ligado a causas genéticas

Abuso de bebidas alcoólicas é mais perigoso para algumas pessoas

Escrito por: Arthur Guerra

O consumo de álcool está associado a mais de 60 tipos de doenças e lesões e é responsável por 4% das mortes no mundo e 4,5% da carga global de doenças. A morbimortalidade associada ao uso de álcool é causada não só pela dependência, mas, em grande parte, pela quantidade e padrão de uso dessa substância.

As diferenças no consumo de bebidas alcoólicas são um reflexo da grande variabilidade do estilo de vida, comportamento e normas sociais que influenciam o beber. Além disso, cerca de 40% dos riscos de desenvolver um transtorno relacionado ao uso de álcool (abuso ou dependência) podem ser explicados pela genética. Sabe-se também que a influência dos fatores genéticos sobre o uso de álcool aumenta gradualmente à medida que os indivíduos envelhecem.

40% dos riscos de desenvolver um transtorno relacionado ao uso de álcool (abuso ou dependência) podem ser explicados pela genética

A hereditariedade para o comportamento de beber, bem como para o abuso e a dependência, é complexa e indica o envolvimento de múltiplos genes, cada um contribuindo para aspectos distintos. A base genética relacionada a este comportamento, em humanos, ainda é pouco conhecida, apesar de sua importância clínica e social.

Por isso, acredito na relevância de divulgar estudos dessa área. Por isso, compartilho dados de um estudo muito interessante, que buscou identificar os mecanismos genéticos associados ao consumo de álcool.

O estudo analisou a associação entre o genoma de 26.316 indivíduos, provenientes de 12 populações de descendência européia, e o consumo individual de álcool (gramas por dia e peso corporal). A mesma análise foi replicada em outros 21.607 consumidores de álcool. Os abstêmios foram excluídos deste estudo porque eles podem não beber por questões culturais, sociais ou de saúde, como por problemas decorrentes do uso de álcool.

Os resultados indicam que o gene AUTS2 (candidato 2 para susceptibilidade ao autismo) esteve significativamente associado ao consumo de álcool. Dos dois alelos (versões ou formas alternativas do mesmo gene) do AUTS2, um é três vezes mais comum do que o outro, sendo que os indivíduos com a forma menos comum bebem, em média, 5,5% menos álcool do que as pessoas com a forma mais comum. O AUTS2 foi localizado no córtex pré-frontal de 96 amostras humanas (post mortem), região do cérebro associada com mecanismos de recompensa neurofisiológicas.

Em seguida, foram realizados estudos funcionais em modelos animais. Diferenças significativas nos níveis de AUTS2 foram observadas entre camundongos cujo consumo voluntário de álcool era reconhecidamente alto e aqueles cujo consumo era baixo. Sendo assim, este estudo identificou o gene AUTS2 como potencial regulador da ingestão de álcool. Embora a função do AUTS2 não seja ainda conhecida, está associado a uma proteína primeiramente descrita no contexto do autismo e retardo mental.

Recentemente, este mesmo gene foi associado ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o qual está relacionado a um consumo aumentado de bebidas alcoólicas. Estudos anteriores já haviam mostrado que o AUTS2 está presente em neurônios dopaminérgicos estriatais envolvidos no mecanismo de recompensa e neurônios frontocorticais GABAérgicos e glutamatérgicos que influenciam a sensibilidade ao álcool e a impulsividade.

A descoberta desse gene com potencial função reguladora no consumo de álcool acrescenta mais uma peça na compreensão dos mecanismos genéticos que influenciam o consumo de bebidas alcoólicas, o que contribui muito para nossa área de dependência química.

Referência Schumann G, Coin LJ, Elliott P, et al. Genome-wide association and genetic functional studies identify autism susceptibility candidate 2 gene (AUTS2) in the regulation of alcohol consumption. PNAS, vol. 108 (17):7119?7124, 2011.

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