quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Congresso Brasileiro de Hepatologia

Segundo pesquisa nacional, brasileiro desconhece a hepatite C

Pesquisa realizada com 1.137 pessoas mostra desinformação tanto de pacientes como de médicos e falta de estrutura para o tratamento da doença

Natalia Cuminale, de Salvador
Hepatite: a doença é caracterizada por uma inflamação do fígado, que pode ser causada por infecções (virais, bactérias), pelo uso de álcool, de medicamentos e de drogas ou por doenças hereditárias ou autoimunes

Hepatite: a doença é caracterizada por uma inflamação do fígado, que pode ser causada por infecções (virais, bactérias), pelo uso de álcool, de medicamentos e de drogas ou por doenças hereditárias ou autoimunes (Thinkstock)

O brasileiro desconhece a hepatite C e tem uma percepção errada sobre a doença, segundo revela pesquisa divulgada nesta terça-feira durante o Congresso Brasileiro de Hepatologia, em Salvador. De acordo com os dados, levantados pelo Instituto Datafolha, 51% dos brasileiros não sabem dizer espontaneamente o que é hepatite C. O estudo mostra ainda que 86% dos entrevistados concordam que a maioria das pessoas desconhece a doença e seus efeitos.

Grupos de risco de hepatite C

Saiba quem deve fazer o teste para detectar a doença:


  1. • Quem recebeu transplante de órgãos ou tecidos, além de doadores de esperma, óvulos ou medula óssea
  2. • Pessoas que receberam transfusão de sangue antes de 1994
  3. • Doentes renais em hemodiálise
  4. • Pessoas que usam ou usaram drogas injetáveis ou cocaína inalada
  5. • Quem utilizou medicamentos intravenosos nas décadas de 1970 e 1980
  6. • Portadores do vírus HIV
  7. • Filhos de mães contaminadas com hepatite C
  8. • Pessoas que tenham feito tatuagens ou piercings em locais não seguros

A falta de informação fica clara quando 24% das pessoas pesquisadas disseram conhecer uma vacina contra a hepatite C e 7% dos entrevistados afirmaram já terem sido vacinados contra a doença - desconhecendo o fato de que não existe imunização. Atualmente, somente as hepatites A e B possuem vacina.

Médico tira dúvidas, em vídeo, sobre a hepatite C

De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, dois milhões de brasileiros têm a doença, responsável por mais de 70% das mortes entre todos os tipos de hepatites ocorridas na última década no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a hepatite C foi responsável por 14.873 mortes nos últimos dez anos.

A pesquisa, realizada pelo Instituto Datafolha, investigou qual a percepção da doença em 11 cidades brasileiras. As cidades pesquisadas foram: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Campinas. No total, foram ouvidas 1.137 pessoas, com mais de 18 anos, pertencentes a todas classes econômicas. A pesquisa foi realizada entre 8 e 10 de junho.

Teste — Apesar de 62% dos entrevistados acreditarem que a hepatite C é uma doença altamente contagiosa, 84% deles disseram nunca terem feito um teste para detecção da hepatite. "O teste deveria ser solicitado por qualquer médico, mas não é o que acontece", diz Raymundo Paraná, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, segundo ele, 85% dos municípios não têm centro de referência para o tratamento de hepatites virais e falta informação correta sobre a doença.

O sintoma mais citado, segundo a pesquisa, é a cor amarelada da pele e dos olhos (19%). Paraná explica que essa é uma visão equivocada das pessoas, já que nem sempre esse sintoma aparece em pacientes com hepatite C. Do total, 21% das pessoas associam a relação sexual como uma das principais formas de contágio da doença - outros fatores como transfusão de sangue, uso de seringa não descartável e instrumento de tatuagem ou piercing não esterelizado são mais importantes.

Em geral, a hepatite C não se manifesta de forma grave e a pessoa infectada não apresenta sintomas durante muitos anos. Sabe-se que é uma doença que evolui de forma lenta: em média, leva-se 20 anos para o aparecimento das consequências e a progressão é pior em pessoas obesas e dependentes de álcool. Cerca de 20% dos pacientes podem desenvolver cirrose e câncer de fígado. "É uma doença silenciosa que demora décadas para ser diagnosticada", diz Paraná. "Não devemos procurar por sintomas, a prevenção tem que ser feita a partir de rastreamento".

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