Unifesp conclui o maior acervo mundial de doenças musculares
Após 28 anos, o trabalho rendeu à sociedade médica mundial um acesso ilimitado a informações sobre o comportamento do músculo
No final de abril, o Laboratório Neuromuscular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou a biópsia de nº 10.000, todas com estudos histoquímicos, e se tornou o maior acervo do mundo de doenças musculares.
O marco foi concluído, após um trabalho de 28 anos, e rendeu à sociedade médica mundial um acesso ilimitado a informações sobre o comportamento do músculo e sua degeneração. " Foi com a ajuda desse acervo que inúmeros trabalhos científicos foram publicados, contribuindo para alterar os rumos da ciência" , afirma Beny Schmidt, chefe do Laboratório Neuromuscular e professor adjunto da disciplina de Patologia Cirúrgica da universidade.
Entre as contribuições dos trabalhos desenvolvidos pela equipe dirigida por ele na instituição, em especial com o neurologista e chefe do Ambulatório de Neuromuscular da instituição, Acary Souza Bulle de Oliveira, Schmidt cita a descoberta da existência de DNA fora do núcleo das células e as doenças originadas dentro das mitocôndrias estruturas internas das células que são responsáveis pela conversão do alimento em energia. " Dessa forma, centenas de doenças das quais não se sabia qual era a patogenia, pode-se concluir que se tratava de alterações desses mesmos genes mitocondriais" , explica.
Esses trabalhos foram fundamentais para o desenvolvimento das pesquisas em células-tronco e, consequentemente, a terapia gênica; os efeitos do vírus da Aids no sistema nervoso central (neurotropismo) e a explicação da rápida perda muscular desses pacientes; a técnica da genética reversa estudo funcional de um gene que começa com a seqüência do gene, em vez de um fenótipo mutante , também foram marcos desse trabalho.
No laboratório de 20 m², Schmidt ajudou a localizar, dentro da célula muscular, a proteína indispensável para o bom funcionamento do músculo esquelético a distrofina e buscar métodos que pudessem melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com Distrofia Muscular de Duchenne, forma mais severa e mais comum das distrofias musculares.
Surgimento de uma nova profissão
Entender o comportamento dos músculos, bem como sua degeneração, não apenas abriu caminhos para tratamentos de doenças graves, como também favoreceu a criação de estratégias para melhorar o desempenho de atletas olímpicos e paraolímpicos, criando uma nova profissão no mercado de trabalho: o de Fisiologista do Esporte.
Em 1986, Schmidt e profissionais da disciplina de Fisiologia do Exercício da UNIFESP foram responsáveis para criar o primeiro centro de treinamento esportivo específico para trabalhar, individualmente, o fortalecimento muscular dos atletas dentro do São Paulo Futebol Clube. " Hoje, todo grande time de futebol possui um fisiologista do esporte" , afirma o pesquisador. " Em breve, introduziremos a patologia muscular no quadro de multidisciplinaridade do esporte no intuito de proteger cada vez mais os jovens atletas de lesões musculares" .
Foi nesse contexto de pesquisa e assistência que nasceu duas das mais importantes associações neurológicas do país: a ABrELA - Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica - e a Associação Brasileira de Síndrome Pós-Poliomielite, ambas com sede no Ambulatório Neuromuscular da UNIFESP, e responsáveis por buscar recursos e direitos que tornem a vida dos pacientes com ELA e com Síndrome Pós-poliomielite melhor e mais digna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário