quinta-feira, 15 de março de 2012

Basta!

Epilepsia: é hora de dar um basta no preconceito

#voceeosus | Maria Emília: Estão gravados no Inconsciente Coletivo há 2012 anos preconceitos relacionados às pessoas portadoras de doenças como a Epilepsia. É nosso dever derrubar estes preconceitos e estigmas que nos atrapalham há tanto tempo.

Para tanto, é indispensável esclarecer a população que a maioria dos 120 tipos de Epilepsia, desde 10 segundos até 30 minutos de inconsciência, é neurológica e tratável com medicações. Pouquíssimas têm viés psiquiátrico.

Não fazer esta distinção é um equívoco, visto que a Epilepsia, em grande parte dos casos, é adquirida: traumatismo crânio encefálico, acidente vascular cerebral (A.V.C), ovo de solitária calcificado (neurocisticercicose), bala perdida, aneurisma cerebral mal sucedido, além das pseudo Epilepsias como a hipoglicemia causada por problemas no pâncreas. Isso porquê toda e qualquer patologia que curse em lesão estrutural do córtex cerebral tem potencial epileptogênico, podendo levar a um quadro de epilepsia secundária. Poucas são congênitas ou genéticas

O preconceito dificulta o acesso das pessoas que convivem com a Epilepsia ao mercado de trabalho. Ainda há receio de boa parte dos contratantes em admitir pessoas como a gente. Às vezes, sem ao menos se interessar em saber o grau da doença, das crises, do controle feito por meio de medicação. Você acaba sendo obrigado a fazer bicos sem registro em carteira ou, na melhor das hipóteses, precisa passar num concurso público.

A Epilepsia é tratada pela sociedade brasileira como uma doença de conveniências: quando convém (ninguém quer assumir a responsabilidade) você é tratada como uma pessoa saudabilíssima. Mas quando o preconceito vir à tona você não pode por ser doente.

A propósito, existe um curta metragem gravado em 1986 porque um psiquiatra não concordava com os métodos adotados para tratar os chamados loucos tendo como título “Passageiros de 2ª Classe”. O cineasta, colega do psiquiatra, só não sabia que ele iria gravar o depoimento de três pessoas que conviviam com Epilepsia, o que culminou com o “Programa De Volta para Casa” do Governo Federal.

Se você ouve todo dia o seu vizinho que convive com uma pessoa com epilepsia dizer que ela é louca, inútil, incompetente, ela não sai na rua, não tem amigos porque é trancada em casa, o que você acha que ela é? Uma louca.

Mas quando você vê esta pessoa, percebe que ela só precisa de oportunidade (e não de caridade). Você viraria as costas para ela ou daria uma oportunidade para vê-la crescer?

Nós que convivemos com a Epilepsia só precisamos de oportunidades; afinal, também temos remédios para comprar, contas a pagar, viagens para fazer e não vivemos de brisa. Precisamos nos alimentar como qualquer pessoa. Aliás, dos 120 tipos, só 5 são aposentáveis a saber: os três que aliados a Epilepsia existe também um atraso mental, ou paralisia cerebral grave, ou paralisia e atraso mental juntos; e os 2 tipos em que a pessoa tem mais de 20 minutos de crise duas a três vezes por dia. E os 115 restantes: virem-se!

“A Epilepsia não é contagiosa; contagioso é o preconceito.”

Sobre a autora
Maria Emília Destro Panini Tessari é coordenadora do Movimento de Apoio ao Paciente com Epilepsia de Limeira/SP e integrante da Federação Brasileira das Associações e Grupos de Apoio ao Paciente com Epilepsia – EPIBRASIL e contribuiu espontaneamente com a seção Você e o SUS* do Blog da Saúde após ler a matéria “Ministério da Saúde ressalta importância do diagnóstico e tratamento” publicada aqui no dia 9 de fevereiro deste ano.

Epilepsia no SUS: O Sistema Único de Saúde – SUS presta assistência e fornece medicamentos para tratamento aos portadores de Epilepsia. Para a solicitação desses medicamentos, o paciente ou seu responsável deve efetuar cadastro em estabelecimentos de saúde vinculados as unidades públicas designados pelos gestores estaduais. Entenda o processo.

*Este espaço é colaborativo, reservado para a promoção da saúde. As ideias e opiniões expostas nos artigos são de responsabilidade única dos seus autores e não refletem a opinião do Ministério da Saúde. O conteúdo é avaliado de acordo com a Política de Moderação do Blog da Saúde. Para contribuir, envie e-mail para blog@saude.gov.br.

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