Estímulos sensoriais de ambientes e atividades físicas e ocupacionais ajudam dependentes a fugir de recaídas
Publicado em setembro 13, 2011 por HC
Ambiente influi em chances de recaída de dependentes químicos
Estudo do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP revela que as atividades e o ambiente que usuários de drogas frequentam podem influenciar na possibilidade de recaídas. De acordo com o biólogo André Veloso Lima Rueda, as memórias que determinado local carrega influem no desejo do consumo da droga e, por consequência, na recaída do paciente.
Segundo ele, “o uso de drogas leva a alterações duradouras no cérebro. Entre as alterações está a sensibilização comportamental, que permeia a dependência”. Acredita-se que em função disso, apesar de o dependente não sofrer mais com os sintomas da abstinência após deixar de consumir a droga, ele ainda pode apresentar desejo por ela.
Contudo, testes com camundongos revelaram que condições ambientais e as atividades ocupacionais são capazes de diminuir alterações relacionadas a este desejo e, possivelmente, contribuir para melhorar a qualidade de vida do dependente. “Os testes comprovaram que o animal que estava exposto a diferentes estímulos, sensoriais e motores, sofreu modificações de comportamento e no sistema nervoso que se contrapõem às promovidas pelo tratamento com a droga.” Os animais que possuíam a possibilidade de realizar atividades físicas tiveram a sensibilização comportamental ao etanol inibida.
Gostar, querer e necessitar
Um efeito comum entre as drogas é a alteração de funções cerebrais, que normalmente geram prazer ou causam vício. O caminho para a dependência química, segundo Rueda, está relacionado ao gostar, em primeiro lugar, depois ao desejo de consumir a droga (querer) e, por último, à dependência química (necessitar).
“Uma vez que a pessoa já desenvolveu a dependência e depois parou de fazer uso da droga, o desejo permanece e é alimentado por estímulos sensoriais ligados à droga. Por isso, manipulações ambientais poderiam ajudar a diminuir as possibilidades de recaída”, ressalta.
De acordo com ele, atividades que geram prazer para o dependente poderiam auxiliar a diminuir o valor do incentivo associado ao uso da droga. Atividades esportivas, terapia e atividades profissionais que envolvam valores motivacionais são extremamente importantes para a qualidade de vida de um dependente recuperado.
“Ao invés de um dependente químico de etanol beber whisky religiosamente às 17 horas, como fazia antes, agora ele pode jogar futebol com os amigos. É preciso quebrar com hábitos que gerem recaídas e trocá-los por outras atividades que proporcionem prazer para a pessoa”, exemplifica o pesquisador.
Experimento
Os experimentos avaliaram a atividade locomotora de dois grupos de camundongos criados em ambientes distintos. Posteriormente, associou-se o nível de atividade motora com o ambiente e com o efeito e a dependência da droga.
No primeiro experimento, os camundongos receberam injeções de etanol durante 15 dias consecutivos, e foram testados após uma semana sem receber injeções. Os grupos foram mantidos em caixas vazias (condições padrão de laboratório) ou em caixas com brinquedos, para estimular as atividades físicas, interações sociais e parâmetros cognitivos dos animais durante todo o tratamento com a droga.
Após isso, constatou-se que o grupo que ficou em uma caixa vazia andou mais, ou seja, desenvolveu sensibilização comportamental, embora já conhecesse o local e mesmo após uma semana sem receber injeções, o que constata que as alterações cerebrais da droga são duradouras.
Em contrapartida, quando estavam na caixa com brinquedos, os camundongos não apresentaram o aumento na locomoção característico da sensibilização. Em um segundo experimento, os grupos foram mantidos nas condições padrão e só foram expostos ao ambiente enriquecido durante a semana em que não receberam o tratamento com a droga. Nesses animais ocorreu a reversão da sensibilização comportamental que havia se desenvolvido. Isso indica que os efeitos pós-abstinência se mostraram menos agressivos em animais que realizavam atividades físicas e possuíam formas de distração e sociabilidade.
Mais informações: avlrueda@gmail.com
Reportagem de Marcelo Pellegrini, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/09/2011
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