PORTARIA Nº 1.823, DE 23 DE AGOSTO DE 2012
Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
O MINISTRO DO ESTADO DA SAÚDE, no uso da atribuição que lhe confere o inciso II do parágrafo único art. 87 da Constituição, e
Considerando
que compete ao Sistema Único de Saúde (SUS) a execução das ações de
saúde do trabalhador, conforme determina a Constituição Federal;
Considerando
o papel do Ministério da Saúde de coordenar nacionalmente a política de
saúde do trabalhador, conforme o disposto no inciso V do art. 16 da Lei
nº 8.080, de 19 de setembro de 1990;
Considerando
o alinhamento entre a política de saúde do trabalhador e a Política
Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST), instituída por meio
do Decreto nº 7.602, de 7 de novembro de 2011;
Considerando a necessidade de implementação de ações de saúde do trabalhador em todos os níveis de atenção do SUS; e
Considerando
a necessidade da definição dos princípios, das diretrizes e das
estratégias a serem observados nas três esferas de gestão do SUS no que
se refere à saúde do trabalhador, resolve:
Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
Art.
2º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem
como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a
serem observados pelas três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde
(SUS), para o desenvolvimento da atenção integral à saúde do
trabalhador, com ênfase na vigilância, visando a promoção e a proteção
da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente
dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.
Art.
3º Todos os trabalhadores, homens e mulheres, independentemente de sua
localização, urbana ou rural, de sua forma de inserção no mercado de
trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público ou
privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativados,
aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou desempregado são sujeitos
desta Política.
Parágrafo
único. A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
alinha-se com o conjunto de políticas de saúde no âmbito do SUS,
considerando a transversalidade das ações de saúde do trabalhador e o
trabalho como um dos determinantes do processo saúde-doença.
Art.4º
Além do disposto nesta Portaria, a Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora reger-se-á, de forma complementar, pelos
elementos informativos constantes do Anexo I a esta Portaria.
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES
Art. 5º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora observará os seguintes princípios e diretrizes:
I - universalidade;
II - integralidade;
III - participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social;
IV - descentralização;
V - hierarquização;
VI - equidade; e
VII - precaução.
Art.
6º Para fins de implementação da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora, dever-se-á considerar a articulação
entre:
I
- as ações individuais, de assistência e de recuperação dos agravos,
com ações coletivas, de promoção, de prevenção, de vigilância dos
ambientes, processos e atividades de trabalho, e de intervenção sobre os
fatores determinantes da saúde dos trabalhadores;
II - as ações de planejamento e avaliação com as práticas de saúde; e
III
- o conhecimento técnico e os saberes, experiências e subjetividade dos
trabalhadores e destes com as respectivas práticas institucionais.
Parágrafo
único. A realização da articulação tratada neste artigo requer mudanças
substanciais nos processos de trabalho em saúde, na organização da rede
de atenção e na atuação multiprofissional e interdisciplinar, que
contemplem a complexidade das relações trabalho-saúde.
Art.
7º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora deverá
contemplar todos os trabalhadores priorizando, entretanto, pessoas e
grupos em situação de maior vulnerabilidade, como aqueles inseridos em
atividades ou em relações informais e precárias de trabalho, em
atividades de maior risco para a saúde, submetidos a formas nocivas de
discriminação, ou ao trabalho infantil, na perspectiva de superar
desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na atenção.
Parágrafo
único. As pessoas e os grupos vulneráveis de que trata o "caput" devem
ser identificados e definidos a partir da análise da situação de saúde
local e regional e da discussão com a comunidade, trabalhadores e outros
atores sociais de interesse à saúde dos trabalhadores, considerando-se
suas especificidades e singularidades culturais e sociais.
CAPÍTULO II
DOS OBJETIVOS
Art. 8º São objetivos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora:
I
- fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) e a
integração com os demais componentes da Vigilância em Saúde, o que
pressupõe:
a)
identificação das atividades produtivas da população trabalhadora e das
situações de risco à saúde dos trabalhadores no território;
b) identificação das necessidades, demandas e problemas de saúde dos trabalhadores no território;
c) realização da análise da situação de saúde dos trabalhadores;
d) intervenção nos processos e ambientes de trabalho;
e) produção de tecnologias de intervenção, de avaliação e de monitoramento das ações de VISAT;
f)
controle e avaliação da qualidade dos serviços e programas de saúde do
trabalhador, nas instituições e empresas públicas e privadas;
g) produção de protocolos, de normas técnicas e regulamentares; e
h) participação dos trabalhadores e suas organizações;
II - promover a saúde e ambientes e processos de trabalhos saudáveis, o que pressupõe:
a) estabelecimento e adoção de parâmetros protetores da saúde dos trabalhadores nos ambientes e processos de trabalho;
b)
fortalecimento e articulação das ações de vigilância em saúde,
identificando os fatores de risco ambiental, com intervenções tanto nos
ambientes e processos de trabalho, como no entorno, tendo em vista a
qualidade de vida dos trabalhadores e da população circunvizinha;
c)
representação do setor saúde/saúde do trabalhador nos fóruns e
instâncias de formulação de políticas setoriais e intersetoriais e às
relativas ao desenvolvimento econômico e social;
d)
inserção, acompanhamento e avaliação de indicadores de saúde dos
trabalhadores e das populações circunvizinhas nos processos de
licenciamento e nos estudos de impacto ambiental;
e)
inclusão de parâmetros de proteção à saúde dos trabalhadores e de
manutenção de ambientes de trabalho saudáveis nos processos de concessão
de incentivos ao desenvolvimento, nos mecanismos de fomento e outros
incentivos específicos;
f) contribuição na identificação e erradicação de situações análogas ao trabalho escravo;
g) contribuição na identificação e erradicação de trabalho infantil e na proteção do trabalho do adolescente; e
h) desenvolvimento de estratégias e ações de comunicação de risco e de educação ambiental e em saúde do trabalhador;
III
- garantir a integralidade na atenção à saúde do trabalhador, que
pressupõe a inserção de ações de saúde do trabalhador em todas as
instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS, mediante
articulação e construção conjunta de protocolos, linhas de
cuidado
e matriciamento da saúde do trabalhador na assistência e nas
estratégias e dispositivos de organização e fluxos da rede, considerando
os seguintes componentes:
a) atenção primária em saúde;
b) atenção especializada, incluindo serviços de reabilitação;
c) atenção pré-hospitalar, de urgência e emergência, e hospitalar;
d) rede de laboratórios e de serviços de apoio diagnóstico;
e) assistência farmacêutica;
f) sistemas de informações em saúde;
g) sistema de regulação do acesso;
h) sistema de planejamento, monitoramento e avaliação das ações;
i) sistema de auditoria; e
j) promoção e vigilância à saúde, incluindo a vigilância à saúde do trabalhador;
IV
- ampliar o entendimento de que de que a saúde do trabalhador deve ser
concebida como uma ação transversal, devendo a relação saúde-trabalho
ser identificada em todos os pontos e instâncias da rede de atenção;
V
- incorporar a categoria trabalho como determinante do processo
saúde-doença dos indivíduos e da coletividade, incluindo-a nas análises
de situação de saúde e nas ações de promoção em saúde;
VI
- assegurar que a identificação da situação do trabalho dos usuários
seja considerada nas ações e serviços de saúde do SUS e que a atividade
de trabalho realizada pelas pessoas, com as suas possíveis conseqüências
para a saúde, seja considerada no momento de cada intervenção em saúde;
e
VII - assegurar a qualidade da atenção à saúde do trabalhador usuário do SUS.
CAPÍTULO III
DAS ESTRATÉGIAS
Art. 9º São estratégias da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora:
I
- integração da Vigilância em Saúde do Trabalhador com os demais
componentes da Vigilância em Saúde e com a Atenção Primária em Saúde, o
que pressupõe:
a)
planejamento conjunto entre as vigilâncias, com eleição de prioridades
comuns para atuação integrada, com base na análise da situação de saúde
dos trabalhadores e da população em geral, e no mapeamento das
atividades produtivas e com potencial impacto ambiental no território;
b)
produção conjunta de protocolos, normas técnicas e atos normativos, com
harmonização de parâmetros e indicadores, para orientação aos Estados e
Municípios no desenvolvimento das ações de vigilância, e especialmente
como referência para os processos de pactuação entre as três esferas de
gestão do SUS;
c)
harmonização e, sempre que possível, unificação dos instrumentos de
registro e notificação de agravos e eventos de interesse comum aos
componentes da vigilância;
d)
incorporação dos agravos relacionados ao trabalho, definidos como
prioritários para fins de vigilância, nas listagens de agravos de
notificação compulsória, nos âmbitos nacional, estaduais e municipais,
seguindo a mesma lógica e fluxos dos demais;
e) proposição e produção de indicadores conjuntos para monitoramento e avaliação da situação de saúde;
f)
formação e manutenção de grupos de trabalho integrados para
investigação de surtos e eventos inusitados e de investigação de
situações de saúde decorrentes de potenciais impactos ambientais de
processos e atividades produtivas nos territórios, envolvendo as
vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental, saúde do
trabalhador e rede de laboratórios de saúde pública;
g)
produção conjunta de metodologias de ação, de investigação, de
tecnologias de intervenção, de avaliação e de monitoramento das ações de
vigilância nos ambientes e situações epidemiológicas;
h)
incorporação, pelas equipes de vigilância sanitária dos Estados e
Municípios, de ráticas de avaliação, controle e vigilância dos riscos
ocupacionais nas empresas e estabelecimentos, observando as atividades
produtivas presentes no território;
i)
investimentos na qualificação e capacitação integradas das equipes dos
diversos componentes da vigilância em saúde, com incorporação de
conteúdos específicos, comuns e afins, nos processos formativos e nas
estratégias de educação permanente de todos os componentes da Vigilância
em Saúde;
j)
investimentos na ampliação da capacidade técnica e nas mudanças das
práticas das equipes das vigilâncias, especialmente para atuação no
apoio matricial às equipes de referência dos municípios;
k)
participação conjunta nas estratégias, fóruns e instâncias de produção,
divulgação, difusão e comunicação de informações em saúde;
l)
estímulo à participação dos trabalhadores e suas organizações, sempre
que pertinente, no acompanhamento das ações de vigilância
epidemiológica, sanitária e em saúde ambiental, além das ações
específicas de VISAT; e
m)
atualização e ou revisão dos códigos de saúde, com inserção de
disposições sobre a vigilância em saúde do trabalhador e atribuição da
competência de autoridade sanitária às equipes de vigilância em saúde do
trabalhador, nos Estados e Municípios;
II - análise do perfil produtivo e da situação de saúde dos trabalhadores, o que pressupõe:
a)
identificação das atividades produtivas e do perfil da população
trabalhadora no território em conjunto com a atenção primária em saúde e
os setores da Vigilância em Saúde;
b) implementação da rede de informações em saúde do trabalhador;
c) definição de elenco de indicadores prioritários para análise e monitoramento;
d)
definição do elenco de agravos relacionados ao trabalho de notificação
compulsória e de investigação obrigatória e inclusão no elenco de
prioridades, nas três esferas de gestão do SUS;
e) revisão periódica da lista de doenças relacionadas ao trabalho;
f)
realização de estudos e análises que identifiquem e possibilitem a
compreensão dos problemas de saúde dos trabalhadores e o comportamento
dos principais indicadores de saúde;
g) estruturação das estratégias e processos de difusão e comunicação das informações;
h)
garantia, na identificação do trabalhador, do registro de sua ocupação,
ramo de atividade econômica e tipo de vínculo nos seguintes sistemas e
fontes de informação em saúde, aproveitando todos os contatos do/a
trabalhador/a com o sistema de saúde:
1. Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM);
2. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIHSUS);
3. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan);
4. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIASUS);
5. Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB);
6. Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP); e
7. Registros de Câncer de Base Hospitalar (RCBH);
i) articulação e sistematização das informações das demais bases de dados de interesse à saúde do trabalhador, como:
1. Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS);
2. Sistema Único de Benefícios (SUB);
3. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS);
4. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED);
5. Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT);
6. Troca de Informação em Saúde Suplementar (TISS); e
7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
8.
outros sistemas de informações dos órgãos e setores de planejamento, da
agricultura, do meio ambiente, da segurança pública, do trânsito, da
indústria, comércio e mineração, das empresas, dos sindicatos de
trabalhadores, entre outras;
j)
gestão junto a essas instituições para acesso às bases de dados de
forma desagregada, conforme necessidades da produção da análise da
situação de saúde nos diversos níveis territoriais;
k)
produção e divulgação, periódicas, com acesso ao público em geral, de
análises de situação de saúde, considerando diversos níveis territoriais
(local, municipal, microrregional, macrorregional, estadual, grandes
regiões, nacional);
l)
estabelecimento da notificação compulsória e investigação obrigatória
em todo território nacional dos acidentes de trabalho graves e com óbito
e das intoxicações por agrotóxicos, considerando critérios de magnitude
e gravidade;
m)
viabilização da compatibilização e/ou unificação dos instrumentos de
coleta de dados e dos fluxos de informações, em articulação com as
demais equipes técnicas e das vigilâncias;
n)
gestão junto à Previdência Social para que a notificação dos acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho feito pelo SUS (Sinan) seja
reconhecida, nos casos de trabalhadores segurados pelo Seguro Acidente
de Trabalho;
o)
criação de sistemas e bancos de dados para registro das informações
contidas nos relatórios de inspeções e mapeamento dos ambientes de
trabalho realizados pelas equipes de Vigilância em Saúde;
p)
definição de elenco básico de indicadores de morbimortalidade e de
situações de risco para a composição da análise de situação de saúde dos
trabalhadores, considerando o conjunto dos trabalhadores brasileiros,
incluindo as parcelas inseridas em atividades informais, ou seja, o
total da População Economicamente Ativa Ocupada;
q)
articulação intra e intersetorial para a implantação ou implementação
de observatórios de saúde do trabalhador, em especial, articulando-se
com o observatório de violências e outros;
r)
articulação, apoio e gestão junto à Rede Interagencial de Informações
para a Saúde (RIPSA) para fins de ampliação dos atuais indicadores de
saúde do trabalhador constantes das publicações dos Indicadores Básicos
de Saúde (IDB);
s)
garantia da inclusão de indicadores de saúde do trabalhador nas RIPSA
estaduais, conforme necessidades e especificidades de cada Estado;
t)
produção de protocolos e manuais de orientação para os profissionais de
saúde para a utilização da Classificação Brasileira de Ocupação e da
Classificação Nacional de Atividades Econômicas;
u)
avaliação e produção de relatórios periódicos sobre a qualidade dos
dados e informações constantes nos sistemas de informação de interesse à
saúde do trabalhador; e
v)
disponibilização e divulgação das informações em meios eletrônicos,
boletins, cartilhas, impressos, vídeos, rádio e demais instrumentos de
comunicação e difusão;
III
- estruturação da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Trabalhador (RENAST) no contexto da Rede de Atenção à Saúde, o que
pressupõe:
a) ações de Saúde do Trabalhador junto à atenção primária em saúde:
1. reconhecimento e mapeamento das atividades produtivas no território;
2. reconhecimento e identificação da população trabalhadora e seu perfil sócio ocupacional no território;
3.
reconhecimento e identificação dos potenciais riscos e impactos (perfil
de morbi-mortalidade) à saúde dos trabalhadores, das comunidades e ao
meio ambiente, advindos das atividades produtivas no território;
4. identificação da rede de apoio social aos trabalhadores no território;
5.
inclusão, dentre as prioridades de maior vulnerabilidade em saúde do
trabalhador, das seguintes situações: chefe da família desempregado ou
subempregado, crianças e adolescentes trabalhando, gestantes ou nutrizes
trabalhando, algum membro da família portador de algum agravo à saúde
relacionado com o trabalho (acidente ou doença) e presença de atividades
produtivas no domicílio;
6.
identificação e registro da situação de trabalho, da ocupação e do ramo
de atividade econômica dos usuários das unidades e serviços de atenção
primária em saúde;
7.
suspeita e ou identificação da relação entre o trabalho e o problema de
saúde apresentado pelo usuário, para fins de diagnóstico e notificação
dos agravos relacionados ao trabalho;
8.
notificação dos agravos relacionados ao trabalho no Sinan e no SIAB e,
emissão de relatórios e atestados médicos, incluindo o laudo de exame
médico da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), nos casos
pertinentes;
9.
subsídio à definição da rede de referência e contra referência e
estabelecimento dos fluxos e instrumentos para os encaminhamentos
necessários;
10.
articulação com as equipes técnicas e os Centros de Referência em Saúde
do Trabalhador (CEREST) sempre que necessário, para a prestação de
retaguarda técnica especializada, considerando seu papel no apoio
matricial a toda rede SUS;
11.
definição e implantação de condutas e manejo assistenciais, de promoção
e de vigilância em saúde do trabalhador, mediante a aplicação de
protocolos, de linhas de cuidado e de projetos terapêuticos para os
agravos, e de linhas guias para a vigilância de situações de riscos
relacionados ao trabalho; e
12.
incorporação de conteúdos de saúde do trabalhador nas estratégias de
capacitação e de educação permanente para as equipes da atenção primária
em saúde;
b) ações de saúde do trabalhador junto à urgência e emergência:
1.
identificação e registro da situação de trabalho, da ocupação e do ramo
de atividade econômica dos usuários dos pontos de atenção às urgências
e emergências, nas redes Estaduais e Municipais;
2.
identificação da relação entre o trabalho e o acidente, violência ou
intoxicação exógena sofridos pelo usuário, com decorrente notificação do
agravo no Sinan e adequado registro no SIH-SUS para os casos que
requererem hospitalização;
3. preenchimento do laudo de exame médico da CAT nos casos pertinentes;
4. acompanhamento desses casos pelas equipes dos Núcleos de Vigilância Epidemiológica Hospitalar, onde houver;
5.
encaminhamento para a rede de referência e contra referência, para fins
de continuidade do tratamento, acompanhamento e reabilitação, seguindo
os fluxos e instrumentos definidos para tal;
6.
articulação com as equipes técnicas e os CEREST sempre que necessário
para a prestação de retaguarda técnica especializada, considerando seu
papel no apoio matricial a toda rede SUS;
7.
harmonização dos conceitos dos eventos/agravos e unificação das fichas
de notificação dos casos de acidentes de trabalho, outros acidentes e
violências;
8.
incorporação de conteúdos de saúde do trabalhador nas estratégias de
capacitação e de educação permanente para as equipes dos pontos de
atenção às urgências e emergências; e
9.
estabelecimento de parcerias intersetoriais e referência e contra
referencia com as unidades de atendimento e serviços das Secretarias de
Segurança Pública, Institutos Médico Legais, e setores/ departamentos de
trânsito e transporte;
c) ações de saúde do trabalhador junto à atenção especializada (ambulatorial e hospitalar):
1.
identificação e registro da situação de trabalho, da ocupação e do ramo
de atividade econômica dos usuários dos pontos de atenção
especializada, nas redes estaduais e municipais;
2.
suspeita ou identificação da relação entre o trabalho e o agravo à
saúde do usuário, com decorrente notificação do agravo no Sinan;
3. preenchimento do laudo de exame médico da CAT nos casos pertinentes;
4.
encaminhamento para a rede de referência e contra referência, para fins
de continuidade do tratamento, acompanhamento e reabilitação, seguindo
os fluxos e instrumentos definidos para tal;
5.
articulação com as equipes técnicas e os CEREST sempre que necessário
para a prestação de retaguarda técnica especializada, considerando seu
papel no apoio matricial a toda rede SUS; e
6.
incorporação de conteúdos de saúde do trabalhador nas estratégias de
capacitação e de educação permanente para as equipes dos pontos de
atenção especializada;
IV - fortalecimento e ampliação da articulação intersetorial, o que pressupõe:
a)
aplicação de indicadores de avaliação de impactos à saúde dos
trabalhadores e das comunidades nos processos de licenciamento
ambiental, de concessão de incentivos ao desenvolvimento, mecanismos de
fomento e incentivos específicos;
b)
fiscalização conjunta onde houver trabalho em condições insalubres,
perigosas e degradantes, como nas carvoarias, madeireiras, canaviais,
construção civil, agricultura em geral, calcareiras, mineração, entre
outros, envolvendo os Ministérios do Trabalho e Emprego,
da Previdência Social e do Meio Ambiente, o SUS e o Ministério Público; e
c)
compartilhamento e publicização das informações produzidas por cada
órgão e instituição, inclusive por meio da constituição de
observatórios, de modo a viabilizar a adequada análise de situação,
estabelecimento de prioridades, tomada de decisão e monitoramento das
ações;
V - estímulo à participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, o que pressupõe:
a) acolhimento e resposta às demandas dos representantes da comunidade e do controle social;
b)
buscar articulação com entidades, instituições, organizações não
governamentais, associações, cooperativas e demais representações de
categorias de trabalhadores, presentes no território, inclusive as
inseridas em atividades informais de trabalho e populações em situação
de vulnerabilidade;
c)
estímulo à participação de representação dos trabalhadores nas
instâncias oficiais de representação social do SUS, a exemplo dos
conselhos e comissões intersetoriais, nas três esferas de gestão do SUS;
d)
apoiar o funcionamento das Comissões Intersetoriais de Saúde do
Trabalhador (CIST) dos Conselhos de Saúde, nas três esferas de gestão do
SUS;
e)
inclusão da comunidade e do controle social nos programas de
capacitação e educação permanente em saúde do trabalhador, sempre que
possível, e inclusão de conteúdos de saúde do trabalhador nos processos
de capacitação permanente voltados para a comunidade e o controle
social, incluindo grupos de trabalhadores em situação de
vulnerabilidade, com vistas às ações de promoção em saúde do
trabalhador;
f)
transparência e facilitação do acesso às informações aos representantes
da comunidade, dos trabalhadores e do controle social;
VI - desenvolvimento e capacitação de recursos humanos, o que pressupõe:
a)
adoção de estratégias para a progressiva desprecarização dos vínculos
de trabalho das equipes de saúde, incluindo os técnicos dos centros de
referência e das vigilâncias, nas três esferas de gestão do SUS,
mediante concurso público;
b)
inserção de especificação da atribuição de inspetor de vigilância aos
técnicos em saúde do trabalhador nos planos de carreira, cargos e
vencimentos, nas esferas estadual e municipal;
c)
inserção de conteúdos de saúde do trabalhador nos diversos processos
formativos e estratégias de educação permanente, cursos e capacitações,
para profissionais de nível superior e nível médio, com destaque àqueles
destinados às equipes de Vigilância em Saúde, à Saúde da Família e aos
gestores;
d)
capacitação para aplicação de protocolos, linhas guias e linhas de
cuidado em saúde do trabalhador, com ênfase à identificação da relação
saúde-trabalho, ao diagnóstico e manejo dos acidentese das doenças
relacionadas ao trabalho, incluindo a reabilitação, à vigilância de
agravos, de ambientes e de processos de trabalho e à produção de análise
da situação de saúde;
e)
capacitação voltada à aplicação de medidas básicas de promoção,
prevenção e educação em saúde e às orientações quanto aos direitos dos
trabalhadores;
f)
estabelecimento de referências e conteúdos curriculares para a formação
de profissionais em saúde do trabalhador, de nível técnico e superior;
g)
produção de tecnologias mistas de educação presencial e a distância e
publicização de tecnologias já existentes, com estabelecimento de
processos e métodos de acompanhamento, avaliação e atualização dessas
tecnologias;
h)
articulação intersetorial com Ministérios e Secretarias de Governo,
especialmente com o Ministério da Educação, para fins de inclusão de
conteúdos temáticos de saúde do trabalhador nos currículos do ensino
fundamental e médio, da rede pública e privada, em cursos de graduação e
de programas específicos de pós-graduação em sentido amplo e estrito,
possibilitando a articulação ensino / pesquisa / extensão, bem como nos
cursos voltados à qualificação profissional e empresarial;
i) investimento na qualificação de todos os técnicos dos CEREST, no mínimo, em nível de especialização;
j)
integração com órgãos de fomento de pesquisa, nacionais e
internacionais e com instituições responsáveis pelo processo educativo
como universidades, centros de pesquisa, organizações sindicais, ONG,
entre outras; e
k)
apoio à capacitação voltada para os interesses do movimento social,
movimento sindical e controle social, em consonância com as ações e
diretrizes estratégicas do SUS e com a legislação de regência;
VII - apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas, o que pressupõe:
a)
articulação estreita entre os serviços e instituições de pesquisa e
universidades, com envolvimento de toda a rede de serviços do SUS na
construção de saberes, normas, protocolos, tecnologias e ferramentas,
voltadas à produção de respostas aos problemas e necessidades
identificadas pelos serviços, comunidade e controle social;
b)
adoção de critérios epidemiológicos e de relevância social para a
identificação e definição das linhas de investigação, estudos e
pesquisas, de modo a fornecer respostas e subsídios técnico-científicos
para o enfrentamento de problemas prioritários no contexto da saúde do
trabalhador;
c)
desenvolvimento de projetos de pesquisa-intervenção que possam ser
estruturantes para a saúde do trabalhador no SUS, que articulem as ações
de promoção, vigilância, assistência, reabilitação e produção e
comunicação de informações, e resultem em produção de tecnologias de
intervenção em problemas prioritários em cada território;
d)
definição de linhas prioritárias de pesquisa para a produção de
conhecimento e de respostas às questões teórico conceituais do campo da
saúde do trabalhador, de modo a preencher lacunas e produzir modelos
teóricos que contribuam para a melhoria da promoção,
da vigilância e da atenção à saúde dos trabalhadores;
e)
incentivo à pesquisa e aplicação de tecnologias limpas e/ou com
reduzido impacto à saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente, bem como
voltadas à produção de alternativas e substituição de produtos e
processos já reconhecidos como danosos à saúde, e formas de organização
de trabalho saudáveis;
f)
estabelecimento de rede de centros de pesquisa colaboradores na
construção de saberes, normas, protocolos, tecnologias e ferramentas,
voltadas à produção de respostas aos problemas e necessidades
identificadas pelos serviços, comunidade e controle social;
g)
estabelecimento de mecanismos que garantam a participação da comunidade
e das representações dos trabalhadores no desenvolvimento dos estudos e
pesquisas, incluindo a divulgação e aplicação dos seus resultados; e
h)
garantia, pelos gestores, da observância dos preceitos éticos no
desenvolvimento de estudos e pesquisas realizados no âmbito da rede de
serviços do SUS, mediante a participação dos Comitês de Ética em
Pesquisa nesses processos.
§
1º A análise da situação de saúde dos trabalhadores, de que trata o
inciso II do "caput", compreende o monitoramento contínuo de indicadores
e das situações de risco, com vistas a subsidiar o planejamento das
ações e das intervenções em saúde do trabalhador, de
forma
mais abrangente, no território nacional, no Estado, região, Município e
nas áreas de abrangência das equipes de atenção à saúde.
§
2º No que se refere à análise da situação de saúde dos trabalhadores,
de que trata o inciso II do "caput", dever-se-á promover a articulação
das redes de informações, que se baseará nos seguintes pressupostos:
I
- concepção de que as infomações em saúde do trabalhador, presentes em
diversas bases e fontes de dados, devem estar em consonância com os
princípios e diretrizes da Política Nacional de Informações e
Informática do SUS;
II
- necessidade de estabelecimento de processos participativos nas
definições e na produção de informações de interesse à saúde do
trabalhador;
III - empreendimento sistemático e permanente de ações, com vistas ao aprimoramento e melhoria da qualidade das informações;
IV
- compartilhamento de informações de interesse para a saúde do
trabalhador, mediante colaboração intra e intersetorial, entre as
esferas de governo, e entre instituições, públicas e privadas, nacionais
e internacionais;
V - necessidade de estabelecimento de mecanismos de publicação e garantia de acesso pelos diversos públicos interessados; e
VI
- zelo pela privacidade e confidencialidade de dados individuais
identificados, garantindo o acesso necessário às autoridades sanitárias
no exercício das ações de vigilância.
§ 3º O processo de capacitação em saúde do trabalhador, de que trata o inciso VI do caput, deverá:
I
- contemplar as diversidades e especificidades loco-regionais,
incorporar os princípios do trabalho cooperativo, interdisciplinar e em
equipe multiprofissional e as experiências acumuladas pelos Estados e
Municípios nessa área;
II
- abranger todos os profissionais vinculados ao SUS, independente da
especialidade e nível de atuação - atenção básica ou especializada, os
inseridos em programas e estratégias específicos, como, por exemplo,
agentes comunitários de saúde, saúde da família, saúde da mulher, saúde
do homem, saúde mental, vigilância epidemiológica, vigilância sanitária e
em saúde ambiental, entre outros;
III
- considerar, sempre que possível, com graus de prioridade distintos,
as necessidades de outras instituições públicas e privadas - sindicatos
de trabalhadores e patronais, organizações não governamentais (ONG) e
empresas que atuam na área de modo interativo com o SUS, em consonância
com a legislação de regência; e
IV
- contemplar estratégias de articulação e de inserção de conteúdos de
saúde do trabalhador nos diversos cursos de graduação das áreas de
saúde, engenharias, ciências sociais, entre outros além de outros que
apresentem correlação com a área da saúde, de modo a viabilizar a
preparação dos profissionais desde a graduação, incluindo a oferta de
vagas para estágios curriculares e extra-curriculares.
CAPÍTULO IVDAS RESPONSABILIDADES
Seção I
Das Atribuições dos Gestores do SUS
Art.
10. São responsabilidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Município, em seu âmbito administrativo, além de outras que venham a
ser pactuadas pelas Comissões Intergestores:
I - garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde do trabalhador;
II - orientar e ordenar os fluxos das ações e dos serviços de saúde do trabalhador;
III - monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde do trabalhador;
IV - assegurar a oferta regional das ações e dos serviços de saúde do trabalhador;
V
- estabelecer e garantir a articulação sistemática entre os diversos
setores responsáveis pelas políticas públicas, para analisar os diversos
problemas que afetam a saúde dos trabalhadores e pactuaruma agenda
prioritária de ações intersetoriais; e
VI
- desenvolver estratégias para identificar situações que resultem em
risco ou produção de agravos à saúde, adotando e ou fazendo adotar
medidas de controle quando necessário.
Art. 11. À direção nacional do SUS compete:
I - coordenar, em âmbito nacional, a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora;
II
- conduzir as negociações nas instâncias do SUS, visando inserir ações,
metas e indicadores de saúde do trabalhador no Plano Nacional de Saúde e
na Programação Anual de Saúde, a partir de planejamento estratégico que
considere a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora;
III
- alocar recursos orçamentários e financeiros para a implementação
desta Política, aprovados no Conselho Nacional de Saúde (CNS);
IV
- desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da
comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio e
fortalecimento da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador (CIST)
do CNS;
V
- apoiar tecnicamente as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, na implementação e execução da Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora;
VI
- promover a incorporação de ações e procedimentos de vigilância e de
assistência à saúde do trabalhador junto à Rede de Atenção à Saúde,
considerando os diferentes níveis de complexidade, tendo como centro
ordenador a Atenção Primária em Saúde;
VII
- monitorar, em conjunto com as Secretarias Estaduais e Municipais de
Saúde, os indicadores pactuados para avaliação das ações e serviços de
saúde dos trabalhadores;
VIII
- estabelecer rotinas de sistematização, processamento, análise e
divulgação dos dados gerados nos Municípios e nos Estados a partir dos
sistemas de informação em saúde, de acordo com os interesses e
necessidades do planejamento estratégico da Política Nacional de Saúde
do Trabalhador e da Trabalhadora;
IX
- elaborar perfil produtivo e epidemiológico, a partir de fontes de
informação existentes e de estudos específicos, com vistas a subsidiar a
programação e avaliação das ações de atenção à saúde do trabalhador;
X
- promover a articulação intersetorial com vistas à promoção de
ambientes e processos de trabalho saudáveis e ao acesso às informações e
bases de dados de interesse à saúde dos trabalhadores;
XI
- participar da elaboração de propostas normativas e elaborar normas
pertinentes à sua área de atuação, com a participação de outros atores
sociais como entidades representativas dos trabalhadores, universidades e
organizações não-governamentais;
XII
- promover a formação e a capacitação em saúde do trabalhador dos
profissionais de saúde do SUS, junto à Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde, bem como estimular a parceria entre os órgãos e
instituições pertinentes para formação e capacitação da comunidade, dos
trabalhadores e do controle social, em consonância com a legislação de
regência;
XIII
- desenvolver estratégias de comunicação e elaborar materiais de
divulgação visando disponibilizar informações do perfil produtivo e
epidemiológico relativos à saúde dos trabalhadores;
XIV
- conduzir a revisão periódica da listagem oficial de doenças
relacionadas ao trabalho no território nacional e a inclusão do elenco
prioritário de agravos relacionados ao trabalho na listagem nacional de
agravos de notificação compulsória; e
XV - regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e serviços de saúde do trabalhador, no âmbito de sua competência.
Art. 12. À direção estadual do SUS compete:
I - coordenar, em âmbito estadual, a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora;
II
- conduzir as negociações nas instâncias estaduais do SUS, visando
inserir ações, metas e indicadores de saúde do trabalhador no Plano
Estadual de Saúde e na Programação Anual de Saúde, a partir de
planejamento estratégico que considere a Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora;
III
- pactuar e alocar recursos orçamentários e financeiros, para a
implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora, pactuados nas instâncias de gestão e aprovados no Conselho
Estadual de Saúde (CES);
IV
- desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da
comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio e
fortalecimento da CIST do CES;
V
- apoiar tecnicamente e atuar de forma integrada com as Secretarias
Municipais de Saúde na implementação das ações de saúde do trabalhador;
VI
- organizar as ações de promoção, vigilância e assistência à saúde do
trabalhador nas regiões de saúde, considerando os diferentes níveis de
complexidade, tendo como centro ordenador a Atenção Primária em Saúde,
definindo, em conjunto com os municípios, os mecanismos e os fluxos de
referência, contra-referência e de apoio matricial, além de outras
medidas, para assegurar o desenvolvimento de ações de promoção,
vigilância e assistência em
saúde do trabalhador;
VII
- realizar a pactuação regional e estadual das ações e dos indicadores
de promoção, vigilância e assistência à saúde do trabalhador;
VIII
- monitorar, em conjunto com as Secretarias Municipais de Saúde, os
indicadores pactuados para avaliação das ações e serviços de saúde dos
trabalhadores;
IX
- regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e a prestação de
serviços em saúde do trabalhador, no âmbito de sua competência;
X
- garantir a implementação, nos serviços públicos e privados, da
notificação compulsória dos agravos à saúde relacionados ao trabalho,
assim como do registro dos dados pertinentes à saúde do trabalhador no
conjunto dos sistemas de informação em saúde, alimentando regularmente
os sistemas de informações em seu âmbito de atuação, estabelecendo
rotinas de sistematização, processamento e análise dos dados gerados nos
municípios, de acordo com os interesses e necessidades do planejamento
desta Política;
XI
- elaborar, em seu âmbito de competência, perfil produtivo e
epidemiológico, a partir de fontes de informação existentes e de estudos
específicos, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações
de atenção à saúde do trabalhador;
XII
- participar da elaboração de propostas normativas e elaborar normas
técnicas pertinentes à sua esfera de competência, com outros atores
sociais como entidades representativas dos trabalhadores, universidades e
organizações não governamentais;
XIII
- promover a formação e capacitação em saúde do trabalhador para os
profissionais de saúde do SUS, inclusive na forma de educação
continuada, respeitadas as diretrizes da Política Nacional de Educação
Permanente em Saúde, bem como estimular a parceria entre os órgãos e
instituições pertinentes para formação e capacitação da comunidade, dos
trabalhadores e do controle social, em consonância com a legislação de
regência;
XIV
- desenvolver estratégias de comunicação e elaborar materiais de
divulgação visando disponibilizar informações do perfil produtivo e
epidemiológico relativos à saúde dos trabalhadores;
XV
- definir e executar projetos especiais em questões de interesse
loco-regional, em conjunto com as equipes municipais, quando e onde
couber; e
XVI
- promover, no âmbito estadual, a articulação intersetorial com vistas à
promoção de ambientes e processos de trabalho saudáveis e ao acesso às
informações e bases de dados de interesse à saúde dos trabalhadores.
Art. 13. Compete aos gestores municipais de saúde:
I - executar as ações e serviços de saúde do trabalhador;
II - coordenar, em âmbito municipal, a implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora;
III
- conduzir as negociações nas instâncias municipais do SUS, visando
inserir ações, metas e indicadores de saúde do trabalhador no Plano
Municipal de Saúde e na Programação Anual de Saúde, a partir de
planejamento estratégico que considere a Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora;
IV
- pactuar e alocar recursos orçamentários e financeiros para a
implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora, pactuados nas instâncias de gestão e aprovados no Conselho
Municipal de Saúde (CMS);
V
- desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da
comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio e
fortalecimento da CIST do CMS;
VI
- constituir referências técnicas em saúde do trabalhador e/ou grupos
matriciais responsáveis pela implementação da Política Nacional de Saúde
do Trabalhador e da Trabalhadora;
VII
- participar, em conjunto com o Estado, da definição dos mecanismos e
dos fluxos de referência, contra-referência e de apoio matricial, além
de outras medidas, para assegurar o desenvolvimento de ações de
promoção, vigilância e assistência em saúde do trabalhador;
VIII
- articular-se regionalmente para integrar a organização, o
planejamento e a execução de ações e serviços de saúde quando da
identificação de problemas e prioridades comuns;
IX
- regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e a prestação de
serviços em saúde do trabalhador, no âmbito de sua competência;
X
- implementar, na Rede de Atenção à Saúde do SUS, e na rede privada, a
notificação compulsória dos agravos à saúde relacionados com o
trabalho, assim como o registro dos dados pertinentes à saúde do
trabalhador no conjunto dos sistemas de informação em saúde, alimentando
regularmente os sistemas de informações em seu âmbito de atuação,
estabelecendo rotinas de sistematização, processamento e análise dos
dados gerados no Município, de acordo com os interesses e necessidades
do planejamento da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora;
XI
- instituir e manter cadastro atualizado de empresas classificadas nas
diversas atividades econômicas desenvolvidas no Município, com
indicação dos fatores de risco que possam ser gerados para os
trabalhadores e para o contingente populacional direta ou indiretamente a
eles expostos, em articulação com a vigilância em saúde ambiental;
XII
- elaborar, em seu âmbito de competência, perfil produtivo e
epidemiológico, a partir de fontes de informação existentes e de estudos
específicos, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações
de atenção à saúde do trabalhador;
XIII
- capacitar, em parceria com as Secretarias Estaduais de Saúde e com os
CEREST, os profissionais e as equipes de saúde do SUS, para identificar
e atuar nas situações de riscos à saúde relacionados ao trabalho, assim
como para o diagnóstico dos agravos à saúde relacionados com o
trabalho, em consonância com as diretrizes para implementação da
Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, bem como estimular a
parceria entre os órgãos e instituições pertinentes para formação e
capacitação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, em
consonância com a legislação de regência; e XIV - promover, no âmbito
municipal, articulação intersetorial com vistas à promoção de ambientes e
processos de trabalho saudáveis e ao acesso às informações e bases de
dados de interesse à
saúde dos trabalhadores.
Seção II
Das Atribuições dos CEREST e das Equipes Técnicas
Art. 14. Cabe aos CEREST, no âmbito da RENAST:
I
- desempenhar as funções de suporte técnico, de educação permanente, de
coordenação de projetos de promoção, vigilância e assistência à saúde
dos trabalhadores, no âmbito da sua área de abrangência;
II
- dar apoio matricial para o desenvolvimento das ações de saúde do
trabalhador na atenção primária em saúde, nos serviços especializados e
de urgência e emergência, bem como na promoção e vigilância nos diversos
pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde; e
III
- atuar como centro articulador e organizador das ações intra e
intersetoriais de saúde do trabalhador, assumindo a retaguarda técnica
especializada para o conjunto de ações e serviços da rede SUS e se
tornando pólo irradiador de ações e experiências de vigilância em
saúde, de caráter sanitário e de base epidemiológica.
§
1º As ações a serem desenvolvidas pelos CEREST serão planejadas de
forma integrada pelas equipes de saúde do trabalhador no âmbito das
Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e das Secretarias Municipais de
Saúde (SMS), sob a coordenação dos gestores.
§
2º Para as situações em que o Município não tenha condições técnicas e
operacionais, ou para aquelas definidas como de maior complexidade,
caberá às SES a execução direta de ações de vigilância e assistência,
podendo fazê-lo, em caráter complementar ou suplementar, através dos
CEREST.
§
3º O apoio matricial, de que trata o inciso II do caput, será
equacionado a partir da constituição de equipes multiprofissionais e do
desenvolvimento de práticas interdisciplinares, com estabelecimento de
relações de trabalho entre a equipe de matriciamento e as equipes
técnicas de referência, na perspectiva da prática da clínica ampliada,
da promoção e da vigilância em saúde do trabalhador.
Art.
15. As equipes técnicas de saúde do trabalhador, nas três esferas de
gestão, com o apoio dos CEREST, devem garantir sua capacidade de prover o
apoio institucional e o apoio matricial para o desenvolvimento e
incorporação das ações de saúde do trabalhador no SUS.
Parágrafo único. A execução do disposto no caput deste artigo pressupõe, no mínimo:
I
- a construção, em toda a Rede de Atenção à Saúde, de capacidade para a
identificação das atividades produtivas e do perfil epidemiológico dos
trabalhadores nas regiões de saúde definidas pelo Plano Diretor de
Regionalização e Investimentos (PDRI); e
II
- a capacitação dos profissionais de saúde para a identificação e
monitoramento dos casos atendidos que possam ter relação com as
ocupações e os processos produtivos em que estão inseridos os usuários.
CAPÍTULO V
DA AVALIAÇÃO E DO MONITORAMENTO
Art.
16. As metas e os indicadores para avaliação e monitoramento da
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora devem estar
contidos nos instrumentos de gestão definidos pelo sistema de
planejamento do SUS:
I - Planos de Saúde;
II - Programações Anuais de Saúde; e
III - Relatórios Anuais de Gestão.
§
1º O planejamento estratégico deve contemplar ações, metas e
indicadores de promoção, vigilância e atenção em saúde do trabalhador,
nos moldes de uma atuação permanentemente articulada e sistêmica.
§
2º As necessidades de saúde do trabalhador devem ser incorporadas no
processo geral do planejamento das ações de saúde, mediante a utilização
dos instrumentos de pactuação do SUS, o qual é um processo dinâmico,
contínuo e sistemático de pactuação de prioridades e estratégias de
saúde do trabalhador nos âmbitos municipal, regional, estadual e
federal, considerando os diversos sujeitos envolvidos neste processo.
Art.
17. A avaliação e o monitoramento da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora, pelas três esferas de gestão do SUS,
devem ser conduzidos considerando-se:
I
a inserção de ações de saúde do trabalhador, considerando objetivos,
diretrizes, metas e indicadores, no Plano de Saúde, na Programação Anual
de Saúde e no Relatório Anual de Gestão, em cada esfera de gestão do
SUS;
II
- a definição de que as ações de saúde do trabalhador, em cada esfera
de gestão, devem expressar com clareza e transparência, os mecanismos e
as fontes de financiamento;
III
- o estabelecimento de investimentos nas ações de vigilância, no
desenvolvimento de ações na Atenção Primária em Saúde e na
regionalização como eixos prioritários para a aplicação dos recursos de
saúde do trabalhador;
IV - a definição de interlocutor para o tema saúde do trabalhador nas três esferas de gestão do SUS;
V - a inclusão na Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES) de ações e serviços de saúde do trabalhador;
VI
- a produção de protocolos, de linhas guias e linhas de cuidado em
saúde do trabalhador, de acordo com os níveis de organização da
vigilância e atenção à saúde;
VII
- a capacitação dos profissionais de saúde, visando à implementação dos
protocolos, das linhas guias e das linhas de cuidado em saúde do
trabalhador;
VIII
- a definição dos fluxos de referência, contra-referência e de apoio
matricial, de acordo com as diretrizes clínicas, as linhas decuidado
pactuadas na Comissão Intergestores Regional (CIR) e na Comissão
Intergestores Bipartite (CIB), garantindo a notificação compulsória dos
agravos relacionados ao trabalho; e
IX
- o monitoramento e avaliação dos indicadores de saúde do trabalhador
pactuados, bem como o acompanhamento da evolução histórica e tendências
dos indicadores de morbimortalidade, nas esferas municipal, micro e
macrorregionais, estadual e nacional.
CAPÍTULO VI
DO FINANCIAMENTO
Art.
18. Além dos recursos dos fundos nacionais, estaduais e municipais de
saúde, fica facultado aos gestores de saúde utilizar outras fontes de
financiamento, como:
I
- ressarcimento ao SUS, pelos planos de saúde privados, dos valores
gastos nos serviços prestados aos seus segurados, em decorrência de
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho;
II - repasse de recursos advindos de contribuições para a seguridade social;
III - criação de fundos especiais; e
IV
- parcerias com organismos nacionais e internacionais para
financiamento de projetos especiais, de desenvolvimento de tecnologias,
máquinas e equipamentos com maior proteção à saúde dos trabalhadores,
especialmente aqueles voltados a cooperativas, da economia solidária e
pequenos empreendimentos.
Parágrafo
único. Além das fontes de financiamento previstas neste artigo, poderão
ser pactuados, nas instâncias intergestores, incentivos específicos
para as ações de promoção e vigilância em saúde do trabalhador, a serem
inseridos nos pisos variáveis dos componentes de vigilância e promoção
da saúde e da vigilância sanitária.
Art. 19. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA
ANEXO I
ELEMENTOS INFORMATIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Os
elementos informativos consistem na apresentação de conceitos e
contextualização de termos e conteúdos explicativos e conformadores da
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Tem como
finalidade precípua conferir caráter pedagógico e orientador à Política.
1.
A Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde - RENASES compreende
todas as ações e serviços que o SUS oferece ao usuário para atendimento
da integralidade que se inicia e se completa na Rede de Atenção à Saúde,
mediante referenciamento do usuário na rede regional e interestadual
conforme pactuado na Comissão Intergestores Bipartite - CIB. A
organização e a integração das ações e dos serviços de saúde sob a
responsabilidade dos entes federativos em uma região de saúde, inclusive
as de saúde do trabalhador, com a finalidade de garantir a
integralidade da assistência aos usuários do SUS é objeto do Contrato
Organizativo de Ação Pública da Saúde.
2.
A participação da comunidade é um princípio fundante do Sistema Único
de Saúde (SUS), estabelecido na Constituição Federal de 1988 e na Lei
Orgânica da Saúde, tendo relevância e especificidades na Política
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Partindo deste
principio, a participação dos trabalhadores é essencial nos processos de
identificação das situações de risco presentes nos ambientes de
trabalho e das repercussões sobre a sua saúde, bem como na formulação,
no planejamento, acompanhamento e avaliação das intervenções sobre as
condições geradoras dos agravos relacionados ao trabalho. Cabe às
diversas instâncias do SUS assumir como legítima a participação da
sociedade nas decisões envolvendo as políticas de saúde do trabalhador,
estabelecendo-se relações éticas entre os representantes da comunidade,
dos trabalhadores e do controle social, gestores e a equipe de saúde. A
garantia da participação da comunidade e do controle social na
formulação, no planejamento, no acompanhamento e na avaliação das
políticas, contribui para o fortalecimento do exercício da cidadania
pela sociedade.
3.
Deve-se, no âmbito da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora observar a diretriz organizativa da descentralização, o que
requer a consolidação do papel do Município como instância efetiva de
desenvolvimento das ações de atenção à saúde do trabalhador em seu
território, de acordo com as necessidades e características de suas
populações.
4.
No que toca à diretriz da hierarquização, a construção da atenção
integral à saúde do trabalhador passa pela integração de todos os níveis
de atuação do SUS, em função de sua complexidade e densidade
tecnológica, considerando sua organização em redes e sistemas solidários
e compartilhados entre as três esferas de gestão e conforme a pactuação
estadual e regional.
5.
O direito à saúde constitui-se num direito social derivado do direito à
vida, estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Resolução 217ª, III, da Assembléia Geral da ONU, 10/09/1948). No
Brasil, segundo a Constituição Federal de 1988, o direito à saúde é um
direito social (Art. 6º) que decorre do princípio fundamental da
dignidade humana (inciso III, Art. 1º), cabendo ao Estado garanti-la
mediante políticas sociais e econômicas, que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal
e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (Art. 196). Dessa forma, é dever do poder público prover as
condições e as garantias para o exercício do direito individual e
coletivo à saúde, com a ressalva de que o dever do Estado não exclui o
das pessoas, da família, das empresas e da sociedade (art. 2º, parágrafo
2º da Lei Nº 8.080/90). A responsabilidade sanitária é comum às três
esferas de gestão do SUS - federal, estadual e municipal, e deve ser
desempenhada por meio da formulação, financiamento e gestão de políticas
de saúde que respondam às necessidades sanitárias, demográficas e
sócio-culturais das populações e superem as iniqüidades existentes.
Nesse sentido, o caráter éticopolítico da ação sanitária em saúde do
trabalhador compreende o entendimento de que o objetivo e a
justificativa da intervenção é a melhoria das condições de trabalho e
saúde. Refere-se ao compromisso ético, que devem assumir gestores e
profissionais de saúde nas ações desenvolvidas, tanto no que diz
respeito à dignidade dos trabalhadores, ao direito à informação
fidedigna, ao sigilo, no que couber, das informações relativas ao seu
estado de saúde e a sua individualidade, quanto em relação ao direito de
conhecimento sobre o processo e os resultados das intervenções
sanitárias, e de participação, inclusive na tomada de decisões.
6.
A incorporação do princípio da precaução nas ações de saúde do
trabalhador considera que, por precaução, medidas devem ser implantadas
visando prevenir danos à saúde dos trabalhadores, mesmo na ausência da
certeza científica formal da existência de risco
grave
ou irreversível à saúde. Busca, assim, prevenir possíveis agravos à
saúde dos trabalhadores causados pela utilização de processos
produtivos, tecnologias, substâncias químicas, equipamentos e máquinas,
entre outros. Requer, na tomada de decisão em relação ao uso de
determinadas tecnologias, que o ônus da prova científica passe a ser
atribuído aos proponentes das atividades suspeitas de danos à saúde e ao
ambiente.
7.
A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) é um dos componentes do
Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Visa à promoção da saúde e a
redução da morbimortalidade da população trabalhadora, por meio da
integração de ações que intervenham nos agravos e seus determinantes
decorrentes dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos
(Portaria GM/MS Nº 3.252/09). A especificidade de seu campo é dada por
ter como objeto a relação da saúde com o ambiente e os processos de
trabalho, abordada por práticas sanitárias desenvolvidas com a
participação dos trabalhadores em todas as suas etapas. Como componente
da vigilância em saúde e visando à integralidade do cuidado, a VISAT
deve inserir-se no processo de construção da Rede de Atenção à Saúde,
coordenada pela Atenção Primária à Saúde (Portaria GM/MS Nº 3.252/09).
Nesta perspectiva, a VISAT é estruturante e essencial ao modelo de
Atenção Integral em Saúde do Trabalhador. A Vigilância em Saúde do
Trabalhador compreende uma atuação contínua e sistemática, ao longo do
tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores
determinantes e condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos
processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social,
organizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar
e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los ou
controlá-los (Portaria GM/MS Nº 3.120/98). Apresenta como
características gerais:
-
O caráter transformador: a Vigilância em Saúde do Trabalhador constitui
um processo pedagógico que requer a participaçãodos sujeitos e implica
em assumir compromisso ético em busca damelhoria dos ambientes e
processos de trabalho. Dessa maneira, a ação de VISAT deve ter caráter
proponente de mudanças e de intervenção sobre os fatores determinantes e
condicionantes dos problemasde saúde relacionados ao trabalho.
-
A importância das ações de promoção, proteção e prevenção: partindo do
entendimento de que os problemas de saúde decorrentes do trabalho são
potencialmente preveníveis, esta Política deve fomentar a substituição
de matérias primas, de tecnologias e de
processos
organizacionais prejudiciais à saúde por substâncias, produtos e
processos menos nocivos. As práticas de intervenção em VISAT devem
orientar-se pela priorização de medidas de controle dos riscos na origem
e de proteção coletiva.
-
Interdisciplinaridade: a abordagem multiprofissional sobre o objeto da
vigilância em saúde do trabalhador deve contemplar os saberes técnicos,
com a concorrência de diferentes áreas do conhecimento e,
fundamentalmente, o saber dos trabalhadores, necessários para o
desenvolvimento da ação.
-
Pesquisa-intervenção: o entendimento de que a intervenção, no âmbito da
vigilância em saúde do trabalhador, é o deflagrador de um processo
contínuo, ao longo do tempo, em que a pesquisa é sua parte indissolúvel,
subsidiando e aprimorando a própria intervenção.
-
Articulação intrasetorial: a Vigilância em Saúde do Trabalhador deve se
articular com os demais componentes da Vigilância em Saúde - Vigilância
Epidemiológica, Vigilância Sanitária, Vigilância em Saúde Ambiental,
Promoção da Saúde e Vigilância da Situação de Saúde.
-
Articulação intersetorial: deve ser compreendida como o exercício da
transversalidade entre as políticas de saúde do trabalhador e outras
políticas setoriais, como Previdência, Trabalho e Meio Ambiente, e
aquelas relativas ao desenvolvimento econômico e social, nos âmbitos
federal, estadual e municipal.
-
Pluriinstitucionalidade: articulação, com formação de redes e sistemas
no âmbito da vigilância em saúde e com as universidades, os centros de
pesquisa e demais instituições públicas com responsabilidade na área de
saúde do trabalhador, consumo e ambiente.
8.
A promoção da saúde e de ambientes e processos de trabalho saudáveis
deve ser compreendida como um conjunto de ações, articuladas intra e
intersetorialmente, que possibilite a intervenção nos determinantes do
processo saúde-doença dos trabalhadores, a atuação em situações de
vulnerabilidade e de violação de direitos e na garantia da dignidade do
trabalhador no trabalho. Aarticulação intra e intersetorial deve buscar
a adoção de estratégias que viabilizem a inserção de medidas de
promoção e proteção da saúde dos trabalhadores nas políticas, públicas e
privadas, mediante a garantia da participação do setor saúde/saúde do
trabalhador na definição das políticas setoriais e intersetoriais. A
indissociabilidade entre produção, trabalho, saúde e ambiente compreende
que a saúde dos trabalhadores, e da população geral, está intimamente
relacionada às formas de produção e consumo e de exploração dos recursos
naturais e seus impactos no meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho. Nesta perspectiva, o principio da precaução deve ser
incorporado como norteador das ações de promoção da saúde e de
ambientes e processos de trabalho saudáveis, especialmente nas questões
relativas à sustentabilidade socioambiental dos processos produtivos.
Isto implica na adoção do conceito de sustentabilidade socioambiental,
como integrador de políticas públicas, incorporando nas políticas de
desenvolvimento social e econômico o entendimento de que a qualidade de
vida e a saúde envolvem o direito de trabalhar e viver em ambientes
saudáveis e com dignidade, e ao mesmo tempo, evitando o aprofundamento
das iniqüidades e das injustiças sociais. A dignidade no trabalho
refere-se à garantia da manutenção de relações éticas e de respeito nos
locais de trabalho, o reconhecimento do direito dos trabalhadores à
informação, à participação e à livre manifestação. Compreende também o
entendimento da defesa e da promoção da qualidade de vida e da saúde
como valores absolutos e universais.
9.
A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede
de Atenção à Saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional
e interestadual, conforme pactuado nas Comissões Intergestores,
incluindo ações de promoção, vigilância, diagnóstico, tratamento,
recuperação e reabilitação, a partir do reconhecimento das necessidades
de saúde da população. Cumpre ressaltar que esta Política Nacional de
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora tem como componente estruturante a
Vigilância em Saúde do Trabalhador, a ser desenvolvida de forma
articulada com os demais componentes da Vigilância em Saúde e,
especialmente, com a Atenção Primária à Saúde. A organização da atenção e
o planejamento dasações de saúde do trabalhador devem contemplar as
especificidades dos perfis das atividades produtivas e da população
trabalhadora, considerando os problemas de saúde deles advindos, e sua
distribuição nos territórios, em coerência à análise da situação de
saúde dos trabalhadores.
10.
Integração da Vigilância em Saúde do Trabalhador com os demais
componentes da Vigilância em Saúde e com a Atenção Primária em Saúde:
-
Considerando que a vigilância em saúde do trabalhador compreende um
conjunto de ações e práticas que envolvem desde a vigilância sobre os
agravos relacionados ao trabalho, tradicionalmente reconhecida como
vigilância epidemiológica; intervenções sobre fatores de risco,
ambientes e processos de trabalho, compreendendo ações de vigilância
sanitária, até as ações relativas ao acompanhamento de indicadores para
fins de avaliação da situação de saúde e articulação de ações de
promoção da saúde e de prevenção de riscos, fica clara a existência de
interfaces com os demais componentes da vigilância em saúde.
-
Freqüentemente os riscos advindos dos processos produtivos extrapolam
os limites dos ambientes de trabalho e atingem, em maior ou menor grau,
as comunidades e populações no entorno, ou até de locais mais distantes.
Por outro lado, problemas de saúde, endemias e epidemias que atingem a
população geral também afetam grupos de trabalhadores ou locais de
trabalho específicos. Assim, pode-se observar certa superposição de
ambientes, lugares e pessoas, que resultam na confluência de objetos e
campos de atuação entre as vigilâncias epidemiológica, sanitária, em
saúde ambiental e de saúde do trabalhador, incluindo o papel das redes,
nacional e estadual, de laboratórios de saúde pública e dos setores
responsáveis pelo acompanhamento e monitoramento das informações em
saúde.
-
O fortalecimento da capacidade de atuação e das competências técnicas e
legais da vigilância em saúde do trabalhador e aintegração das
práticas entre as vigilâncias são, portanto, estratégicas para a
obtenção de melhores resultados na proteção da saúde dos trabalhadores.
-
Por outro lado, considerando a integralidade do cuidado e seu papel
estruturante no processo de construção da Rede de Atenção à Saúde, cabe
também à Atenção Primária à Saúde o desenvolvimento de ações de VISAT,
em seu âmbito de atuação e complexidade, e conforme o perfil produtivo e
da população trabalhadora em seu território. Para viabilizar essas
ações é fundamental a integração das vigilâncias com a Atenção Primária à
Saúde.
-
A nova política nacional de atenção básica preconiza a inserção de
profissionais especializados como uma possibilidade de apoio matricial a
ser desenvolvido pelo NASF, conforme sua nova regulamentação, o que
demanda a articulação entre as equipes técnicas envolvidas nas ações de
saúde do trabalhador.
11.
Análise do perfil produtivo e da situação de saúde dos trabalhadores: o
conhecimento da situação de saúde dos trabalhadores depende
fundamentalmente da produção e sistematização das informações existentes
em diversas fontes de dados e de interesse para o desenvolvimento das
políticas de saúde do trabalhador, envolvendo o conhecimento sobre o
perfil das atividades produtivas, da população trabalhadora, a realidade
do mundo do trabalho, e a análise do perfil de morbimortalidade dos
trabalhadores e de outros indicadores sociais, nos territórios. A
análise da situação de saúde dos trabalhadores visa subsidiar o
planejamento e a tomada de decisão dos gestores nas diversas esferas de
gestão do SUS, assim como servir aos interesses e necessidades dos
trabalhadores e da população. Além disso, deve subsidiar a permanente
avaliação das políticas públicas e privadas, das empresas, dos
trabalhadores e seus sindicatos, contribuindo inclusive na revisão,
atualização e proposição de normas técnicas e legais. Para tal, as
informações devem ser oportunas, fidedignas, inteligíveis e de fácil
acesso.
12.
Considerando o princípio de que a saúde do trabalhador é uma ação
transversal a ser incorporada em todos os níveis de atenção e esferas de
gestão do SUS, a capacidade de identificação da relação entre o
trabalho e o processo saúde-doença deve ser implementada desde a atenção
primária até o nível terciário, na Rede de Atenção à Saúde, incluindo
as ações de Vigilância em Saúde. Ao mesmo tempo em que estes níveis de
atenção se estabelecem com a lógica operacional da hierarquização e da
regionalização, deve-se buscar o seu funcionamento enquanto rede
solidária, resolutiva e de compartilhamento de saberes, práticas e de
produção de conhecimento.
13.
Ações de Saúde do Trabalhador junto à Atenção Primária em Saúde (APS): A
Atenção Primária em Saúde é ordenadora da Rede de Atenção à Saúde do
SUS, conforme onsta na Portaria GM/MS Nº 4.279, de 30 de dezembro de
2010. Neste sentido, as equipes da APS e de saúde do trabalhador devem
atuar de forma articulada para garantir o desenvolvimento de ações no
âmbito individual e coletivo, abrangendo a promoção e proteção da saúde
dos trabalhadores, a prevenção de agravos relacionados ao trabalho, o
diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde.
A
ação da APS é desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais
e sanitárias democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em
equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados,
considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas
populações. Assim, cabe à APS considerar sempre que os territórios são
espaços sócio-políticos dinâmicos, com trabalhadores residentes e não
residentes, executando atividades produtivas e de trabalho em locais
públicos e privados, peri e intradomiciliares
14. Ações de Saúde do Trabalhador junto à Urgência e Emergência:
Os
pontos de atenção às urgências e emergências constituem lócus
privilegiado para a identificação dos casos de acidentes de trabalho
graves e fatais, incluindo as intoxicações exógenas, assim como para o
devido encaminhamento das informações aos setores de vigilância em saúde
(e vigilância em saúde do trabalhador). Dada a freqüência e gravidade
desses casos, que são de notificação compulsória, aumenta a importância
estratégica deste nível de atenção à saúde do SUS, possibilitando, a
partir da notificação, o desencadeamento
de
medidas de prevenção e controle nos ambientes e locais de trabalho.
Desse modo, a articulação desta Política com a Política Nacional de
Urgência e Emergência e com a Política Nacional de Redução de
Morbimortalidade por Acidentes e Violências, e seus desdobramentos nos
estados e municípios, são estratégicos para a garantia da integralidade
da atenção à saúde do trabalhador.
15.
Ações de Saúde do Trabalhador junto à Atenção Especializada
(Ambulatorial e Hospitalar):Considerando a lógica operacional da
hierarquização e da regionalização das ações e serviços de saúde, os
pontos de atenção especializada são essenciais para a garantia da
integralidade do cuidado aos trabalhadores portadores de agravos à saúde
relacionados ao
trabalho.
Assim, diagnóstico, tratamento e reabilitação desses agravos devem ser
viabilizados na rede, conforme o perfil epidemiológico e as necessidades
de saúde do trabalhador em cada região.
16. Fortalecimento e ampliação da articulação intersetorial:
-
A atuação intersetorial é pressuposto constituinte da Política Nacional
de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e condição para a obtenção de
impactos positivos na intervenção nos determinantes das condições de
saúde e trabalho.
-
Deve ser entendida como a "... articulação entre sujeitos de setores
sociais diversos, saberes, poderes e vontades, para enfrentar problemas
complexos. É uma nova forma de trabalhar, de governar e de construir
políticas públicas que possibilite a superação da fragmentação dos
conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais
significativos na saúde da população". (Rede Unida)
-
Sua prática possibilita o estabelecimento de estratégias de
planejamento conjunto e articulado entre as políticas públicas, de modo a
garantir a transversalidade das questões de saúde do trabalhador, de
forma complementar, cooperativa e solidária.
-
A intersetorialidade permite o estabelecimento de espaços
compartilhados entre instituições e setores de governos e entre
diferentes esferas de governo - federal, estadual e municipal, que atuam
na produção da saúde, na formulação, implementação e acompanhamento de
políticas, públicas e privadas, que possam ter impacto sobre a saúde da
população. Nos estados e municípios envolve órgãos dos governos locais,
estaduais e municipais, estruturas derivadas dos ministérios que atuam
nas regiões, tais como Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego
(SRTE), Superintendências Regionais do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) e unidades descentralizadas da Fundacentro, Ministério
Público, universidades, centrosde pesquisas, entre outros.
17. Estímulo à participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social:
-
O fortalecimento e a ampliação da participação da comunidade, dos
trabalhadores e do controle social, na formulação, no planejamento, na
gestão e no desenvolvimento das políticas e das ações em saúde do
trabalhador, devem considerar as configurações do mundo do trabalho, as
mudanças nos processos produtivos e na estrutura sindical, e o
crescimento das relações informais e precárias de trabalho.
-
Isso requer a busca de alternativas para a ampliação da representação
dos trabalhadores nas instâncias de participação e controle social.
Dessa forma, além dos trabalhadores inseridos no mercado formal de
trabalho e suas organizações sindicais, sugerem-se esforços que
equacionem a participação de outras representações sociais que
congreguem os trabalhadores de setores da economia informal, de produção
agrícola, pescadores, comunidades tradicionais, trabalhadores rurais
sem terra, quilombolas, trabalhadores autônomos e outros; dos
empregadores; de grupos sociais e movimentos ambientalistas; com vistas à
identificação de soluções e compromissos
que favoreçam a promoção e a proteção da saúde de todos os trabalhadores.
-
A participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social em
saúde do trabalhador deve ser concebida como parte do controle social
do SUS e deve estar em consonância com os princípios e diretrizes da
Política de Gestão Estratégica e Participativa do SUS.
18.
Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos - A capacitação dos
profissionais para o desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador
tem importância estratégica na operacionalização desta Política. Esta
qualificação deverá considerar a
necessidade
de harmonização dos conceitos e valores, e de mudanças nos processos de
trabalho e nas práticas de saúde das equipes multiprofissionais nas
três esferas de gestão do SUS, de modo a operar efetivamente como redes
de atenção solidárias e compartilhadas e na perspectiva de viabilização
de apoio institucional e matricial.
-
Esse processo - abrangendo as esferas cognitivas e das competências,
habilidades e atitudes - deverá proporcionar a preparação de
profissionais, em quantidade suficiente, envolvendo a qualificação nas
dimensões da gestão, planejamento e acompanhamento, da vigilância de
agravos e dos ambientes e processos de trabalho, da assistência
(diagnóstico, tratamento e reabilitação), da produção de informações e
comunicação em saúde e da organização dos serviços.
Entre
as habilidades a serem incentivadas, figura a de permanente diálogo com
as demais instituições responsáveis pelas ações de saúde dos
trabalhadores, os trabalhadores e os empregadores, para que se efetive o
controle social.
19.
Garantia do financiamento das ações de saúde do trabalhador - O
financiamento das ações de saúde é de responsabilidade das três esferas
de governo, conforme o disposto na Constituição Federal e nas Leis nº
8.080, de 1990, e nº 8.142, de 1990. Por isso, o desenvolvimento da PNST
no SUS deve ser garantido através das fontes de financiamento do
próprio sistema de saúde, devendo ser contemplada de modo adequado e
permanente nos orçamentos de saúde da União, Estados, Municípios e DF,
além de outras fontes.
-
As ações de saúde do trabalhador, a serem desenvolvidas conforme esta
Política e as políticas estadual e municipal de saúde, deverão contar
com a respectiva previsão orçamentária, definida nos planos e nas
programações anuais de saúde, nas três esferas de gestão do SUS.
-
Para a garantia do financiamento, as ações de promoção e vigilância,
de atenção à saúde do trabalhador, de educação permanente, entre outras,
devem ser incluídas nos planos de saúde com especificação das
respectivas necessidades orçamentárias e financeiras em cada um dos
blocos de financiamento do SUS, conforme legislação específica, uma vez
que as ações de saúde do trabalhador devem ser executadas por todos os
pontos da rede, conforme a complexidade e densidade tecnológica de cada
uma delas.
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