domingo, 16 de outubro de 2011



PERDER FAZ PARTE



Adriana Takahashi

No esporte como na vida existem bons e maus momentos, mas os pais podem ajudar os filhos a lidar melhor com as derrotas. Assim como as vitórias, as derrotas fazem parte da vida e é importante que as crianças aprendam isso desde cedo. Uma das maneiras de ensiná-las a lidar com as frustrações é a prática de esportes, pois jogando em equipe ou sozinhas sempre estarão em contato com resultados não favoráveis. As mais competitivas acabam sofrendo mais, embora nenhuma goste de ficar em segundo lugar e todas sintam-se felizes com o título de vencedoras. Mas se perderam, o mais importante nestas horas é mostrar que não é o fim do mundo e lembrá-la das vitórias que já tiveram. Para a psicoterapeuta Amelia Nascimento, este trabalho deve ser iniciado bem antes, durante o cotidiano. “Os comportamentos são aprendidos, portanto os pais devem prestar atenção em como eles próprios lidam com as perdas”, diz ela. Como você reage quando seu time fica na lanterna? Desespera-se? No trânsito, ao errar o caminho, tem ataques de raiva? “É importante que os pais mostrem atitudes adequadas como as que esperam dos filhos”, diz Amelia.

Para a psicóloga Adriana Takahashi**, quando os pequenos perdem uma partida, os pais devem orientá-los e motivá-los a melhorar para uma próxima competição. “Também é importante apontar outros ganhos, como as amizades e o aperfeiçoamento que obtiveram de suas habilidades, evitando críticas e desestimulando rivalidades após uma derrota ou má atuação da criança, seja no esporte coletivo ou no individual”, diz ela. Amelia chama atenção para a necessidade de mostrar aos baixinhos que a vida é um eterno jogo de “perde e ganha” e que se hoje não foi seu melhor dia, amanhã, com empenho, pode ser melhor. Outro aspecto a que os pais devem se ater é quanto ao que elas têm e não o contrário. “Destaque as vitórias, os ganhos, o que possuem, como uma casa legal, família, amigos, a escola, a viagem de férias”, afirma a psicoterapeuta. E devem ficar ligados aos desejos das crianças, pois elas podem estar perdendo por se sentirem insatisfeitas com o esporte que praticam. “Para que o esporte seja prazeroso elas precisam desenvolver e aperfeiçoar suas habilidades, fazer novos amigos. Se a opção foi forçada pelos pais para realizar seus sonhos é bem provável que surjam problemas, pois as crianças percebem que existe a expectativa de realização de um sonho que não pertence a elas”, explica Adriana Takahashi. O fato é mais agravante ainda quando praticam um esporte para agradar aos pais, por medo de perder seu amor. “Nestes casos é possível que aconteça muitas frustrações, tanto para as crianças quanto para os adultos que esperam que elas se sobressaiam na atividade”, diz Adriana Takahashi. Para evitar tais sofrimentos, é necessário manter um bom canal de comunicação com os filhos, transmitindo valores que eximam as crianças da obrigação de ter que ganhar todas as competições. Se os pais lidam bem com as frustrações do filho, mostrando o lado saudável da prática esportiva, as chances deles aceitarem é maior. E mais. É importante propôr o esporte como uma diversão, sem exigências ou regras rígidas. “Esta é a melhor maneira das crianças se adequarem e darem continuidade à prática, respeitando sempre o seu nível de desenvolvimento e aprendizado e habilidade motora”, completa Adriana Takahashi.

**Adriana Takahashi - Psicóloga Clínica. Especialista em psicologia hospitalar, com aperfeiçoamento em terapia familiar, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia. Atua em consultório particular há mais de dez anos atendendo crianças, adolescentes e adultos.

Texto de Ângela Senra

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