Posted: 19 Aug 2012 05:45 AM PDT
Os acidentes ocorrem em embarcações artesanais que têm o motor descoberto
Cerca de 40 cirurgiões plásticos
voluntários retornam ao Amapá neste fim de semana para realizar a
segunda etapa de procedimentos em vítimas de escalpelamento. Em maio
deste ano, 32 pacientes receberam próteses expansoras do couro cabeludo,
que agora serão retiradas pelos médicos.
O escalpelamento é uma lesão
considerada grave porque as vítimas têm o couro cabeludo e outras partes
do rosto arrancados total ou parcialmente. Os acidentes ocorrem em
embarcações artesanais que têm o motor descoberto e localizado no centro
para ajudar no equilíbrio. Quando mulheres, homens ou crianças de
cabelos longos se abaixam para tirar água do fundo do barco, os fios se
enroscam no eixo e ocorrem as mutilações.
Em entrevista à Agência Brasil, o
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano
Chaves, explicou que a prótese expansora colocada nos 32 pacientes
consiste em um balão de silicone conectado a uma válvula que,
semanalmente, injeta soro fisiológico. Agora, os cirurgiões farão uso do
couro cabeludo destendido para cobrir áreas onde não há cabelo
(cirurgia reparadora).
O mutirão pretende atender ainda
30 novos pacientes — a maioria, escalpelada há 20, 30 ou mesmo 40 anos.
Segundo Chaves, uma senhora de 70 anos precisou esperar 58 anos para
passar pela cirurgia plástica.
— Como eles permanecem muitos
anos escalpelados, existe uma exposição solar muito frequente dessa
região sem o couro cabeludo e esses pacientes estão desenvolvendo
tumores nessa área.
Dados da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica estimam que pelo menos 300 pessoas tenham sofrido
algum tipo de escalpelamento na região entre Belém e o estado do Amapá.
Desde o início do ano, nove casos já foram contabilizados, sendo três
nos últimos 45 dias. As vítimas incluem uma criança de apenas nove anos.
— As cirurgias são um trabalho
humanitário, voluntário, mas estamos preocupados. Operamos pacientes,
mas acontecem novos casos, tem que haver uma política mais efetiva.
Para ele, existe uma lei federal
sobre ações preventivas do escalpelamento e um trabalho ostensivo da
Defensoria Pública Federal e do governo do Amapá, mas está provado que
esses mecanismos não estão alcançando o nível de eficiência necessário.
Chaves lembrou que o número de
embarcações sem o protetor de eixo ainda é grande no Amapá, já que
muitos condutores recebem o produto mas não o utilizam, porque ele
diminui a área útil interna do barco.
— Precisamos de sensibilidade
política. A situação dos pacientes é muito grave. Uma das soluções é a
modernização das embarcações da região amazônica, um meio de transporte
que eles necessitam. São embarcações muito artesanais. Tem que haver um
projeto de governo no sentido de modernizar essas embarcações.
Fonte: R7
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