Posted: 19 Mar 2013 11:06 AM PDT
Pesquisadores
da USP descobrem formas que dificultam ou impedem a digestão de insetos
responsáveis por males como a dengue e a febre amarela, levando-os à
morte
Resultado
recente de pesquisa desenvolvida pelo Departamento de Bioquímica do
Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) abre caminho
para estudos que poderiam resultar em vacina capaz de acabar com insetos
vetores de doenças como a dengue e a febre amarela. O mesmo trabalho,
que atua em várias linhas, gera possibilidades de controle de pragas que
destroem lavouras de diversos tipos. Em ambas as situações, a
eliminação ou o controle dos insetos é possível usando-se conhecimentos
profundos do sistema digestório desses seres. O objetivo é dificultar
(ou impedir) a digestão, causando a morte do inseto.
A
pesquisa, conduzida pelo professor titular e coordenador do laboratório
de biologia de insetos Walter Ribeiro Terra, juntamente com a também
professora titular do mesmo laboratório Clelia Ferreira, já se encontra
na quarta etapa. "A ideia surgiu há cerca de 20 anos, quando ficou
evidente a necessidade de novas formas de controle desses insetos, já
que os métodos tradicionais, geralmente com o uso de inseticidas, são
nocivos ao meio ambiente", explica Terra. "Então, fomos buscar conhecer o
sistema digestório dos insetos, que é uma parte menos protegida." O
objetivo era descobrir algo que ao ser ingerido pelos insetos
prejudicaria a digestão e absorção de nutrientes, levando-os à morte.
"Quando
começamos, o conhecimento sobre o tubo digestório era precário. Fomos
estudando cada aspecto do sistema, dividindo os insetos em grupos
diferentes, para ver como evoluíram ao longo do tempo. Fizemos um
levantamento das enzimas principais e que tipo de proteínas são mais
importantes para as células", diz o professor.
Enzima
Uma
das descobertas mais recentes e de grande importância para a saúde diz
respeito a um tipo de enzima chamado tripsina, existente também nos
humanos, e importante para a digestão de proteínas. Durante a pesquisa, a
equipe do professor Walter Terra descobriu que, além das tripsinas já
existentes no organismo de mosquitos dos gêneros Culex e Aedes, que são
parecidas entre si, é produzida uma nova tripsina quando o mosquito
chupa o sangue para se alimentar, que é diferente das demais. "As
tripsinas que todos esses mosquitos têm são mais parecidas entre si do
que essa tripsina que é produzida no momento em que ele chupa o sangue.
Ou seja, ela é razoavelmente diferente das tripsinas que o próprio
inseto já tem. E ela é importante no processo digestivo. Se afetada,
também seria afetada a digestão", enfatiza Terra.
Por
meio da descoberta e com o objetivo de inibir a ação dessa tripsina
gerada no momento da picada, o professor explica que se abre caminho,
por exemplo, para a produção de uma vacina que funcionaria como uma
espécie de "feitiço contra o feiticeiro". Ou seja, ao ser injetada em
humanos, a vacina faria com que o organismo gerasse anticorpos contra a
tripsina do mosquito, que, por sua vez, agiriam como inibidores dessa
mesma tripsina do mosquito no momento da picada, atrapalhando a digestão
e, consequentemente, levando à morte do inseto. Uma esperança para o
combate a vetores de doenças como a dengue e a febre amarela.
"Essa
tripsina pode ser produzida em larga escala, em laboratório, para a
produção da vacina. Mas, deve ficar claro que, por enquanto, isso é
apenas uma hipótese. Antes de qualquer coisa, é preciso que sejam feitos
estudos por imunologistas para se ter certeza de que a vacina não
causaria nenhum tipo de mal para o ser humano, pois nós também temos
tripsinas, mas que são diferentes da tripsina do mosquito", ressalta o
professor.
Lavouras
No
âmbito da agricultura, outra importante parte do estudo coordenado por
Walter Terra concentra-se na membrana peritrófica, uma espécie de tubo
de celofane responsável entre outras coisas pela separação de nutrientes
durante o processo digestivo. “Descobrimos várias coisas relacionadas à
membrana peritrófica. Por exemplo, durante o processo de separação,
algumas enzimas passam e outras não. Por isso, para o inseto é tão grave
lesioná-la”, diz.
Para
acabar com algumas pragas que prejudicam as lavouras, uma solução é
inserir na planta enzimas que lesionam essa membrana. "Algumas plantas,
na guerra contra os insetos, já são capazes de produzir enzimas que
atuam nessa membrana, fazendo rasgos. Com isso, a função é prejudicada",
afirma. "Poderiam ser pegos genes dessas plantas e inseridos na
lavoura. Não traz dano ambiental, mas é preciso haver um estudo para que
isso seja feito de maneira adequada", afirma o pesquisador,
referindo-se à técnica de pegar genes de uma planta e inseri-los em
outra, de forma a acabar com a praga, mas tornando-a uma planta
transgênica. Terra lembra que a polêmica prática consiste em pegar um
gene de um ser e colocá-lo em outro. "Se vai gerar problema ou não,
depende do que é feito. Existem departamentos específicos para estudar
as reações", afirma.
Para
usar um exemplo já existente do controle de pragas, Terra cita o milho
de origem americana (em alguns casos também o brasileiro): "O milho é
alterado e produz uma proteína capaz de se ligar à célula do intestino
do inseto e essa célula morre quando ocorre a ligação. O gene usado é da
bactéria Bacillus thuringiensis (BT), que quando inserido no milho,
lesa as lagartas, mas é inofensivo para nós". Procedimento semelhante,
inclusive, poderia ser usado também para destruição de larvas de
mosquitos, com a inserção de tais genes na água em que elas se
reproduzem.
Em
nova fase da pesquisa, recém-iniciada, a equipe de Terra agora quer
conhecer as bases moleculares do sistema digestório dos insetos. O novo
objetivo é descobrir quais são as moléculas que dão instruções para
fazer as proteínas e assim dar continuidade ao estudo e indicar
possíveis soluções de se acabar com pragas ou vetores de doenças.
Disponível em: <http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/03/18/interna_tecnologia,358689/pesquisa-encontra-nova-forma-de-matar-mosquitos-como-o-da-dengue.shtml>.Acesso em: 19 mar. 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário