Especialistas esclarecem dúvidas sobre uso da pílula anticoncepcional
Publicado em março 5, 2013 por HC
Ícone da Revolução Sexual, a pílula anticoncepcional é atualmente um dos métodos contraceptivos mais usados pelas mulheres. A história de sua descoberta, no início dos anos 1960, é um tanto curiosa: o medicamento é fruto de estudos de pesquisadores que, na época, buscavam uma cura para a infertilidade feminina.
Embora utilizada há mais de 40 anos como meio de evitar a gravidez indesejada, seu uso ainda incita dúvidas em muitas mulheres. Para responder a esses questionamentos, a endocrinologista Lizanka Marinheiro – que é professora da pós graduação em saúde da mulher e da criança e em medicina clínica aplicada à saúde da mulher e da criança do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (IFF/Fiocruz) – e a ginecologista pós-graduada em endocrinologia feminina pelo IFF/Fiocruz, Renata Morato, concederam entrevista à Agência Fiocruz de Notícias na qual falam sobre os benefícios, as contraindicações e os mitos que envolvem o uso do medicamento.
A pílula pode ser usada da adolescência até a menopausa. Não existe uma idade determinada para iniciar e terminar seu uso, mas existem situações onde ele é contra-indicado. Quando falamos do uso de anticoncepcional hormonal, mais importante que a idade é a presença de fatores de risco para o seu uso.
Quais são os componentes das pílulas que estão hoje no mercado? A redução no nível hormonal presentes nas pílulas atualmente trouxe que tipos de benefícios para as mulheres?
As pílulas anticoncepcionais podem conter na sua composição estrógeno e progestágeno juntos, são as chamadas pílulas combinadas, ou apenas progestágeno. No Brasil, o estrógeno usado na maioria das pílulas é o etinil-estradiol e o que muda de uma pílula para outra é a sua dosagem. Atualmente, temos o que chamamos de pílulas de baixa dosagem, que são as pílulas com dose de etinil-estradiol menor que 50 mcg. Hoje no mercado, só temos pílulas de baixa dosagem que variam de 35 mcg até 15 mcg. Em relação aos progestágenos existem diversos tipos que variam no seu efeito clínico. Existem progestágenos que diminuem os efeitos dos hormônios sexuais masculinos, outros que diminuem a retenção de líquidos, por exemplo.
A redução no nível hormonal das pílulas se refere à dosagem de etinil-estradiol. Sabemos que o principal fator de risco para trombose (formação de coágulo no sangue dentro dos vasos sanguíneos) nos anticoncepcionais hormonais é o componente estrogênico. A redução da dose de estrógeno para menos de 50 mcg (pílula de baixa dosagem) serviu para diminuir, principalmente, o risco de trombose.
Além de evitar a gravidez indesejada, há outros benefícios do uso da pílula anticoncepcional? Quais?
Além de prevenirem a gravidez, as pílulas também podem regularizar o ciclo menstrual, diminuir o fluxo menstrual, diminuir a ocorrência de cólicas menstruais, melhorar acne leve e hirsutismo (pêlos em quantidade aumentada e em locais não habituais como buço e queixo) e proteger contra alguns tipos de cânceres como ovário e endométrio (parte interna do útero).
Há riscos quanto ao uso de pílula anticoncepcional?
Sim. As pílulas anticoncepcionais, assim como qualquer outro medicamento, podem causar alguns efeitos colaterais. Estes podem variar desde leves alterações, como enjôo, vômito, dor de cabeça, tonteira, cansaço, ganho de peso, acne, cloasma (mancha escura na face), mudança de humor, diminuição do desejo sexual ou varizes até alterações mais graves como trombose e tromboembolia pulmonar. A trombose representa a coagulação do sangue dentro dos vasos sanguíneos, que mais frequentemente ocorre nas pernas, obstruindo a passagem de sangue nesse vaso. A embolia pulmonar ocorre quando há um deslocamento de partes desse trombo para os vasos do pulmões, causando dificuldade de respirar, que pode ser fatal.
Que medidas podem ser adotadas pelas mulheres usuárias da pílula de forma a reduzir o risco de adquirir esses problemas?
Para evitar o desenvolvimento dessas complicações, o ideal é que a pílula seja usada somente após uma consulta detalhada, onde serão investigadas possíveis contra-indicações para o uso do contraceptivo hormonal. Como todas as drogas, os anticoncepcionais são contra-indicados em algumas situações e sofrem interações quando tomados com outros medicamentos, como alguns antibióticos, que podem diminuir o efeito da pílula e aumentar o risco de gestação indesejada. Não são todas as mulheres que podem fazer uso de pílula e cabe ao profissional de saúde que está atendendo a mulher escolher o método contraceptivo mais adequado para o seu perfil. O mais importante é que nenhuma mulher deve usar a pílula por indicação de amigas ou parentes. Consultar o profissional de saúde é fundamental para a escolha do melhor método contraceptivo.
A pílula aumenta o risco de nódulos benignos e câncer de mama?
Os estudos ainda são muito controversos e contraditórios. Nenhum estudo conseguiu comprovar um possível aumento da incidência do câncer de mama com o uso da pílula, embora pareça haver. Novos estudos são necessários para resolver essa questão.
Em que casos o uso da pílula não é recomendado e por quê?
As pílulas são contra-indicadas em diversas situações, em que podem agravar determinadas doenças e aumentar o risco de trombose e suas complicações. São elas: história prévia ou atual de câncer de mama; história prévia ou atual de trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar; hipertensão arterial não controlada ou com doença vascular; trombofilias (doenças com risco de desenvolver trombose); doença cardíaca isquêmica atual ou passada (angina ou infarto); história prévia ou atual de acidente vascular cerebral (derrame); diabetes descontrolado ou com doença vascular; válvula cardíaca metálica; enxaqueca com aura; mulher acima de 35 anos e tabagista; cirrose hepática; hepatite aguda; tumor no fígado; amamentação com menos de 6 semanas pós-parto; e pós-parto sem amamentação com menos de 3 semanas.
Há casos em que deve haver uma pausa no uso da pílula? Em que situações isso é recomendado?
Não. A interrupção do uso da pílula durante um período para dar “um intervalo para o organismo descansar e não acostumar com o remédio” é mito. Não há evidências de que a pausa do uso de pílulas anticoncepcionais traga qualquer benefício à mulher. Pelo contrário, esta prática de pausa do uso durante um intervalo de tempo pode ser o suficiente para o surgimento de uma gestação indesejada. Na verdade, existem algumas pílulas cuja tomada se faz de forma contínua, sem interrupção, ou seja, não há pausa no uso entre as cartelas em cada ciclo. Nesses casos podem ocorrer sangramentos irregulares e dependendo do tipo de pílula em uso pode ser necessária uma pequena pausa, de poucos dias, durante um ciclo, para tentar reverter esse quadro. Deve-se sempre lembrar que qualquer alteração na tomada do uso da pílula só deve ser feita com indicação após consulta médica.
Algumas mulheres, após interromperem o uso da pílula, relatam ter tido dificuldade de engravidar. O uso contínuo desse método anticoncepcional pode realmente provocar essa dificuldade? Por quê?
Não. Na verdade, mulheres em uso prolongado de anticoncepcional hormonal geralmente demoram cerca de 3 a 4 meses para regularizarem o ciclo menstrual e, consequentemente, reverterem a fertilidade. Atualmente muitas mulheres usam pílula anticoncepcional durante um longo período da sua vida reprodutiva e só vão tentar engravidar em idades mais avançadas. O que pode acontecer é que a mulher que fez uso de pílula durante um longo período na vida e interrompe seu uso para engravidar pode descobrir tardiamente a presença de algum fator de infertilidade que já apresentava antes.
Há alguma previsão de lançamento de novas pílulas com níveis hormonais mais baixos e boa eficácia?
Atualmente, as pílulas utilizadas são chamadas de baixa dosagem por apresentarem uma dose de etinil-estradiol menor que 50 mcg. Até o presente momento a pílula contendo 15
Entrevista realizada por Danielle Monteiro, da Agência Fiocuz de Notícias e publicada pelo EcoDebate, 05/03/2013
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