Posted: 19 Aug 2012 04:47 AM PDT
O
 mês de março fechou com um recorde histórico de licenças médicas 
concedidas para trabalhadores, de todos os setores, se tratarem de 
dependência química.
Em
 31 dias, 4.120 benefícios previdenciários do tipo foram registrados 
pelo governo federal, uma média de cinco afastamentos por hora.
O
 levantamento feito nos bancos de dados do Ministério da Previdência 
Social mostra que o aumento é anual e gradativo. Entre 2006 e 2011, o 
crescimento acumulado de licenças nesta categoria foi de 69,9%, pulando 
de 24.489 para 41.534 no último ano.
Na
 comparação, os afastamentos por dependência química cresceram mais do 
que o dobro da elevação registrada de postos de trabalho com carteira 
assinada no País. Enquanto os empregos formais tiveram alta de 6% entre 
2010 e 2011 (segundo o IBGE), as licenças deste tipo ampliaram 13,9% no 
mesmo período. 
Evolução de licenças trabalhistas
Dependência química cresce entre os motivos para o afastamento do trabalho
O
 álcool é a locomotiva do aumento, sendo a droga que mais aparece como 
responsável por afastar do trabalho por mais de 15 dias médicos, 
advogados, funcionários da construção civil, professores e todos outros 
empregados com carteira assinada. Em seguida, probleas com cocaína, 
maconha e medicamentos calmantes são apontados como motivos para os 
afastamentos.
Para
 o diretor do Departamento de Políticas de Saúde e Segurança Ocupacional
 do Ministério da Previdência, Cid Pimentel, a ampliação de licenças por
 uso compulsivo de substâncias entorpecentes evidencia três fenômenos: 
“Há um evidente aumento do consumo de drogas pelos brasileiros e isso 
repercute, de forma devastadora, no desempenho profissional”, diz.
“Mas
 há também uma maior sensibilização por parte das empresas em reconhecer
 a dependência química como uma doença e não mais como uma falha de 
caráter. Outra influência no aumento é o fato da notificação estar mais 
precisa. Antes os casos ficavam escondidos”, explica Pimentel.
A
 vendedora Alice, 20 anos – atualmente em tratamento em uma clínica de 
reabilitação particular – confirma que bebeu durante o expediente por 
anos até ser convidada pelo chefe a buscar ajuda especializada. Acredita
 que muitos clientes sentiam o cheiro etílico das doses de pinga e 
cerveja, que começava a beber às 10h.
“Meu
 chefe falou comigo. Disse que me daria todo apoio caso eu procurasse 
ajuda médica e que poderia voltar a trabalhar depois de recuperada. Eu 
aceitei a oferta, pedi licença médica de três meses, mas tenho medo de 
não ter mais trabalho quando sair.”
Portas fechadas
O
 medo de Alice não seria justificado pelas leis trabalhistas, que 
garantem 180 dias de estabilidade após tratamento médico. Mas na 
prática, afirma o coordenador da Federação Brasileira de Comunidades 
Terapêuticas, Juliano Marfim, ainda há muitas dispensas após a alta dos 
dependentes.
“Há um preconceito muito forte por parte dos empregadores e, após o tratamento, as demissões são constantes”, afirma.
“Nos
 nossos cursos de formação de terapeutas para tratar de dependentes 
químicos, temos um número muito alto de ex-usuários que simplesmente não
 conseguiram voltar para as suas funções de origem. Eu mesmo, que estou 
em abstinência há 5 anos, não consegui mais trabalho na área 
administrativa, onde sempre atuei. Acabei trabalhando com as drogas.”
Mauro, 41 anos, limpo há 9 meses, também não voltou mais para o ramo comercial.
“As portas se fecham”, diz ele que agora trabalha na recuperação de ex-usuários.
“Essa
 postura por parte das empresas precisa e deveria mudar. Porque a pessoa
 para conseguir sustentar o vício acaba desenvolvendo algumas 
habilidades de sedução, de improvisação, de convencimento, por exemplo, 
que podem ser revertidas positivamente e exploradas no mercado de 
trabalho”, acredita Marfim.
Rede de apoio
Apesar
 das dificuldades relatadas pelos ex-dependentes para voltar ao mercado 
de trabalho, algumas empresas decidiram criar uma rede de apoio para 
acolher os profissionais envolvidos com álcool e drogas.
Por
 meio das equipes de recursos humanos e de médicos do trabalho, as 
instituições fazem a abordagem de funcionários com indícios de abuso de 
drogas lícitas e ilícitas e estendem a oferta de terapia de reabilitação
 também às famílias. É o que conta Carlos Netto, diretor de gestão de 
pessoas do Banco do Brasil, uma das empresas citadas como referência 
pela Previdência Social na área de atendimento da dependência química.
“Um dos nossos focos de atuação é a reinserção do profissional encaminhado ao tratamento”, conta Netto.
“Ele
 é gerenciado por nossas equipes e, em alguns casos, realocado em outros
 setores, ficando mais próximo de casa. Entendemos que o trabalho é um 
mecanismo importante na recuperação, garante não só a renda mas a 
autoestima.”
Relação com a profissão
A
 dependência de álcool é uma doença de múltiplas causas, influenciada 
pela genética, pelos hábitos, pela história de vida e também pela 
ocupação prossifional. Os cientistas ainda não conseguem responder com 
plena certeza as razões concretas que levam uma pessoa ficar viciada, 
mas as pesquisas encontram cada vez mais um elo com a profissão 
exercida.
A
 última publicação que coloca luz nesta relação foi feita por médicos 
canadenses. Realizado com 10.155 trabalhadores, o estudo avaliou as 
contribuições da posição hierárquica dentro da empresa e das condições 
de trabalho, como salário, estresse e demandas físicas e psicológicas, 
para o consumo indevido do álcool no ambiente de trabalho.
De
 acordo com estudiosos do Centro de Informações sobre Álcool (Cisa) do 
Brasil – que avaliaram os resultados – “o cargo profissional é sugerido 
como um importante fator motivador para o uso e abuso do álcool, muito 
mais influente do que as condições de trabalho.”
Executivos,
 diretores e administradores de altas gerências (“upper managers”) 
formam um grupo com padrão de consumo de alto risco, com propensão de 
beber exageradamente (10 ou mais doses para mulheres, e 15 ou mais doses
 para homens) 139% maior do que a apresentada pelos trabalhadores 
abstêmios ou que não haviam bebido na semana anterior à pesquisa.
No
 Brasil, inquérito feito pelo Ministério da Saúde já havia constatado 
que as pessoas com maior escolaridade são as que mais exageram no 
consumo etílico. Os dados mostram que 20,1% dos adultos com mais de 12 
anos de estudo bebem acima da média, índice que cai para 15,9% entre os 
menos instruídos (com até 8 anos de estudo).
Ainda
 que a dependência química tenha impacto crescente no ambiente de 
trabalho, esta doença não figura entre as 10 que mais afastam 
trabalhadores. No ranking, dor nas costas é a primeira entre os 
benefícios previdenciários concedidos. Conheça as outras: 
- Dor nas costas ocupa o primeiro lugar
 - Dor no joelho aparece como segundo motivo dos afastamentos
 - Hérnia inguinal afasta 80 mil pessoas por ano e está em 3º lugar
 - Depressão está em 4º lugar no ranking de afastamentos
 - Mioma uterino aparece em 5º lugar entre os afastamentos
 - Varizes também estão no ranking, na sexta posição
 - Doença isquêmica do coração ocupa a 7ª posição
 - Hemorragia na gravidez também afasta muitas mulheres do trabalho e está na oitava posição
 - Câncer de mama está na 9ª posição da lista de afastamentos
 - Na décima posição está a chamada bexiga caída
 
Fonte iG
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