sexta-feira, 28 de junho de 2013

Você sabia?


Dermatologia Integrativa: Um Olhar Integral ao Paciente

A dermatologia integrativa, prática da dermatologia que se propõe a ampliar o olhar ao paciente, observando não somente os fatores físicos, mas os emocionais e psíquicos que interferem na saúde de sua pele, foi tema da conversa com a dermatologista Cristiane Benvenuto, de São Paulo (SP).

Tal abordagem terapêutica, que surgiu nos Estados Unidos na década de 70 e que vem ganhando força por aqui, parte do pressuposto de que determinadas doenças da pele decorrem de fatores emocionais ou são agravadas por eles. Assim, o dermatologista de abordagem integrativa utiliza-se de profundo conhecimento do seu paciente, para trata-la ‘além da medicalização’. Para tratá-lo como um todo.

“Muitas doenças cutâneas apresentam claramente fatores psicológicos em seu desencadeamento ou agravamento (…). A doença e seu tratamento dependerão, portanto, de um profundo entendimento dos fatores pessoais (…) que podem afetar o curso da doença, a aceitação do tratamento e, finalmente, a obtenção da saúde e do bem-estar desejados.”

Confira a entrevista:

Instituto Oncoguia – O que quer dizer dermatologia integrativa?
Dr. Cristiane – A dermatologia integrativa é a prática da dermatologia em que o foco do tratamento é o paciente e não apenas a doença que ele apresenta. A pessoa é tratada como um todo, composto por corpo, mente e espírito. A doença e seu tratamento dependerão, portanto, de um profundo entendimento dos fatores pessoais (crenças, estilo de vida, fatores psicológicos e sociais) que podem afetar o curso da doença, a aceitação do tratamento e, finalmente, a obtenção da saúde e do bem-estar desejados. O tratamento segue as bases da medicina convencional (alopática), mas pode ser associado a técnicas complementares, integrando diversas abordagens terapêuticas para atender as necessidades do paciente.

Instituto Oncoguia – Fale sobre a história da dermatologia integrativa, ou seja, do momento em que a dermatologia passou a considerar os aspectos psíquicos do ser humano enquanto fatores ligados à saúde da pele.
Dra. Cristiane - A medicina integrativa surgiu formalmente na década de 70 em instituições de ensino americanas. Aos poucos foi sendo disseminada e adotada pelas diversas especialidades médicas, o que poderia ser um paradoxo, já que em suas bases está a visão holística do paciente. Embora falemos em dermatologia integrativa, não será examinada apenas a pele do paciente. A pele é o motivo pelo qual o paciente procura o profissional, mas seu tratamento dependerá da abordagem do paciente como um todo.  Costumo ver isso, em parte, como um resgate da antiga medicina em que o médico conhecia a pessoa, sua família, suas necessidades e tomava decisões baseado nesse conhecimento e nessa forte relação.

Instituto Oncoguia – A dermatologia integrativa é, então, uma abordagem multidisciplinar em saúde?
Dra. Cristiane – Quando nos propomos a ver o paciente como uma grande unidade formada pela interação de aspectos físicos e emocionais, é clara a necessidade da abordagem multidisciplinar. O médico cria um forte vínculo com o paciente e procura levá-lo a perceber o seu poder interior de restabelecer o equilíbrio do organismo, de buscar e participar ativamente de sua cura, mas dificilmente conseguirá atingir esse objetivo sozinho. Outros profissionais, médicos e não médicos participam trazendo sua expertise e visão, podendo ser incluídos no tratamento, por exemplo, práticas como a acupuntura, o relaxamento e a meditação.

Instituto Oncoguia – É comum, hoje, encontrar-se médicos dermatologistas que optem pelo viés integrativo da dermatologia? Esse conhecimento e prática vêm sendo ampliados no Brasil? 
Dra. Cristiane – Sim. Nem sempre o profissional rotula seu trabalho como dermatologia integrativa, mas utiliza abordagens de tratamento que levam em consideração aspectos emocionais, físicos e sociais de seus pacientes. Muitas doenças cutâneas apresentam claramente fatores psicológicos em seu desencadeamento ou agravamento. Por muito tempo esses fatores foram ignorados na prática médica, mas nos últimos anos cada vez mais estudos vêm trazendo evidências de sua importância no processo da doença. Também são cada vez mais comuns estudos dos efeitos das terapias complementares no tratamento dos pacientes. Quanto mais evidências forem geradas nesses estudos, maior será a adoção desta abordagem pelos médicos.

Instituto Oncoguia – Em uma abordagem integrativa da dermatologia, a relação médico paciente é um fator preponderante para a efetividade do tratamento? Por quê?
Dra. Cristiane – Na medicina como um todo a relação médico-paciente é fator preponderante. Na verdade a relação de qualquer terapeuta com seu paciente é essencial no tratamento. Essa relação permite que o médico entenda melhor o que está ocorrendo com seu paciente e escolha uma terapia que faça mais sentido para aquele indivíduo, de acordo com suas características físicas, psíquicas e sociais, seus valores e crenças. Por outro lado a adesão ao tratamento também exige que o paciente confie plenamente em seu médico e se sinta à vontade para questionar suas orientações.

Instituto Oncoguia – Um paciente com câncer de pele ou portador de lesões pré-cancerosas pode ser tratado dentro da abordagem da dermatologia integrativa?
Dra. Cristiane – Certamente. Desde que a abordagem recomendada pelos estudos científicos convencionais não seja retardada ou abandonada por isso. É importante reforçar que a abordagem integrativa não ocorre no lugar na medicina convencional, ela complementa e amplia a abordagem convencional.

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