Solidão parece enfraquecer o sistema imunológico
Nova pesquisa descobriu que pessoas que se sentem sozinhas estão mais sujeitas a quadros de inflamação e de ativação de vírus que costumam se aproveitar do sistema imune enfraquecido
A solidão pode
enfraquecer o sistema imunológico de uma pessoa e deixá-la mais
vulnerável a contrair doenças que vão desde herpes até as relacionadas a
quadros de inflamação crônica, como artrite reumatoide e diabetes tipo
2. Foi o que concluiu um estudo apresentado neste sábado no encontro
anual da Sociedade para Psicólogos Sociais e da Personalidade, na cidade
americana de Nova Orleans.
Para realizar a
pesquisa, a equipe, coordenada por Lisa Jaremka, da Universidade do
Estado de Ohio, nos Estados Unidos, se baseou nos dados de pessoas que
haviam participado de dois estudos diferentes. Em um deles, foi avaliada
a saúde de 200 mulheres de
51 anos em média que haviam concluído o tratamento contra o câncer de
mama de dois meses a três anos antes do início da pesquisa. No outro,
participaram 134 adultos saudáveis com excesso de peso.
Vírus — O
estudo de Lisa Jaremka foi feito em duas etapas. Na primeira, as 200
mulheres que sobreviveram ao câncer de mama responderam a um
questionário desenvolvido pela Universidade da Califórnia, Los Angeles,
que mede o nível de solidão que uma pessoa sente. Além disso, os
pesquisadores analisaram amostras de sangue dessas participantes,
especialmente os níveis de anticorpos contra os vírus Epstein-Barr, que
provoca a mononucleose, e o citomegalovírus (CMV), que pertence à
família do vírus do herpes e da catapora. De acordo com os autores,
ambos os vírus são comuns em humanos e podem permanecer inativos no
organismo do indivíduo infectado. No entanto, quando ativados, resultam
em níveis elevados de anticorpos, mesmo que não produzam sintomas
característicos das doenças que provocam.
Segundo os resultados,
as mulheres que se sentiam mais solitárias foram as que apresentaram os
maiores níveis de anticorpos contra ambos os vírus, o que caracteriza a
reativação do vírus, e esse quadro foi associado a uma presença maior de
sintomas como dores e fadiga.
Proteína — A
segunda parte da pesquisa da Universidade do Estado de Ohio foi feita
os com 134 adultos com excesso de peso e com 144 mulheres entre as que
foram curadas do câncer de mama. Esses indivíduos também tiveram suas
amostras de sangue analisadas, mas nesse caso os pesquisadores olharam
para os níveis de proteínas que, em grandes quantidades, estão
relacionadas a quadros de inflamação no organismo capazes de desencadear
doenças coronarianas, diabetes tipo 2, Alzheimer, artrite reumatoide e
comprometimento cognitivo.
A equipe também submeteu
esses participantes a uma situação estressante: eles precisaram
resolver uma questão matemática na frente de uma câmera de vídeo e de
três jurados. Logo após essa atividade, os pesquisadores deram aos
participantes um composto chamado lipopolissacarídeo, molécula que é
encontrada em bactérias e é capaz de provocar uma resposta imune no
nosso organismo.
Os autores, então,
descobriram que aqueles que ficaram mais estressados e também relatavam
sentir mais solidão (que é uma forma de stress) foram os que
apresentaram os maiores níveis da proteína interleucina 6, que é
associada a quadros de inflamação, em resposta à situação de stress.
Esse resultado foi semelhante tanto para os adultos com excesso de peso
quanto para as mulheres que se curaram do câncer.
"É evidente que a má
qualidade de vida, em especial a solidão, está relacionada a uma série
de problemas de saúde. Nossa pesquisa é importante para mostrar que
pessoas sozinhas estão em maior risco de saúde do que aqueles que são
mais socialmente ativas", diz Jaremka.
Fonte: Medicina Executiva
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