Saúde Entrevista - Depressão em idosos pode estar relacionada à solidão e perda de autonomia social
Terapia e acolhimento podem ser decisivos para o sucesso do tratamento da depressão entre o público da terceira idade
por Wander Veroni
Solidão, falecimento de
entes queridos, irritabilidade e perda de autonomia social são alguns
dos fatores que podem levar o idoso a desenvolver depressão. É o que
explica a psicóloga Ana Paula Dias Ladeira, de 33 anos, que trabalha
como coordenadora da Escola da Maturidade do Centro Universitário de
Belo Horizonte (UniBH). “Com o avançar da idade a pessoa está mais
propensa às perdas, tanto mortes e doenças, como as perdas simbólicas
dos papéis de mãe e pai, quando os filhos saem de casa; os
profissionais, por conta da aposentadoria, o que faz com que a pessoa
seja afastada do convívio social e da sua função para a sociedade”.
No entanto, a psicóloga
completa que a depressão pode trazer outros problemas de saúde e que o
acolhimento do profissional e das pessoas envolta do idoso é fundamental
para o sucesso do tratamento. “Geralmente, a depressão aparece quando o
paciente apresenta rebaixamento do humor, redução da energia e
diminuição da atividade. Também podem ocorrer problemas no sono, na
memória, no apetite e na libido. No caso do idoso, é preciso ter um
cuidado especial. O tratamento pode ser feito por meio de psicoterapia
ou análise e também pode estar associada ao uso de psicofármacos
recomendado por um Psiquiatra ou Geriatra que podem prescrever remédios
específicos. O acolhimento também faz toda a diferença, pois o paciente
percebe que não está sozinho e tem alguém com quem conversar”, explica.
Para a aposentada Maria
da Piedade Nunes, de 67 anos, a depressão veio depois que os filhos
saíram de casa. De uma hora para outra, a casa que era cheia, ficou
vazia e ela não tinha mais com quem dividir as coisas do dia-dia. “Meu
maior medo era achar que poderia ir dormir e não acordar viva dentro de
casa sem ninguém perceber. Meus filhos foram morar em outras cidades
depois que casaram e não queria ficar ligando todos os dias para não
incomodar. Passei a ficar muito dentro de casa e via o dia passar pela
janela. Não tinha sono, dormia pouco e me alimentava mal. Até que um
dia, conversando com uma vizinha, ela me disse que poderia estar com
depressão e me indicou um especialista”.
Maria da Piedade conta
ainda que está em tratamento e que tem se dedicado a outras atividades
para passar o tempo. “Cheguei num ponto de que só saia de casa para ir
ao médico ou no banco. Quando comecei a terapia percebi que a minha vida
não tinha terminado e que poderia fazer outras coisas. Mas falo por mim
mesmo que não é fácil reconhecer isso. Tive muita resistência e custei a
contar para os meus filhos que estava em tratamento de depressão.
Contar foi libertador porque vi que não estava sozinha. Passei a
interagir mais com meus vizinhos e me matriculei num curso de
informática. Hoje, não fico mais isolada em casa”, revela.
Terceira Idade
O envelhecimento da
população é uma realidade não só do Brasil, mas de todo o mundo. Uma
estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que até o ano de
2025, a população idosa no Brasil crescerá 16 vezes, contra cinco vezes
da população total. Isso classifica o país como a sexta população do
mundo em idosos, correspondendo a mais de 32 milhões de pessoas com 60
anos ou mais de idade. De acordo com os últimos dados divulgados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas com
mais de 60 anos no Brasil somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o
dobro do registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7
milhões de pessoas.
Com isso, uma profissão tem ganhado destaque no mercado de trabalho: o Cuidador de Idosos.
Trata-se de um profissional habilitado para ajudar o idoso no seu
dia-dia, principalmente para aqueles que têm algum problema de saúde,
como demência ou restrição motora. A psicóloga Ana Paula Dias Ladeira,
coordenadora da Escola da Maturidade do UniBH, ressalta que é importante
avaliar a formação técnica ou acadêmica deste profissional antes de
contratá-lo e a importância de se preparar economicamente para esta
despesa. “Deve-se verificar a experiência e aptidão do cuidador, além do
imprescindível afeto por pessoas idosas. Sem dúvida, o planejamento
econômico é algo que deve ser feito por todas as pessoas adultas visando
seu futuro após aposentadoria, época em que as possibilidades de ganhar
mais dinheiro e as fontes se tornam mais escassas. Esta providência
visa viver os anos da maturidade com maior qualidade de vida”.
Foto: iStock.
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