domingo, 9 de junho de 2013

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Saúde Entrevista – Depressão pode levar à Síndrome do Esgotamento Profissional

Em entrevista, a Dra. Elizabeth Dias, fala sobre esta doença que causa quadro depressivo, esgotamento físico e emocional, além de uma série de problemas no ambiente de trabalho.

por Wander Veroni
Ilustração: Blog Aldo Corrêa de Lima / Reprodução.

Falta de motivação, péssimas condições no ambiente de trabalho, desgaste emocional com os colegas ou até mesmo com o próprio chefe. Estes são alguns sintomas que podem levar à depressão no ambiente no trabalho. No entanto, muitas vezes, se a pessoa não ficar atenta consigo mesma, este quadro pode evoluir para a Síndrome de Burnout – também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.

Trata-se de um distúrbio psíquico descrito em 1974 pelo médico norte-americano por Freudenberger, cuja principal característica é o estado de tensão emocional, estresse crônico e quadro depressivo que pode afetar diretamente a saúde do trabalhador. A síndrome se manifesta, especialmente, em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.

Para falar mais sobre este assunto, a Equipe de Web Jornalismo do Canal Minas Saúde conversou com a médica sanitarista do trabalho, Dra. Elizabeth Dias, especializada em saúde do trabalho e professora do Departamento medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Acompanhe a entrevista:

1) Dra. Elizabeth, em linhas gerais o que é a Síndrome de Burnout?
 
A síndrome de Burnout – também denominada de “sensação de estar acabado” ou “síndrome do esgotamento profissional”, é um tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem de si e dos outros.

O trabalhador que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e qualquer esforço lhe parece inútil.

2) Uma pessoa que está passando por uma grande carga de estresse no trabalho possa a vir ser diagnosticada com depressão?
 
Nem sempre, pois estamos falando de situações ou de quadros de doenças distintos, embora apresentam aspectos em comum. Porém, não existe esta evolução determinística de uma levar ou causar a outra. Cada caso é um caso e cabe ao médico construir esta avaliação junto com o paciente. 

Os episódios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas atividades cotidianas, sendo comum uma sensação de fadiga aumentada. O paciente pode se queixar de dificuldade de concentração, pode apresentar baixa autoestima e autoconfiança, desesperança, ideias de culpa e inutilidade, além de visões desoladas e pessimistas do futuro, ideias ou atos suicidas.

Por isso, caso o paciente já esteja com depressão no ambiente de trabalho, ele precisa ficar atento e procurar tratamento para que uma coisa não evolua para outra.



3) A Síndrome de Burnout pode afetar a qualidade do sono também? Quais as doenças que podem estar relacionadas?
 
Nesta Síndrome, o sono encontra-se frequentemente perturbado, geralmente por insônia terminal. O paciente se queixa de diminuição do apetite, geralmente com perda de peso sensível. Sintomas de ansiedade são muito frequentes. A angústia tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã.

As alterações da psicomotricidade podem variar da lentificação à agitação. Pode haver lentificação do pensamento. Os episódios depressivos devem ser classificados nas modalidades: leve, moderada, grave sem sintomas psicóticos, grave com sintomas psicóticos.

Ambos os quadros são reconhecidos como Doenças Relacionadas ao Trabalho, inscritas na Lista Brasileira de Doenças Relacionadas ao Trabalho, (Capítulo referente aos Transtornos Mentais e do Comportamento) publicada pelo Ministério da Saúde em 1999 (Portaria MS nO. 1339 de 18 de Novembro de 1999) e reconhecida também pela Previdência Social, no Decreto  3.048 de seis de maio do mesmo ano.

Ilustração: Associação Médica do Tocantis / Reprodução.

4) Como se dá o diagnóstico e tratamento da Síndrome do Esgotamento Profissional?
 
O diagnóstico se baseia na história ocupacional e no quadro clínico apresentado pelo trabalhador que, geralmente, registra:
# História de grande envolvimento subjetivo com o trabalho, função, profissão ou empreendimento assumido, que muitas vezes ganha o caráter de missão;
# Sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
# Queixa de reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber os serviços ou cuidados do paciente (despersonalização);
# Queixa de sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho.

O tratamento da síndrome de esgotamento profissional envolve psicoterapia, tratamento farmacológico e intervenções psicossociais. Entretanto, a intensidade da prescrição de cada um dos recursos terapêuticos depende da gravidade e da especificidade de cada caso. Porém, dada a relação com o trabalho, é essencial que mudanças sejam feitas neste ambiente para que o trabalhador melhore.   

5) A alimentação inadequada e maus hábitos de vida podem acentuar a doença?
 
Com certeza. As condições de vida não saudáveis que incluem alimentação inadequada, sono sem qualidade e quantidade insuficiente, grandes exigências e instabilidade no trabalho, condições precária de habitação e segurança contribuem, sem dúvida, favorecem o adoecimento do trabalhador e dificultam sua recuperação.

6) Na sua avaliação, o reconhecimento da Síndrome de Burnout como uma doença do trabalho protege o trabalhador para que ele tenha um tratamento adequado e não sofra retaliação por parte do empregador?
 
Sim. O reconhecimento da doença ou mesmo do estado ou situação de sofrimento apresentado pelo trabalhador – quer seja relacionado ao trabalho ou não, precisa ser reconhecido e notificado, não apenas para garantir o manejo correto da situação clínica que inclui o tratamento medicamentoso e outras práticas terapêuticas, e ainda a orientação do trabalhador, o acesso aos benefícios a que tem direito, no âmbito da empresa e da Previdência Social, entre outros.

A notificação é importante para que a situação ganhe visibilidade enquanto problema de saúde coletiva, forçando a adoção de procedimentos e ações visando a correção e ou melhoria das condições de trabalho geradoras de doença.

Dois aspectos devem ser ressaltados: o aumento real da frequência dos transtornos mentais e do comportamento em nossa sociedade, em consequência da intensificação e da precarização do trabalho, e da quebra dos laços de solidariedade entre os trabalhadores e uma confusão frequentemente feita entre sofrimento e doença, que são coisas ou entidades diferentes, ainda que ambas possa ser desencadeadas e ou agravadas pelo trabalho.

Esta distinção é importante tanto para o indivíduo acometido quanto para as respostas que a sociedade organizada e as políticas públicas devem dar ao problema.

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