Saúde Entrevista – Depressão pode levar à Síndrome do Esgotamento Profissional
Em entrevista, a Dra. Elizabeth Dias, fala
sobre esta doença que causa quadro depressivo, esgotamento físico e
emocional, além de uma série de problemas no ambiente de trabalho.
por Wander Veroni
Ilustração: Blog Aldo Corrêa de Lima / Reprodução.
Falta de motivação,
péssimas condições no ambiente de trabalho, desgaste emocional com os
colegas ou até mesmo com o próprio chefe. Estes são alguns sintomas que
podem levar à depressão no ambiente no trabalho. No entanto, muitas vezes, se a pessoa não ficar atenta consigo mesma, este quadro pode evoluir para a Síndrome de Burnout – também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.
Trata-se de um distúrbio
psíquico descrito em 1974 pelo médico norte-americano por
Freudenberger, cuja principal característica é o estado de tensão
emocional, estresse crônico e quadro depressivo que pode afetar diretamente a saúde do trabalhador. A síndrome se manifesta, especialmente, em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.
Para falar mais sobre este assunto, a Equipe de Web Jornalismo do Canal Minas Saúde
conversou com a médica sanitarista do trabalho, Dra. Elizabeth Dias,
especializada em saúde do trabalho e professora do Departamento medicina
Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Acompanhe a entrevista:
1) Dra. Elizabeth, em linhas gerais o que é a Síndrome de Burnout?
A síndrome de Burnout –
também denominada de “sensação de estar acabado” ou “síndrome do
esgotamento profissional”, é um tipo de resposta prolongada a
estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho. Tem sido
descrita como resultante da vivência profissional em um contexto de
relações sociais complexas, envolvendo a representação que a pessoa tem
de si e dos outros.
O trabalhador que antes
era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus
pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento
desiste, perde a energia ou se “queima” completamente. O trabalhador
perde o sentido de sua relação com o trabalho, desinteressa-se e
qualquer esforço lhe parece inútil.
2) Uma pessoa que está passando por uma grande carga de estresse no trabalho possa a vir ser diagnosticada com depressão?
Nem sempre, pois estamos
falando de situações ou de quadros de doenças distintos, embora
apresentam aspectos em comum. Porém, não existe esta evolução
determinística de uma levar ou causar a outra. Cada caso é um caso e
cabe ao médico construir esta avaliação junto com o paciente.
Os episódios depressivos
caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas
atividades cotidianas, sendo comum uma sensação de fadiga aumentada. O
paciente pode se queixar de dificuldade de concentração, pode apresentar
baixa autoestima e autoconfiança, desesperança, ideias de culpa e
inutilidade, além de visões desoladas e pessimistas do futuro, ideias ou
atos suicidas.
Por isso, caso o
paciente já esteja com depressão no ambiente de trabalho, ele precisa
ficar atento e procurar tratamento para que uma coisa não evolua para
outra.
3) A Síndrome de Burnout pode afetar a qualidade do sono também? Quais as doenças que podem estar relacionadas?
Nesta Síndrome, o sono
encontra-se frequentemente perturbado, geralmente por insônia terminal. O
paciente se queixa de diminuição do apetite, geralmente com perda de
peso sensível. Sintomas de ansiedade são muito frequentes. A angústia
tende a ser tipicamente mais intensa pela manhã.
As alterações da
psicomotricidade podem variar da lentificação à agitação. Pode haver
lentificação do pensamento. Os episódios depressivos devem ser
classificados nas modalidades: leve, moderada, grave sem sintomas
psicóticos, grave com sintomas psicóticos.
Ambos os quadros são
reconhecidos como Doenças Relacionadas ao Trabalho, inscritas na Lista
Brasileira de Doenças Relacionadas ao Trabalho, (Capítulo referente aos
Transtornos Mentais e do Comportamento) publicada pelo Ministério da
Saúde em 1999 (Portaria MS nO. 1339 de 18 de Novembro de 1999) e
reconhecida também pela Previdência Social, no Decreto 3.048 de seis de
maio do mesmo ano.
Ilustração: Associação Médica do Tocantis / Reprodução.
4) Como se dá o diagnóstico e tratamento da Síndrome do Esgotamento Profissional?
O diagnóstico se baseia na história ocupacional e no quadro clínico apresentado pelo trabalhador que, geralmente, registra:
# História de grande envolvimento subjetivo com o trabalho, função, profissão ou empreendimento assumido, que muitas vezes ganha o caráter de missão;
# Sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
# Queixa de reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber os serviços ou cuidados do paciente (despersonalização);
# Queixa de sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho.
# História de grande envolvimento subjetivo com o trabalho, função, profissão ou empreendimento assumido, que muitas vezes ganha o caráter de missão;
# Sentimentos de desgaste emocional e esvaziamento afetivo (exaustão emocional);
# Queixa de reação negativa, insensibilidade ou afastamento excessivo do público que deveria receber os serviços ou cuidados do paciente (despersonalização);
# Queixa de sentimento de diminuição da competência e do sucesso no trabalho.
O tratamento da síndrome
de esgotamento profissional envolve psicoterapia, tratamento
farmacológico e intervenções psicossociais. Entretanto, a intensidade da
prescrição de cada um dos recursos terapêuticos depende da gravidade e
da especificidade de cada caso. Porém, dada a relação com o trabalho, é
essencial que mudanças sejam feitas neste ambiente para que o
trabalhador melhore.
5) A alimentação inadequada e maus hábitos de vida podem acentuar a doença?
Com certeza. As
condições de vida não saudáveis que incluem alimentação inadequada, sono
sem qualidade e quantidade insuficiente, grandes exigências e
instabilidade no trabalho, condições precária de habitação e segurança
contribuem, sem dúvida, favorecem o adoecimento do trabalhador e
dificultam sua recuperação.
6) Na sua avaliação, o reconhecimento da
Síndrome de Burnout como uma doença do trabalho protege o trabalhador
para que ele tenha um tratamento adequado e não sofra retaliação por
parte do empregador?
Sim. O reconhecimento da
doença ou mesmo do estado ou situação de sofrimento apresentado pelo
trabalhador – quer seja relacionado ao trabalho ou não, precisa ser
reconhecido e notificado, não apenas para garantir o manejo correto da
situação clínica que inclui o tratamento medicamentoso e outras práticas
terapêuticas, e ainda a orientação do trabalhador, o acesso aos
benefícios a que tem direito, no âmbito da empresa e da Previdência
Social, entre outros.
A notificação é
importante para que a situação ganhe visibilidade enquanto problema de
saúde coletiva, forçando a adoção de procedimentos e ações visando a
correção e ou melhoria das condições de trabalho geradoras de doença.
Dois aspectos devem ser
ressaltados: o aumento real da frequência dos transtornos mentais e do
comportamento em nossa sociedade, em consequência da intensificação e da
precarização do trabalho, e da quebra dos laços de solidariedade entre
os trabalhadores e uma confusão frequentemente feita entre sofrimento e
doença, que são coisas ou entidades diferentes, ainda que ambas possa
ser desencadeadas e ou agravadas pelo trabalho.
Esta distinção é
importante tanto para o indivíduo acometido quanto para as respostas que
a sociedade organizada e as políticas públicas devem dar ao problema.
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