MS prepara a Rede de Atenção às Doenças Crônicas, sob coordenação do DAB
Em entrevista ao Portal de Inovações na Gestão do SUS – Redes e
APS, a responsável pela da Coordenação Geral de Áreas Técnicas do
Departamento de Atenção Básica (DAB/SAS/MS), Patrícia Sampaio Chueiri,
conta como está a elaboração da Rede de Atenção voltada para as Doenças
Crônicas, prevista para ser lançada até o fim do ano. Ela enfatiza o
fato de ser a primeira Rede que a Atenção Básica está coordenando,
fortalecendo o papel de coordenadora do cuidado e ordenadora da rede.
As
doenças renocardiovasculares, obesidade, câncer e as respiratórias
serão as prioritárias na nova Rede de Atenção à Saúde.
Portal – Ministério da Saúde vai priorizar o enfrentamento das condições crônicas a partir da Atenção Básica?
Patrícia Chueiri – As doenças crônicas são uma
realidade mundial e nacional. Desde o ano passado o Brasil tem
priorizado esse tema. A própria Presidenta da República, Dilma Roussef,
abriu a Conferência da Mundial da ONU falando das doenças crônicas e
apresentou o Plano Estratégico de Enfrentamento das Doenças Crônicas do
Brasil. Esse plano foi feito por várias áreas do Ministério da Saúde,
organizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde, mas grande parte das
ações que se referem ao cuidado tem relação com a Secretaria de
Assistência à Saúde (SAS). O Plano atual traz questões da macropolítica,
destaca legislações, ações intersetoriais, ações voltadas para promoção
da saúde e fala um pouco sobre a organização do processo do cuidado das
doenças crônicas. Neste sentido, a Secretaria de Atenção à Saúde (SAS)
tem um papel fundamental de aprofundar as ações de atenção à saúde
contidas no Plano. Para isso, em 2012, o Departamento de Atenção Básica
(DAB/SAS) se reorganizou internamente e ampliou o olhar da coordenação
de Hipertensão e Diabetes para Doenças Crônicas, criando a Coordenação
Geral de Áreas Técnicas, responsável por coordenar a Rede temática de
Atenção às Doenças Crônicas entre outras atividades.
O DAB está elaborando a Rede de Atenção voltada para as Doenças Crônicas?
Patrícia Chueiri – O DAB coordena um grupo de
trabalho dentro da SAS que tem como foco a Rede de Atenção às Doenças
Crônicas. Neste ano, tem como prioridade as questões
renocardiovasculares, obesidade, câncer e as doenças respiratórias. É a
primeira Rede que a Atenção Básica está coordenando, fortalecendo o
papel de coordenadora do cuidado e ordenadora da rede que a AB deve
exercer nas Redes de Atenção à Saúde. Foi um reconhecimento em relação
ao que o DAB vem desenvolvendo e será um desafio para a nova coordenação
do departamento. Neste primeiro momento, começamos a organizar as
linhas de cuidado das doenças renocardiovasculares e obesidade. Estamos
trabalhando com o modelo de atenção a doença crônica que enfatiza o
autocuidado, o empoderamento do usuário, a estratificação de risco dos
usuários de doenças crônicas, equipe multidisciplinar, acesso à
medicamentos e exames.
Quando será anunciada a Rede de Atenção das Doenças Crônicas?
Patrícia Chueiri – A idéia é que seja anunciada
até o fim deste ano. O Ministério da Saúde já financia muitas ações
voltadas para o enfrentamento das doenças crônicas, tanto na atenção
básica como na média e alta complexidade. Queremos integrar essas ações
existentes, por meio da Rede de Atenção. Paralelo a isso, nós estamos
revendo os Cadernos de Atenção Básica já contemplando questões do modelo
de cuidado da pessoa com doença crônica. Nesse ano, vamos relançar os
Cadernos da AB sobre Obesidade, Hipertensão e Diabetes trazendo o
conceito de doença crônica e de redes de atenção. Será uma publicação
que vai apoiar o processo de trabalho das equipes da AB, com orientações
para o dia a dia.
Qual a principal mudança na abordagem do cuidado dessas doenças que os Cadernos da AB irão trazer?
Patrícia Chueiri – Para o manejo da doença crônica
é preciso garantir algumas coisas na AB, como o acesso a medicamento e
apoio diagnóstico, avaliar e estratificar o risco do usuário de acordo
com o grau da evolução da doença. Uma fragilidade ainda nas equipes de
AB é em relação ao apoio ao autocuidado, como ajudar o usuário a cuidar
da sua própria saúde. Ainda não temos muitas ferramentas, dispositivos,
ou processos de trabalho que ajudem as equipes a orientar o
autocuidado. Em relação a estratificação de risco, o Caderno vai
aprofundar essa questão. A idéia é que ao se estratificar o risco, a
Unidade Básica de Saúde identifique quem está mais vulnerável. Uma das
questões também é fortalecer os Núcleos de Apoio da Saúde da Família
(NASF), para que o cuidado seja de fato multiprofissional.
O prontuário eletrônico é imprescindível para fazer a estratificação do risco do usuário?
Patrícia Chueiri – Em si o prontuário eletrônico
não é uma obrigatoriedade, ele facilita muito para as equipes. Hoje nós
temos como cadastrar a população, conhecer e estratificar o usuário sem o
prontuário eletrônico. O sistema permite ao menos reconhecer quem são
os hipertensos e os diabéticos da sua região, cabe a equipe dar
continuidade e esse reconhecimento. A estratificação de risco pode ser
feita de outra forma, até manual. Nós precisamos introjetar a
estratificação do risco no processo de trabalho e também oferecer uma
ferramenta tecnológica para que essa ação seja facilitada.
Há subnotificação dos usuários com condições crônicas pelas UBS?
Patrícia Chueiri – A questão da informação é
muitas vezes vista como burocracia. Muitas equipes de atenção direta e
também de gestão ainda não usam a informação para melhorar os
resultados das ações de saúde, para melhorar o processo de trabalho ou
para as tomadas de decisões. Talvez por isso ainda temos problemas de
informação. Quando a informação passa a ter sentido para os
profissionais, como por exemplo, reconhecer quem tem asma, HAS ou
Diabetes, tanto para organizar o processo de trabalho das equipes de
atenção quanto para a gestão prever e organizar a necessidade de exames
de apoio diagnósticos ou de consultas com especialistas, as informações
sejam mais fidedignas.
As informações podem facilitar a organização da agenda da equipe,
possibilitando que a equipe dê conta do atendimento da demanda imediata e
da demanda de cuidado continuado e programado, quando necessário, ainda
podendo apoiar o gestor na tomada de decisão a partir de dados reais e
concretos. Quando a informação se torna útil para todos os
profissionais, com certeza teremos menor subnotificação na saúde. É uma
transformação do país como todo. Neste sentido as questões de tecnologia
de informações podem ajudar muito, desde que os softwares realmente
apóiem o trabalho do profissional e não sejam apenas um local de
colocação de dados sem sentidos. O DAB tem se debruçado em um novo
sistema de informação da atenção básica que tem como objetivo apoiar a
todos, e ajudar nesse processo de transformação das informações em
saúde.
Qual contribuição você espera do Laboratório de Inovações sobre as condições crônicas, coordenado pela OPAS e Conass?
Patrícia Chueiri- A idéia que o Laboratório de
Inovação nos facilite a identificar experiências exitosas nessas áreas
para ajudar na formulação política para o país.
Vanessa Borges
Agência de notícias do Portal da Inovação na Gestão do SUS – Redes e APS
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