Posted: 20 Jun 2012 09:05 AM PDT
Nova geração de drogas inclui a maconha sintética, capaz de alterar mecanismos no cérebro que freiam impulsos
As autoridades quase não
desconfiavam que no sul da Flórida (EUA) se consome drogas sintéticas
que induzem o usuário a cometer atos de agressão extrema até que
policiais observaram o que faziam dezenas de estudantes em um posto de
gasolina da região.
No estabelecimento, os jovens
vendiam legalmente envelopes com incenso de ervas (maconha sintética)
que, junto à "sais de banho", são uma nova geração de drogas que
aparentemente tiveram influência nos chamados casos de "canibalismo" de
Miami.
"Eu não sabia que isto existia, é
algo que ninguém sabia o que era. Os policiais averiguaram o local, se
deram conta de que se tratava de maconha sintética e os detetives
começaram a pesquisar na internet sobre esta droga. Isso aconteceu há
dois ou três meses", disse à Agência Efe o prefeito de Sweetwater,
Manuel Maroño.
Sweetwater, em Miami-Dade, foi a
primeira cidade deste condado a aprovar, em maio, uma lei que proíbe a
venda da maconha sintética, conhecida como "Spice", "K-2", "Genio",
"Fogo de Iucatã", "Krypto do rei", "O senhor boa gente", "Magia
vermelha" e "super skunk".
Miami-Dade e a cidade de Sunrise também adotaram posturas similares.
"Estou extremamente preocupado,
isto é novo. Esta droga é ainda mais perigosa do que a maconha original,
e o tal 'sais de banho' também é mais forte que a cocaína. A longo
prazo, não sabemos quais serão os efeitos", disse um servidor público.
No caso do "canibal de Miami"
Rudy Eugene, que devorou 75% do rosto do morador de rua Ronald Poppo na
ponte da estrada MacArthur, que liga Miami Beach ao centro da cidade, as
autoridades investigam se Eugene agiu sob os efeitos da "sais de
banho", que é vendida como "Cloud 9" e "Ivory Wave".
O psicoterapeuta Alfredo
Hernández explicou à Agência Efe que esta droga é "como um tipo de
cocaína superpoderosa produzida em laboratórios" que altera no cérebro
os mecanismos que ajudam o ser humano a frear os impulsos.
"A relação de controle e impulso
que dispara estes mecanismos se perde porque esta droga altera o lóbulo
frontal, que ajuda a medir as consequências; a amígdala dentro do
cérebro, que leva ao impulso; e o hipocampo, que ajuda a não agir sob
todos os impulsos", apontou.
A "Cloud 9" e a maconha sintética produzem psicoses, delírios, alucinações auditivas e táteis.
"Isto é muito comum com estas
drogas. Tive vários pacientes que pensam que são Deus ou acham que têm
poderes sobrenaturais", disse Hernández, administrador do centro de
saúde mental Improving Lives de Miami.
Ele preveniu que a "sais de
banho" é "uma combinação muito perigosa, porque é uma droga que dá muita
energia, altera a consciência e elimina a possível regulação das
consequências dos atos".
"Isso, unido a pessoas que
possam ter uma predisposição de psicopatologia mais severa, como no caso
da população de moradores de rua que têm histórico de bipolaridade,
esquizofrenia e outros problemas mentais, é uma combinação mortal",
acrescentou.
Hernández alertou que
possivelmente o sul da Flórida "verá outros casos similares" como o de
Eugene, porque estas substâncias são fáceis de conseguir, baratas e
representam "uma nova geração de droga".
Maroño advertiu que os jovens se
sentem atraídos por estas substâncias porque podem comprá-las
legalmente e pelo fato de não serem detectadas no organismo quando são
submetidos a exames de drogas.
"Temos que nos preocupar muito
com estas drogas sintéticas e assegurar que não sejam mais vendidas, e
que as companhias produtoras não continuem inventando outras
substâncias", disse.
As autoridades confirmaram que no caso do mendigo Brandon de León, ele tinha consumido "Cloud 9".
O homem, após ser detido no último sábado por conduta desordenada, ameaçou dois policiais e tentou mordê-los.
"Brandon grunhia, abria e
fechava a boca e rangia os dentes como se fosse um animal", indicaram
agentes no relatório policial ao qual a Efe teve acesso.
Eugene, de 31 anos, também
ameaçou o policial que tentou prendê-lo quando arrancou o nariz, os
olhos e parte da testa de Poppo com seus dentes. Um agente teve que
atirar várias vezes e "o canibal" morreu.
Yovonka Bryant, namorada de
Eugene, assegurou recentemente que é "muito provável" que uma droga que
lhe tenha sido "ministrada sem seu consentimento" o tenha levado a
cometer o ataque.
"Ele nunca ingeriu álcool, nem
usou drogas perto de mim. O vi apenas uma vez fumando um cigarro de
maconha. Rudy e eu nunca falamos sobre canibalismo", disse.
Ela e sua advogada, Gloria
Allred, salientaram a importância de o público estar muito informado
sobre o risco do uso de certas "drogas que podem levar que os seres
humanos a cometerem canibalismo".
Fonte Estadão
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