Saber ouvir
É fato que vivemos num mundo onde o acesso às informações é cada vez mais rápido e temos em nossas mãos tudo o que acontece em qualquer canto da Terra em frações de segundos. Nosso cérebro recebe muito mais informações do que recebia há anos (ou meses, dias, horas) atrás e este turbilhão de informações que chega até nós nos dá a sensação de que o mundo pareça turbulento, em constante mudança, instável, em ebulição, um mundo com pressa. E esta pressa vai para dentro de nossas cabeças e norteia nosso comportamento para nos adaptarmos a esse mundo.
Por outro lado, as redes sociais alteraram de maneira definitiva e as formas de como as pessoas relacionam-se. Se hoje temos mais "amigos" em nosso Facebook, LinkedIn ou Tweeter, temos menos "amigos" que vemos, convivemos, sentimos. Hoje, "falamos" mais pelas redes sociais, nos abrimos, nos expomos. Mas o quanto estamos sendo ouvidos de fato e, mais que isto, o quanto estamos ouvindo?
SABER OUVIR, eis aí um DOM, não só uma competência. Quantas vezes nos pegamos, literalmente, "falando para as paredes", pois o nosso ouvinte está longe, com o pensamento distante, divagando ou preparando a defesa? E, pior, quando ele nos corta de modo abrupto (leia-se "sem educação"), mudando de assunto e nos dizendo-nos: "Não estou interessado no que está dizendo"? É triste, não é? Pois, e quando somos nós quem deveria fazer o papel de ouvinte? Será que magoamos os outros?
Saber ouvir é a base da empatia, tão fundamental em uma relação e tão banalizada nas relações. O individualismo não nos permite sermos empáticos, do contrário, faz-nos apáticos, não ouvimos e não sentimos o que as pessoas falam e o que elas sentem.
Bom, transbordando esta reflexão para o mundo corporativo, mais precisamente para a relação entre líder e liderados: como anda o nosso saber ouvir, e, especificamente o seu saber ouvir, líder?
Comecemos pelo básico, você, líder, diz "Bom dia!" aos seus colegas e os ouve responder ou os cumprimenta correndo e quando alguém responde você já está virando o corredor? Deu as costas para ele?
Você olha nos olhos de seu colaborador, segura firme na mão dele, pergunta como vai e se preocupa com ele ou passa correndo, de cabeça baixa, porque tem um monte de "assuntos urgentes" que precisam ser resolvidos? Se não dá para pegar na mão de todos, pelo menos os cumprimente de forma adequada, ou, mesmo correndo, sorria, afinal é sua equipe e sem ela, aonde você vai?
Você ouve seu colaborador quando ele quer lhe dar uma ideia ou você é tão inacessível (bom demais e autossuficiente) que deixa um monte de propostas de melhorias ficarem enjauladas na cabeça dele, apenas porque você não dá ouvido a ele? Aliás, esqueça qualquer outra ideia deste colaborador, pois ele não vai mais se interessar em lhe contar nada.
Você é capaz de pedir a opinião de seus colaboradores e ouvi-los na concepção dos planos da área ou na elaboração de uma nova campanha publicitária ou, ainda, em uma melhoria que precisa ser feita no processo?
E sobre ele mesmo? Você para e ouve seu colaborador falar sobre seus sonhos, as carreiras que gostaria de trilhar, uma nova competência que queira desenvolver, outra área que lhe interessa ou um curso que está fazendo?
Você o escuta (se interessa por ele) quando ele não está bem, tem problemas em casa, dívidas, saúde, filhos, namorada etc.?
E, num sinal de abertura total, você pede ao seu colaborador que lhe dê feedback sobre os pontos que você, líder, precisa melhorar?
É, não é fácil ser líder e muito menos SABER OUVIR, mas quem quer exercer a liderança em plenitude, precisa urgentemente dar ouvidos à sua equipe, gerando um clima positivo, um ambiente de trabalho favorável, aumentando o comprometimento dos colaboradores e obtendo o máximo de cada um.
Para saber ouvir é necessário exercício, prática, disciplina. Não é fácil, eu já disse, mas é possível e necessário.
Comece hoje, silencie-se diante daquele que te fala, não faça pré-julgamento e ouça. Não fique já pensando na resposta que darás, mas simplesmente ouça. Ouça com o coração, se interesse, crie empatia, entenda o outro a partir do ponto de vista dele.
Comecemos, então, a ouvir mais e tornar as relações mais humanas e próximas e menos superficiais e virtuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário