Previna crises de alergia nas crianças com oito cuidados
O contato com animais, a alimentação e até brigas em casa interferem no problema
Por Letícia Gonçalves
É fácil saber se o seu
filho tem predisposição genética a alergias: basta olhar o histórico
familiar. Segundo o International Study of Asthma and Allergies (ISAAC),
quando um dos pais tem uma
alergia,
o risco de o filho também ter algum tipo é quatro vezes maior. Se o
casal tiver o problema, o risco para a criança passa a ser sete vezes
maior. Mas isso não quer dizer que ele terá alguma crise logo nos
primeiros meses de vida. "Normalmente, os primeiros acessos de alergia
ocorrem antes dos dez anos de idade, mas podem aparecer até na fase
adulta", afirma o pediatra Antonio Carlos Turner, coordenador do serviço
de Pediatria do Hospital Balbino (RJ) e membro da Sociedade Brasileira
de Imunizações. Existe uma lista de hábitos capazes de retardar ou até
evitar o desenvolvimento de quadros alérgicos e os especialistas
explicam cada um deles para você.
Amamentação exclusiva até os seis meses de vida
Essa recomendação é unânime entre os especialistas: a
amamentação
fornece anticorpos e nutrientes que aumentam a proteção do bebê contra
alergias. Leite de vaca ou qualquer outro alimento não tem tantos
benefícios assim. Mas não se engane: é comum parecer que o bebê tem mais
refluxo quando amamentado e a mãe pode achar que isso é sinal de
alergia ou intolerância. "O leite materno tem digestão mais fácil e
também provoca mais casos de regurgitação, mas isso não é um problema
para o bebê", afirma o pediatra Antonio Carlos.
Animais de estimação
Há alguns estudos indicando que a criança que tem
contato com bicho de estimação desde pequena pode ficar mais resistente
a alergias. "Mas ainda são necessárias pesquisas mais aprofundadas para
realmente comprovar esse efeito", afirma a alergista Ana Paula Castro,
diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) e
médica da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas (USP). Ela recomenda evitar que os animais com
pelos e penas fiquem dentro do quarto da criança, principalmente na hora
de dormir. "Fique atento também se a criança costuma espirrar, coçar os
olhos ou ter outros sintomas de alergia quando brinca com o bicho."
Acompanhamento pediátrico
Levar o filho ao médico somente quando ele está
doente não é a melhor forma de prevenir alergias. "A consulta regular
ajuda a promover o bem-estar da criança e a manter a saúde, evitando
doenças", afirma Antonio Carlos Turner. O pediatra também ajuda a mãe a
perceber sintomas de alergias na criança. Por isso, o bebê deve ser
levado ao médico uma vez por mês até chegar aos seis meses de vida.
Depois dessa fase, a consulta pode ser mais espaçada, de acordo com a
orientação do especialista.
De olho na pele
"Em boa parte das crianças com até cinco anos de idade, a
dermatite atópica
(alergia na pele) é o primeiro sintoma de alergia", afirma o alergista e
imunologista Marcello Bossois, coordenador do Projeto Social Brasil Sem
Alergia. Se o seu filho tem predisposição genética, vale ter o cuidado
dobrado de comprar xampus, sabonetes e outros cosméticos neutros e
hipoalérgicos, para não deixar a pele irritada e mais sensível. Meninas
que brincam com maquiagem precisam usar produtos feitos especialmente
para crianças, de preferência com aprovação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).
Alimentação adequada
Vitaminas, minerais e outros nutrientes devem
fazer parte do prato da criança para deixá-la sempre com as defesas do
organismo prontas para combater agentes do ambiente que causem alergias.
Inclua no cardápio frutas, legumes, verduras, peixe e castanhas. Um
estudo da
University of Gothenburg, na Suécia, publicado no
periódico Acta Paediatrica, indicou que crianças que começam a comer
peixe a partir dos nove meses de idade são menos propensas a sofrer com a
respiração ofegante na idade pré-escolar, complicação relacionada à
asma.
De olho no estresse
Tanto a rotina estressante quanto episódios
trágicos que possam causar muita tristeza na criança podem deixar o
corpo mais vulnerável a alergias. "A criança pode desencadear um quadro
alérgico, por exemplo, depois da separação dos pais", afirma a alergista
Ana Paula. Procure conversar sempre com seu filho e prestar atenção no
seu comportamento. Se achar necessário, busque a ajuda de um psicólogo.
Crie um "quarto hipoalérgico"
Para evitar
rinite alérgica, elimine os focos de mofo e os objetos que acumulam ácaro, poeira e outros
alérgenos,
como cortinas de tecido, almofadas, tapetes peludos e bichos de
pelúcia. Segundo os especialistas, se esses itens estiverem presentes no
quarto, é preciso manter o cuidado de limpá-los sempre e deixá-los no
sol algumas vezes. As janelas precisam ser abertas todos os dias a fim
de deixar o ambiente ventilado. Para evitar irritações na mucosa nasal
por causa do cheiro forte de produtos de limpeza, mantenha a criança
fora do quarto até uma hora após a limpeza.
Incentive o seu filho a fazer natação
A natação é uma ótima atividade para fortalecer
os músculos e aumentar a resistência do sistema respiratório e
cardiovascular, ajudando a prevenir asma e outras alergias
respiratórias. "Mas prefira piscinas de água aquecida e com sal, pois a
temperatura fria e o cloro podem agravar crises alérgicas em longo
prazo", recomenda o alergista Marcello. Se nadar não for o hábito
predileto do seu filho, incentive outra atividade física que ele goste -
todo exercício traz benefícios ao aparelho cardiorrespiratório da
criança.
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