Posted: 31 Aug 2012 05:37 AM PDT
Texto
lançado por federação médica destaca a importância do ácido fólico.
Suplementação até o 1º trimestre previne anencefalia e espinha aberta.
Uma cartilha destinada a todas as mulheres do país que pretendem engravidar e outra para os médicos
que devem orientar as pacientes são lançadas nesta quinta-feira (30)
pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo),
durante congresso em São Paulo.
O texto foi baseado em uma orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
O objetivo é destacar a
importância de as mulheres tomarem suplemento de ácido fólico para
evitar até 75% das malformações no tubo neural do feto, como anencefalia
– quando o bebê não tem cérebro – e espinha bífida – quando a coluna
vertebral não se fecha por completo e a medula fica exposta para fora do
corpo. Outro defeito menos comum é a encefalocele, em que a abertura do
tubo neural acontece no crânio, deixando uma protuberância na cabeça
com líquido e massa cerebral.
Em abril, o Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu, por oito votos a dois, que abortar um feto sem
cérebro não é crime. A partir daí, a Febrasgo decidiu levantar o tema,
na tentativa de impedir que um feto anencéfalo chegue a se formar. Para
isso, a entidade propõe que os ginecologistas falem sobre o assunto em
qualquer consulta de rotina, como o papanicolaou. Cerca de 3 milhões de
folhetos devem ser distribuídos nos consultórios brasileiros.
Segundo o presidente da Comissão
de Medicina Fetal da federação, Eduardo da Fonseca, é recomendado que a
paciente faça, com supervisão médica, uma suplementação oral de 400
microgramas de ácido fólico por dia, pelo menos um mês antes da gestação
e durante os três primeiros meses. Com o objetivo de fixar esse
compromisso na cabeça da mulher, alguns ginecologistas já indicam o
composto três meses antes.
"A formação do sistema nervoso
central do feto ocorre nas primeiras quatro a seis semanas. Então,
quando a mulher descobre que está grávida, o cérebro do bebê já está
estruturado. A maioria das pacientes chega ao consultório com dois
meses", destaca Fonseca.
O médico diz que 58% das
brasileiras ainda não planejam a gravidez e, entre as futuras mães que
se programam, apenas 10% ingerem ácido fólico, também chamado de
vitamina B9. Dessa pequena parcela, só 4% tomam os comprimidos na
dosagem correta.
Além da forma sintética, que na
opinião dos médicos é mais bem aproveitada pelo organismo, o ácido
fólico é encontrado na natureza – em alimentos como milho, trigo, folhas
escuras, feijões, fígado, gema de ovo, laranja, abóbora e pêssego – e
enriquecido desde 2004 em pães e outros produtos à base de farinha, cuja
lei no país também prevê adição de ferro para prevenir anemia.
"Essa substância consumida
naturalmente é mal absorvida: apenas 50% dela age no corpo. E, com a
vida moderna, a mulher acaba não conseguindo obter isso apenas pela
dieta", diz o presidente da comissão da Febrasgo.
Como o ácido fólico age
A
vitamina B9 ajuda na multiplicação das células, no DNA e no fechamento
do tubo neural do feto, segundo Fonseca. Além disso, tem papel
importante na imunidade da mãe e no desenvolvimento da hemoglobina –
pigmento vermelho do sangue – e das proteínas estruturais do bebê, como o
colágeno (presente na pele e nas cartilagens) e a queratina (nas unhas e
cabelos).
Em caso de baixa dosagem, como
não tomar os comprimidos corretamente, o ácido fólico não tem efeito. Já
em uma situação de superdosagem, acima de 1.000 microgramas por dia,
estudos experimentais com camundongos indicam que o bebê pode nascer
abaixo do peso, ou seja, com menos de 2,5 kg.
"Pesquisas internacionais
apontam que recém-nascidos magrinhos podem se tornar adultos mais
propensos a problemas como infarto, AVC, trombose, obesidade, diabetes e
síndrome metabólica", enumera o médico.
Incidência do problema e fatores de risco
Segundo
a Febrasgo, seis em cada dez mil bebês que nascem no Brasil apresentam
algum defeito no tubo neural. Na população geral, essas malformações
atingem cerca de 0,1%.
Crianças com anencefalia morrem
em 100% das ocorrências, de acordo com Fonseca. Já os pequenos com
espinha bífida sobrevivem, mas acabam tendo dificuldade para andar,
aprender e controlar a urina e as fezes, entre outras complicações.
Para minimizar os prejuízos da
medula exposta, logo após o nascimento é feita uma operação para fechar a
abertura. Quando há hidrocefalia – presença de líquido em excesso
dentro do crânio –, é realizada uma drenagem em direção ao abdômen.
Em 95% das gestações, não há
fatores de risco para a mulher ter um bebê com esses problemas. Os
outros 5% estão ligados a histórico prévio de gravidez de anencéfalo e
uso de remédios anticonvulsivantes por pacientes com epilepsia – aí a
dose precisa ser mais alta, chegando até 4 miligramas por dia.
Além desses fatores de risco, há
a obesidade, a diabetes tipo 1 e a cirurgia de redução de estômago, que
diminui o nível de absorção de nutrientes pelo organismo. A idade da
mulher não influencia esse tipo de malformação no feto, mas adolescentes
costumam se alimentar pior e podem ter mais deficiência de ácido
fólico.
Estudos no Brasil
Fonseca,
que vive na Paraíba, analisou quase 500 mulheres no Nordeste e observou
que cerca de 15% delas usavam ácido fólico como prevenção antes e no
início da gravidez.
Outro trabalho, feito em
Pernambuco com 125 mil mulheres, mostrou que a inclusão de ácido fólico
em farináceos não reduziu os defeitos no tubo neural. Mas, segundo o
médico, isso pode ser explicado pelo fato de na região haver um maior
consumo de farinhas não industrializadas.
O especialistas cita, ainda, uma
pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), realizada no ano passado
com 300 mil mulheres, que aponta que a fortificação foi capaz de
diminuir entre 35% e 40% os casos de problemas no tubo neural dos fetos.
Fonte G1
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