terça-feira, 12 de junho de 2012

Redução de taxas

Brasil diminui número de internações por causas evitáveis pela Atenção Primária

Desde 1994, com a criação do Programa Saúde da Família (PSF) – e posteriormente a Estratégia de Saúde da Família (ESF) – o Brasil tem buscado melhorar o acesso à saúde, reorientando seu modelo assistencial com ênfase na Atenção Primária em Saúde (APS), na prevenção de doenças e diminuição da necessidade de utilização dos demais níveis do sistema, particularmente os hospitais.

Um estudo realizado pelo Nescon, em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA) e com a Universidade de Nova York, aponta que a Estratégia tem dado resultado. De acordo com a pesquisa, coordenada pela professora Veneza Berenice, de 1999 a 2007, houve uma redução das taxas de internação por condições sensíveis à APS no Brasil – como hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus, entre outros – de 183,9 internações por 10 mil habitantes para 143,3 hospitalizações, uma queda de 24%.
“O médico de família é o profissional que estabelece vínculos mais fortes com os pacientes, conhecendo de perto quem está atendendo. Em conjunto com as Equipes de Saúde de Família, contribuem para prevenir e diagnosticar doenças com antecedência. Além da melhoria na qualidade de vida dos pacientes, a APS representa economia para o governo, já que menos usuários precisarão ser internados”, explica Berenice.
O estudo “Avaliação do impacto das ações do programa de saúde da família na redução das internações hospitalares por condições sensíveis à atenção básica em adultos e idosos – 2000 a 2007”, ainda assinala que a redução das taxas de Internação por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) foi maior do que as não relacionadas à Atenção Primária (N-ICSAP) que caiu apenas 9% no mesmo período.
“O estudo comprova que há relação direta entre o investimento na APS e a diminuição das taxas de ICSAP. Com relação às causas não relacionadas à Atenção Primária, como internações por acidentes de trânsito e violência, é necessário investir em áreas que vão além da saúde, como a educação e inclusão social”, analisa.
As taxas de ICSAP apresentaram redução em quase todos os estados, com destaque para Sergipe (queda de 44%), Rondônia (38%) e Santa Catarina (37%). A única exceção é o estado do Amazonas, com aumento de 30%. “A nossa suposição é de que a população do Amazonas, por morar numa região de baixa densidade demográfica e com grandes dificuldades de acesso não só à Atenção Primária, como aos demais níveis do sistema, tenham pouca possibilidade de serem diagnosticadas e hospitalizadas. A melhoria dessa situação faz com que mais pessoas pudessem ser atendidas, o que, naturalmente, faz crescer o número de internações. O aumento da taxa de ICSAP na região, assim, pode ser fruto da melhoria no acesso, e não da piora da saúde. O mais importante, porém, é o embasamento que o estudo proporcionará aos gestores para o planejamento da saúde em cada região”, analisa a pesquisadora.

A SITUAÇÃO DE MINAS

Com queda na taxa de internações próxima dos 30%, Minas Gerais está entre os estados mais bem-posicionados do ranking na região Sudeste – à frente de São Paulo e do Espírito Santo e no mesmo patamar que o Rio de Janeiro. O fenômeno vai de encontro ao bom índice de cobertura populacional pelas Equipes de Saúde da Família, em um número considerável de municípios mineiros. Em comparação com outras cidades do Sudeste, se sobressaem Ibirité, com 86,6% de cobertura das Equipes de Saúde da Família, e Patos de Minas, com 100% de cobertura dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), líderes entre as cidades com até 250 mil habitantes. Montes Claros, com 71,4% de abrangência dos ACS, é líder em municípios com mais de 250 mil habitantes.


AS PRINCIPAIS CAUSAS DE ICSAP

Para realizar a análise, os pesquisadores elaboraram a Lista Brasileira das Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária, que reúne 20 grupos de diagnósticos. No período analisado pelo estudo, essas doenças representavam em média 30% das internações hospitalares no Brasil. Em 2006, por exemplo, elas foram responsáveis por 2,7 milhões (28,5%) de hospitalizações no SUS, em um total de 9,8 milhões.
Nesse mesmo ano, as gastroenterites e suas complicações foram o motivo mais frequente de internações (23,2%), seguidas pela insuficiência cardíaca (11,2%) e asma (9,7%). Doenças das vias aéreas inferiores (7,4%), pneumonias bacterianas (7,4%), infecções no rim e trato urinário (7,2%), doenças cerebrovasculares (6,5%) e hipertensão (5,2%) completam a lista das principais doenças.
Crianças e idosos representam a maior parcela de hospitalizados por ICSAP. “Podemos ver que a maior cobertura da Estratégia de Saúde da Família contribui para a diminuição da internação de idosos, causadas principalmente por diabetes e infarto. Entre as crianças, o número de internações se manteve estável, porém vemos significante diminuição da mortalidade infantil”, explica Berenice.
O estudo, financiado pelo Departamento de Atenção Básica (DAB/SAS) do Ministério da Saúde, foi iniciado em 2007 e concluído em 2012. Após sua finalização, o órgão publicou uma portaria para que ele seja usado como base para políticas de saúde em âmbito nacional. O estudo ainda embasou um capítulo do livro Tratado de Medicina de Família e Comunidade, recém-lançado em Florianópolis e Porto Alegre. A publicação, dividida em dois volumes, reuniu a produção de mais de 300 colaboradores no país.

Acesse o estudo completo clicando AQUI.
Fonte: NESCON

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