Posted: 25 Feb 2013 07:01 AM PST
Afinal, o que o Brasil precisa não é da interiorização do médico, mas da assistência à saúde |
No Brasil da atualidade, na área da saúde, vê-se o renascimento das
falsas promessas que não se dobram aos argumentos lógicos. A preocupação
não está nos resultados que tragam fôlego ao Sistema Único de Saúde. Em
lugar disso, o apelo deve assegurar o interesse imediato seja qual for.
Preocupa-nos ver importantes setores da sociedade embarcarem nessa
jornada insólita, considerando-se que saúde pública se faz com
investimentos contínuos e gestão competente.
Em janeiro, mais uma vez, o governo federal simplifica a questão da
ampliação do acesso à saúde, atrelando-a à suposta falta de médicos.
Para tanto, fez aliados entre os prefeitos recém-eleitos que,
pressionados, passaram a defender a importação de profissionais. Essa
foi a tônica de recente manifestação da Frente Nacional dos Prefeitos,
realizada em Brasília.
Não somos contra essa medida, desde que os portadores de diplomas
obtidos no exterior sejam submetidos ao Revalida. Esta é a solução para
garantir o ingresso, no país, de profissionais minimamente preparados
para atender nossa população, haja vista que esse exame mede com a mesma
régua o candidato formado na América Latina, na Ásia ou na Europa.
Se no Brasil enfrentamos sérios problemas com o sistema formador de
médicos, a situação não deve ser melhor em outros países. Se aqui temos
dificuldades de enquadrar essas escolas e exigir mais dos egressos das
salas de aula, em outros lugares ações desse tipo são impossíveis. Mas,
além da importação pura e simples de profissionais, questionamos também
outros pontos sobre os quais os autores da ideia não tecem comentários.
Esses médicos importados terão condições de trabalho reais e imediatas? O
paciente por eles tratado terá garantido acesso facilitado a outros
exames e a leito de internação? Sem progressão funcional, com vínculos
empregatícios precários e distantes dos centros de formação continuada,
eles realmente se fixarão nas zonas de baixa cobertura assistencial?
Quem garante que ficarão no interior para sempre?
O dilema por eles encontrado será o mesmo dos médicos formados no
Brasil: podem até aceitar o desafio, mas, diante da falta de estrutura e
perspectivas, buscarão abrigo nas grandes cidades, acirrando o cenário
de desigualdade na distribuição dos profissionais. Os estudos mostram
que contamos com médicos em quantidade suficiente para atender a nossas
necessidades, mas, por causa da falta de políticas públicas, eles evitam
as áreas mais pobres e o serviço público.
Esperamos que a lógica e o bom senso prevaleçam. O governo precisa
entender sua responsabilidade de dotar o Estado de medidas
estruturantes, sem apelar para o caminho do imediatismo midiático. A
criação de uma carreira pública específica no âmbito do SUS é a saída
real para o país. Afinal, o que o Brasil precisa não é da interiorização
do médico, mas da assistência à saúde. Ou seja, garantir a presença de
profissionais, de infraestrutura e de uma rede integrada, levando reais
benefícios para a sociedade.
Fonte isaude.net
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