Posted: 04 Jul 2012 06:45 AM PDT
À
medida que cresce o número de cesáreas realizadas no Brasil, cresce
também o movimento pelo parto humanizado. Você sabe a diferença?
Você já leu aqui que o parto
cesárea, ou cesariana, é uma importante conquista da medicina moderna.
Graças a este tipo de cirurgia, milhares de mulheres que se encontraram
em uma situação de gravidez de risco puderam realizar o sonho de serem
mães.
A polêmica que envolve a cesárea
acontece quando ela é indicada com hora marcada. Estima-se que de cada
10 cesáreas realizadas, nove são com hora marcada. “Este tipo de
cirurgia só deve acontecer quando há riscos para a mãe ou para o bebê,
mas muitas cesáreas eletivas são feitas hoje sem necessidade”, explica o
ginecologista e obstetra Eduardo Souza, da Associação de Obstetrícia e
Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).
Por ser um procedimento
cirurgíco, a cesárea coloca mulher e bebê em risco – os mesmos riscos de
qualquer cirurgia – mas, neste caso, quando a escolha é feita por uma
comodidade, por exemplo, o risco é considerado desnecessário. “A
situação pode se agravar mais se houver um erro na idade gestacional,
fazendo com que o bebê nasça prematuramente. Quando a criança nasce
antes de pelo menos 39 semanas gestacionais, há um risco maior para
complicações, entre elas problemas respiratórios e hipoglicemia”,
completa o obstetra.
O pós-parto também oferece uma
série de consequências para a saúde das mulheres e, mesmo assim, a
cesárea é o tipo de parto mais realizado no Brasil – 80%, um número bem
maior do que os 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS).
O parto humanizado
Uma
corrente que cresce em oposição ao número elevado de cesáreas é a do
parto humanizado ou natural. A principal diferença deste parto para a
cesariana é que o momento do nascimento é respeitado. “Sem dúvida, o
bebê que passa pelo parto vaginal, passa por contrações, nasce mais
dinâmico, com uma expansão pulmonar melhor do que o bebê que nasce de
cesárea com data marcada, por exemplo”, explica o ginecologista Antônio
Júlio, especialista em obstetrícia com enfoque em parto natural, do
Hospital Santa Catarina.
De acordo com o obstetra,
respeitar o processo fisiológico natural não é só importante para o
bebê, mas também para o psicológico dos pais. “Em bebês que nascem de
cesárea marcada, ocorrem cerca de 60% a 70% mais icterícia [amarelado
causado por excesso de bulirrubina no sangue] do que em bebês de parto
normal. Por mais que não seja grave, o bebê fica mais um dia no hospital
para tomar banho de luz. Para a mãe, sair do hospital com o bebê no
colo é uma coisa, voltar no outro dia para pegar o bebê, é outra. É uma
situação frustrante.”
Escolha inicia no pré-natal
Segundo
Júlio, o parto humanizado começa na escolha de quem irá realizar o
parto. Se a opção for por um obstetra, ele explica que, para realizar
este tipo de parto, o médico precisa rever tudo o que aprendeu e
reaprender a fazer. “Parece simples, mas cada parto tem uma maneira de
se desenrolar. O obstetra que deixa de fazer parto normal desaprende. É
preciso ter vivência”.
A rotina de exames e
ultrassonografias é a mesma. A diferença neste período é a relação que
se estabelece entre a paciente e o obstetra. “O perfil da mulher que
procura o parto humanizado é uma mulher com muita informação, mas também
com muitas dúvidas e às vezes desconfiada. Neste sentido, há uma maior
solicitação por informação”, explica. “Respeitar a paciente é um dos
requisitos básicos e é preciso estar sempre disposto a discutir todas as
dúvidas e questionamentos”.
Durante a gestação a mãe é
encorajada a praticar atividades físicas, principalmente exercícios que
fortaleçam a musculatura do assoalho pélvico, como a ioga, o que
facilitará o parto natural.
Em casa ou no hospital?
Como
o princípio da humanização do parto é respeitar as vontadades e desejos
da gestantes e realizar um parto o mais natural possível, muitas optam
pelo parto domiciliar. Mas como esta pode não ser uma opção acessível à
todas as mulheres, o Ministério da Saúde criou em 1999 os Centros de
Parto Normal, ou Casas de Parto, como são chamadas, para promover o
parto natural.
Carolina Robortella Valente é
jornalista e mãe. Apesar de ter optado por uma Casa de Parto, sua filha
Elis não quis esperar e nasceu em um parto domiciliar não planejado, mas
que deu certo. Ela contou com a ajuda de uma doula (pessoa que auxilia)
e uma obstetriz. No blog “Me pari”, ela faz o relato deste momento.
Entre as razões que a fizeram
optar por este tipo de parto, ela diz que em casa a mulher se sente mais
à vontade para ouvir seus instintos. “Porque não ficarei sendo
examinada de meia em meia hora, vivendo assim intervenções que podem
desacelerar o trabalho de parto (TP). Porque poderei estar acompanhada o
tempo que eu quiser da minha doula, do meu marido. Porque poderei comer
quando eu tiver vontade. Na minha casa, tenho certeza de que eu mando
no meu parto, o parto é meu e não do médico. E se precisar, terei um
“plano B”, como um hospital que eu ja tenha pesquisado sobre”, diz.
O obstetra Antônio Júlio diz
que, apesar de o parto que ele realiza ser feito em ambiente hospitalar,
ele tenta reproduzir o domiciliar. “Chega até a haver uma confusão
nesse sentido. Com toda a evolução tecnológica e na medicina, parece ser
uma coisa retrógrada esta opção. Porém, estamos falando de um parto que
tenta reproduzir o feito em casa, só que com a retaguarda de um
hospital”, explica.
E, assim como no parto
domiciliar, a orientação é que seja feito o mais natural possível, com o
mínimo de – ou sem – medicação. As dores são controladas naturalmente,
seja mudando a posição, utilizando água morna, corrente ou massagens nos
lugares que incomodam mais. Porém, por se tratar de um hospital, é
possível – caso a gestante peça – optar pela anestesia. “Dor é algo
muito pessoal e só quem sente pode dizer se é suportável ou não. A mãe
que opta pelo parto humanizado pode, sim, eventualmente, tomar
anestesia”, diz.
Algo que assusta as mulheres com
relação ao parto natural é o tempo de duração. Mas Júlio afirma que não
há nada o que temer. “Não existe essa coisa de parto que durou um dia
ou dois. Um parto não demora mais do que oito ou 12 horas, em casos
muito especiais 16 horas. E em grande parte desse tempo, principalmente
no início, a enfermeira obstetra tem todas as condições de auxiliar a
mãe. Destas horas, o médico, na verdade, participa de duas ou três”,
diz.
Carol se preparava para ficar
até 12 horas em TP, mas foram apenas três. E, assim que Elis nasceu,
conta, as dores cessaram. “A bolsa estourou e ela saiu de uma vez. Em
uma contração só. Eu já não sentia mais nenhuma dor. Assim que a bebê
saiu, minhas dores todas se foram”, diz no relato.
Mitos da cesárea
O
curioso na descrição de Carol é que ela tem 12 cm de cicatriz vertical
na barriga, resultado de uma operação de redução do estômado pelo método
Bypass. “Pesava 132kg e emagreci, no total, 45 kg. Haviam me falado,
assim que fiquei gravida, que operados não podiam fazer parto normal
porque poderiam entrar em coma”.
Este é o tipo de informação que
leva milhares de mulheres aos hospitais para uma cesárea e ser enganada
para a realização de uma cesárea é considerado violência obstétrica.
Carol, que hoje está em formação para se tornar uma doula, diz que entre
as “desinformações” mais comuns são dizer que o bebê tem a circular de
cordão, que a mulher é “pequena demais para a passagem do bebê”, que
“não tem dilatação” ou “pouco líquido amniótico”.
A melhor posição
Seja
em casa, nas casas de parto ou no hospital, existem diferentes posições
que facilitam a hora do parto. “O que irá definir qual será a ideal é o
conforto da mulher no momento em que ela estiver em trabalho de parto”,
explica o obstetra Júlio. São pelo menos seis posições diferentes:
ginecológica, sentada, de cócoras, de joelho ou de quatro, de lado e o
parto na água.
Sobre o parto realizado na água,
o obstetra alerta para que, se realizado no ambinte hospitalar, a mãe
atente para as condições do local. “Em alguns locais as banheiras
oferecidas geralmente tem espaço exíguo que não permitem uma boa
mobilidade da gestante e nem do obstetra”, explica.
Nem todo parto normal é humanizado: principais diferenças entre o parto clássico e o natural
Relação paciente e obstetra:
no parto clássico, o obstetra é quem define como será o parto. No
natural, o obstetra respeita as vontades da paciente e suas
individualidades.
Presença do pai ou de terceiros:
historicamente, a presença do pai foi sendo retirada da sala de parto.
No parto humanizado há um incentivo para que a futura mamãe esteja
acompanhada de alguém que lhe dê apoio afetivo e emocional, seja o pai
ou outra pessoa, para dar conforto e segurança.
Jejum:
habitualmente a grávida é indicada a ficar em jejum antes do parto. Esta
indicação é feita principalmente pelo anestesista. No entanto, no caso
de um parto natural que pode demorar de oito a 12 horas, é necessário
que a mãe tenha energia, já que precisará colaborar e fazer força. Nesse
sentido, a mãe que vai passar por um parto natural é incentivada a se
alimentar.
Hora do parto:
“Na faculdade, aprendemos assim: a mãe chega ao hospital com quatro
dedos de dilatação, você coloca essa mãe em um soro que vai aumentar as
contrações, rompe a bolsa assim que tiver as condições necessárias e faz
o parto o mais rápido possível. No natural, nós esperamos o parto
acontecer no seu devido momento. Para que a pressa?”, explica Antonio
Júlio.
Episiotomia: a
episiotomia é uma incisão feita na região do períneo (área muscular
entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto e prevenir que
ocorra um rasgamento irregular durante a passagem do bebê. Segundo
Júlio, esta incisão era feita em 100% das vezes quando ocorria um parto
normal. No entanto, nem sempre é necessária. “Quando o bebê está para
nascer, ele não sai de uma vez. Ele vem e volta e, às vezes, isso é
suficiente para lacear o períneo e a criança pode, sim, sair sem romper a
musculatura”, diz.
Fonte O que eu tenho
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