27/06/2012
Brasileiros podem ter descoberto nova rota para tratar o câncer
Redação do Diário da SaúdeO comportamento do tipo príon da proteína poderá ser usado como um alvo terapêutico, alterando radicalmente a forma de compreender e tratar os pacientes com câncer. [Imagem: Bom et al./JBC] |
Uma equipe de cientistas brasileiros está atraindo atenção internacional para um estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Jerson Lima Silva e sua equipe estão sugerindo que pode haver uma ligação até agora desconhecida entre os príons e o desenvolvimento do câncer.
Príon é uma sigla em inglês para o termo "Partículas Proteicas Infecciosas". E eles são justamente isso, um aglomerado de proteínas cujo processo de dobramento se desencaminha, gerando uma partícula infecciosa.
Por razões ainda não conhecidas, os príons conseguem sequestrar outras proteínas e induzi-las a se dobrar incorretamente, o que os caracteriza, de certa forma, como capazes de reprodução.
Os príons são os agentes causadores do Mal da Vaca Louca e de várias outras doenças, estando envolvidos em processos verificados nas doenças de Parkinson e Alzheimer.
Príons e câncer
O Dr. Jerson e sua equipe encontraram indícios de que a proteína p53, que tem a heroica tarefa de evitar a formação de tumores no corpo, pode apresentar um comportamento típico dos príons quando sofre uma mutação.
Já se sabia que um acúmulo de p53 no interior da célula atrapalha seu trabalho de prevenir a formação de tumores - isto foi observado em cânceres como neuroblastoma, retinoblastoma, câncer de mama e de cólon.
O que os pesquisadores brasileiros descobriram agora é que, nas linhagens de células contendo a mutação mais comum da p53, presentes no câncer de mama, a formação dos agregados dessa proteínas - um agregado do tipo príon - é responsável pela perda de função da p53.
Ou seja, não é apenas uma questão de acúmulo da proteína, mas o seu processo de "prionização" que importa.
Mudança na compreensão do câncer
O grupo agora pretende desenvolver estratégias para evitar que a p53 se dobre incorretamente e se agregue, na tentativa de demonstrar que o comportamento prionoide da proteína de fato representa um mecanismo de desenvolvimento do câncer.
"Nós estamos planejando testes pré-clínicos com ácidos nucleicos sintéticos, na tentativa de evitar a alteração na conformação normal da p53, e evitar a formação dos agregados de proteínas mal dobradas," disse o Dr. Jerson.
Se eles tiverem sucesso, a estratégia poderá revelar um mecanismo molecular de formação de tumores até agora desconhecido.
Considerando que mais da metade dos cânceres apresenta perda de função da p53, esse comportamento do tipo príon poderá ser usado como um alvo terapêutico, alterando radicalmente a forma de compreender e tratar os pacientes com câncer.
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