Ministério Público começa a investigar epidemia de diarreia em Alagoas
A epidemia de diarreia que já
atingiu 27 municípios alagoanos, está deixando outros 40 em estado de
alerta e matou 37 pessoas só este ano, será pauta de uma reunião do 2°
Centro de Apoio Operacional do Ministério Público do Estado de Alagoas
(CAO), às 14h30 da tarde desta quinta-feira (18), na sede do MP/AL, na
cidade de Arapiraca. O encontro, entre procuradores e promotores,
ocorrerá com o objetivo de se construir um plano de ação para começar a
investigar as causas do surto da doença e apurar responsabilidades.
A reunião será comandada pelo
procurador de Justiça Geraldo Magela, coordenador do CAO, e também terá
a participação dos promotores José Carlos Castro e Napoleão Calheiros,
coordenadores do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público; dos promotores
Micheline Tenório e Alberto Vieira, coordenadores do Núcleo de Defesa da
Saúde Pública, do promotor Saulo Ventura, coordenador do Núcleo de
Defesa do Consumidor de Arapiraca e de promotores da comarca de Palmeira
dos Índios. “Vamos fazer um levantamento, com base no relatório que
recebemos da Secretaria de Estado da Saúde, dos municípios atingidos
pela epidemia e onde as óbitos ocorreram. Depois disso, elaboraremos uma
estratégia de atuação, que vai começar pela cobrança de explicações aos
órgãos responsáveis pelo tratamento e distribuição da água naquelas
cidades. Ouviremos a Casal, as prefeituras, o Estado e o até o Exército,
que é o responsável pelo transporte dos carros-pipas”, explicou Geraldo
Magela.
“É perceptível que houve, no
mínimo, negligência nesse caso e as culpas têm que ser apuradas.
Precisamos saber se houve dolo ou não das instituições responsáveis pelo
fornecimento de água aos moradores dos municípios onde a doença se
tornou um surto”, afirmou o procurador de Justiça.
O coordenador do Núcleo de
Defesa do Patrimônio Público confirmou que a Sesau enviou ao MP/AL um
relatório que aponta a situação da epidemia em dezenas de cidades,
principalmente, nas regiões do Agreste e Sertão. “Mortes por diarreia
são comuns em países subdesenvolvidos, o que não é o caso do Brasil.
Vamos cobrar dos gestores públicos mais respeito à saúde da população e
medidas urgentes para tentar se reverter o problema, antes que outras
pessoas também morram por causa de uma grave desidratação. As
intervenções têm que ser feitas de forma urgente, tanto na questão do
saneamento básico”, declarou José Carlos Castro.
A promotora Micheline Tenório
lembrou que, só no último mês de maio, os atendimentos médicos para
casos de diarreia aumentaram em mais de 200% com relação ao mesmo
período do ano passado.
“Em 2012 também houve chuva e foram registrados
casos de pacientes que foram atingidos por essa enfermidade. Entretanto,
agora em 2013, os números assustam porque já ultrapassam a casa de 28
mil pessoas doentes, com 37 mortes entre maio e junho. São 27 cidades em
epidemia e outras 40 em estado de alerta permanente porque já
apareceram pacientes com a mesma doença. O que o MP quer é que cada
órgão reconheça onde houve falhas e comece a consertá-las imediatamente.
A vida de um cidadão que está doente não pode esperar”, alertou.
Os dados preocupantes
A epidemia de diarreia
atinge, especialmente, municípios que sofrem com a seca e tem IDHs
(Índice de Desenvolvimento Humano utilizado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida de uma determinada
população) muito abaixo da meta preconizada, que varia de 0 a 1.
De acordo com dados da
Secretaria de Estado da Saúde, o problema do surto da doença se deveu,
principalmente, por conta da água contaminada que é consumida pela
população e ela pode ter vindo do sistema de abastecimento da Casal, dos
carros-pipa, da distribuição ou venda particular de água por meio de
carroças de burro e carros de boi que captam o líquido em locais
contaminados ou ainda do uso da água da barragem. Este último
normalmente ocorre por conta da estiagem ocasionada pela seca e é
considerada uma fonte alternativa de abastecimento.
Segundo o Comitê de Combate à
Seca de Alagoas, em Palmeira dos Índios, cidade onde os números são
mais graves, foram registradas 10 mortes e mais de 7,2 mil atendimentos
por diarreia foram registrados somente agora em 2013. Outros 13
municípios, que estão em situação de emergência ou de calamidade por
causa da seca, registraram pelo menos uma morte devido à doença.
A diarreia
As principais características
da diarreia são o aumento do número de evacuações e a perda de
consistência das fezes, que se tornam aguadas e uma das piores
complicações da doença é a desidratação. Adultos são mais resistentes,
mas, bebês, crianças e idosos desidratam-se com bastante facilidade.
Boca seca, lábios rachados,
letargia, confusão mental e diminuição da urina são os principais
sintomas de desidratação que, além de diminuir as reservas de água do
corpo humano constituído por cerca de 75% de água, reduzem os níveis de
dois importantes minerais: sódio e potássio.
Suas principais causas são:
toxinas bacterianas como a do Estafilococus; infecções por bactérias
como a Salmonella e a Shighella; infecções virais; disfunção da
motilidade do tubo digestivo; parasitas intestinais causadores de
amebíase e giardíase; efeitos colaterais de algumas drogas, por exemplo,
antibióticos, altas doses de vitamina C e alguns medicamentos para o
coração e câncer; abuso de laxantes; intolerância a derivados do leite
pela incapacidade de digerir lactose (açúcar do leite) e intolerância ao
sorbitol, adoçante obtido a partir da glicose.
A medicina recomenda o
tratamento à base de muito líquido, entre dois e três litros por dia.
Contudo, como a água não repõe a perda de sódio e potássio, é preciso
suprir essa necessidade com soro caseiro ou outros líquidos que
contenham tais substâncias. Pessoas com pressão alta, diabetes,
glaucoma, doenças cardíacas ou com histórico de derrames devem consultar
um médico antes de ingerir bebidas que contenha sódio porque correm o
risco de ter a pressão elevada.
Fonte: MPE/AL
Nenhum comentário:
Postar um comentário