quinta-feira, 18 de julho de 2013

Investigação x epidemia

Ministério Público começa a investigar epidemia de diarreia em Alagoas

A epidemia de diarreia que já atingiu 27 municípios alagoanos, está deixando outros 40 em estado de alerta e matou 37 pessoas só este ano, será pauta de uma reunião do 2° Centro de Apoio Operacional do Ministério Público do Estado de Alagoas (CAO), às 14h30 da tarde desta quinta-feira (18), na sede do MP/AL, na cidade de Arapiraca. O encontro, entre procuradores e promotores, ocorrerá com o objetivo de se construir um plano de ação para começar a investigar as causas do surto da doença e apurar responsabilidades.
A reunião será comandada pelo procurador de Justiça Geraldo Magela, coordenador do CAO, e também terá a participação dos promotores José Carlos Castro e Napoleão Calheiros, coordenadores do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público; dos promotores Micheline Tenório e Alberto Vieira, coordenadores do Núcleo de Defesa da Saúde Pública, do promotor Saulo Ventura, coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor de Arapiraca e de promotores da comarca de Palmeira dos Índios. “Vamos fazer um levantamento, com base no relatório que recebemos da Secretaria de Estado da Saúde, dos municípios atingidos pela epidemia e onde as óbitos ocorreram. Depois disso, elaboraremos uma estratégia de atuação, que vai começar pela cobrança de explicações aos órgãos responsáveis pelo tratamento e distribuição da água naquelas cidades. Ouviremos a Casal, as prefeituras, o Estado e o até o Exército, que é o responsável pelo transporte dos carros-pipas”, explicou Geraldo Magela.
“É perceptível que houve, no mínimo, negligência nesse caso e as culpas têm que ser apuradas. Precisamos saber se houve dolo ou não das instituições responsáveis pelo fornecimento de água aos moradores dos municípios onde a doença se tornou um surto”, afirmou o procurador de Justiça.
O coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público confirmou que a Sesau enviou ao MP/AL um relatório que aponta a situação da epidemia em dezenas de cidades, principalmente, nas regiões do Agreste e Sertão. “Mortes por diarreia são comuns em países subdesenvolvidos, o que não é o caso do Brasil. Vamos cobrar dos gestores públicos mais respeito à saúde da população e medidas urgentes para tentar se reverter o problema, antes que outras pessoas também morram por causa de uma grave desidratação. As intervenções têm que ser feitas de forma urgente, tanto na questão do saneamento básico”, declarou José Carlos Castro.
A promotora Micheline Tenório lembrou que, só no último mês de maio, os atendimentos médicos para casos de diarreia aumentaram em mais de 200% com relação ao mesmo período do ano passado. 
 
“Em 2012 também houve chuva e foram registrados casos de pacientes que foram atingidos por essa enfermidade. Entretanto, agora em 2013, os números assustam porque já ultrapassam a casa de 28 mil pessoas doentes, com 37 mortes entre maio e junho. São 27 cidades em epidemia e outras 40 em estado de alerta permanente porque já apareceram pacientes com a mesma doença. O que o MP quer é que cada órgão reconheça onde houve falhas e comece a consertá-las imediatamente. A vida de um cidadão que está doente não pode esperar”, alertou.
Os dados preocupantes
A epidemia de diarreia atinge, especialmente, municípios que sofrem com a seca e tem IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida de uma determinada população) muito abaixo da meta preconizada, que varia de 0 a 1.
De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde, o problema do surto da doença se deveu, principalmente, por conta da água contaminada que é consumida pela população e ela pode ter vindo do sistema de abastecimento da Casal, dos carros-pipa, da distribuição ou venda particular de água por meio de carroças de burro e carros de boi que captam o líquido em locais contaminados ou ainda do uso da água da barragem. Este último normalmente ocorre por conta da estiagem ocasionada pela seca e é considerada uma fonte alternativa de abastecimento.
Segundo o Comitê de Combate à Seca de Alagoas, em Palmeira dos Índios, cidade onde os números são mais graves, foram registradas 10 mortes e mais de 7,2 mil atendimentos por diarreia foram registrados somente agora em 2013. Outros 13 municípios, que estão em situação de emergência ou de calamidade por causa da seca, registraram pelo menos uma morte devido à doença.
A diarreia
As principais características da diarreia são o aumento do número de evacuações e a perda de consistência das fezes, que se tornam aguadas e uma das piores complicações da doença é a desidratação. Adultos são mais resistentes, mas, bebês, crianças e idosos desidratam-se com bastante facilidade.
Boca seca, lábios rachados, letargia, confusão mental e diminuição da urina são os principais sintomas de desidratação que, além de diminuir as reservas de água do corpo humano constituído por cerca de 75% de água, reduzem os níveis de dois importantes minerais: sódio e potássio.
Suas principais causas são: toxinas bacterianas como a do Estafilococus; infecções por bactérias como a Salmonella e a Shighella; infecções virais; disfunção da motilidade do tubo digestivo; parasitas intestinais causadores de amebíase e giardíase; efeitos colaterais de algumas drogas, por exemplo, antibióticos, altas doses de vitamina C e alguns medicamentos para o coração e câncer; abuso de laxantes; intolerância a derivados do leite pela incapacidade de digerir lactose (açúcar do leite) e intolerância ao sorbitol, adoçante obtido a partir da glicose.
A medicina recomenda o tratamento à base de muito líquido, entre dois e três litros por dia. Contudo, como a água não repõe a perda de sódio e potássio, é preciso suprir essa necessidade com soro caseiro ou outros líquidos que contenham tais substâncias. Pessoas com pressão alta, diabetes, glaucoma, doenças cardíacas ou com histórico de derrames devem consultar um médico antes de ingerir bebidas que contenha sódio porque correm o risco de ter a pressão elevada.
Fonte: MPE/AL

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