Posted: 27 Jul 2013 06:58 AM PDT
Penicilina G Benzatina |
Quase 100 anos depois do seu desenvolvimento, a penicilina e seus derivados continuam sendo amplamente utilizados na prática médica como uma das principais armas contra infecções bacterianas.
A alergia às penicilinas é uma situação tão comum que 1 em cada 10 pacientes refere ser alérgico a esta classe de antibióticos.
O que são as penicilinas
A penicilina foi o primeiro antibiótico a ser usado em larga escala no
mundo. Hoje em dia, quando falamos em penicilina já não nos referimos
mais àquele antibiótico descoberto no início do século XX, mas sim ao
grande grupo de antibióticos desenvolvidos a partir daquela primeira
droga.
Portanto, quando falamos que um paciente é alérgico à penicilina,
queremos dizer que o paciente é, na verdade, alérgico a todos os
antibióticos da família da penicilina, que são:
- Amoxicilina
- Ampicilina
- Azlocilina
- Carbenicilina
- Cloxacilina
- Dicloxacilina
- Mezlocilina
- Nafcilina
- Oxacilina
- Penicilina G
- Penicilina V
- Penicilina Benzatina (Benzetacil)
- Piperacilina
- Ticarcilina
Apesar de serem da mesma família, as diferentes penicilinas possuem
atividades contra bactérias e infecções distintas. Por exemplo, a
amoxicilina é frequentemente usada para infecções respiratórias simples,
enquanto a piperacilina costuma ser indicada para diversos tipos de
infecção hospitalar.
As penicilinas mais próximas do antibiótico originalmente descoberto por
Alexander Fleming são as Penicilina G, Penicilina V e Penicilina
Benzatina (Benzetacil). Devido ao grande grau de resistência bacteriana,
estes antibióticos são muito pouco usados atualmente, ficando restritos
ao tratamento da sífilis e de algumas infecções de garganta.
Reações adversas às penicilinas
Dizemos que o paciente tem alergia à penicilina somente quando o
mesmo desenvolve uma reação alérgica, ou seja, uma reação do sistema
imunológico, após receber algum antibiótico da família da penicilina.
Este conceito parece óbvio, mas não é. A penicilina, como qualquer outra
droga, pode causar efeitos colaterais que nada têm a ver com reações
imunológicas, não sendo, portanto, reações alérgicas. Na verdade, as
reações não alérgicas, como queimação no estômago, mal estar, náuseas,
diarreia, tontura, dor de barriga, etc., são muito mais frequentes que
as reações alérgicas propriamente ditas. O problema é que muitos
pacientes interpretam estas reações como um sinal de alergia e passam a
se rotular como “alérgicos à penicilina”.
Muitas dessas pessoas chegam aos seus médicos e já avisam logo que são
alérgicas. Nem sempre o profissional de saúde perde o tempo necessário
avaliando se a reação que o paciente teve à penicilina realmente se
encaixa em um quadro de alergia. Deste modo, a informação errada, criada
por uma pessoa leiga, acaba sendo equivocadamente ratificada pelo
médico, tornando-se uma verdade descrita nos prontuários e atestados
médicos.
O fato é que estatisticamente 1 em cada 10 pacientes se considera
alérgico às penicilinas. Todavia, quando vamos estudar adequadamente
seus sistemas imunológicos, descobrimos que até 90% destas pessoas NÃO
são realmente alérgicas às penicilinas, não havendo nenhuma
contraindicação ao uso desta classe de antibióticos.
Além do diagnóstico equivocado de alergia, há um outro dado importante
que contribui para esta falsa estatística: a alergia à penicilina pode
desaparecer com o tempo. Cerca de 80% dos pacientes que tiveram um
quadro de alergia a um antibiótico da família da penicilina podem deixar
de ser alérgicos se ficarem 10 ou mais anos sem ter contato com este
antibiótico. Portanto, se você teve um quadro de alergia a uma
penicilina na infância e nunca mais foi exposto a essa classe de
antibióticos, é bem possível que não seja mais alérgico, podendo voltar a
usar a penicilina sem nenhum perigo.
Sintomas da alergia à penicilina
Já sabemos, então, que nem toda reação adversa provocada pelo uso de penicilina pode ser considerada uma reação alérgica.
As alergias, também chamadas de reação de hipersensibilidade, são
reações de origem imunológica, que ocorrem por uma resposta inapropriada
e exagerada do sistema imune a algumas estruturas presentes nos
medicamentos.
Entre os sinais e sintomas típicos da alergia à penicilina podemos citar:
- Urticária – caracterizada por placas avermelhadas com relevo na pele, que coçam muito
- Rush cutâneo – caracterizado por manchas vermelhas pelo corpo, sem relevo e sem comichão.
- Prurido – caracterizado por uma coceira intensa, sem necessariamente haver lesões visíveis na pele.
- Angioedema – inchaço de mucosas, como lábios, olhos, boca e língua.
Em casos graves é possível haver choque anafilático, caracterizado por
queda na pressão arterial, dificuldade de respirar causada por intenso
espasmo das vias aéreas (broncoespasmo) e edema da laringe. Esse quadro é
uma emergência médica e pode levar o paciente ao óbito se não for
tratado rapidamente.
Tipos de alergia às penicilinas
Quando um paciente desenvolve um quadro sugestivo de alergia à
penicilina é importante tentar determinar o intervalo de tempo entre o
uso da droga e o aparecimento dos sintomas de alergia.
Chamamos de reações de hipersensibilidade imediata aquelas reações
alérgicas que surgem na primeira hora após o contato com a penicilina.
Já as reações de hipersensibilidade tardia ocorrem várias horas ou até
dias depois da exposição à droga. Geralmente, o paciente já fez uso do
antibiótico por vários dias antes de ter qualquer reação.
Essa distinção é importante, pois as reações imediatas são causadas por
um anticorpo chamado IgE, sendo as mais perigosas devido ao risco de
causarem reações anafiláticas. Pacientes com história de reações de
hipersensibilidade imediata não devem ser reexpostos a tratamentos com
penicilinas. As reações tardias são geralmente benignas e não costumam
causar reações alérgicas mais graves.
Diagnóstico da alergia à penicilina
Na maioria dos casos, os médicos aceitam como verdadeira a informação de
alergia trazida pelo paciente. Devido ao medo de processos legais, a
maioria dos médicos opta por não prescrever antibióticos da família da
penicilina se o paciente se rotular como alérgico, mesmo que os sintomas
descritos não sejam propriamente de alergia.
Em alguns casos porém, a confirmação da alergia torna-se útil.
Exemplos:
- Nos casos de sífilis, a penicilina ainda é o antibiótico mais efetivo e seu uso deve ser indicado sempre que possível.
- Pacientes com infecção de garganta ou sinusite de repetição acabam
precisando de antibióticos mais fortes se não puderem tomar penicilinas.
- Um paciente com história de alergia ocorrida há muitos anos já pode
não ser mais alérgicos, não sendo necessário evitar as penicilinas em
infecções mais simples.
O teste mais usado para diagnóstico da alergia à penicilina é o teste
cutâneo. Este teste consiste na aplicação de uma quantidade mínima de
penicilina no tecido subcutâneo. Se o paciente for alérgico, uma pequena
reação alérgica irá aparecer no local da aplicação após cerca de 15 a
20 minutos.
Os testes cutâneos devem ser administrados somente por médicos
imunoalergistas, de preferência em ambiente hospitalar. Esse teste é
contraindicado em pacientes que já tiveram reação alérgica grave à
penicilina, como necrólise epidérmica tóxica ou síndrome de
Stevens-Johnson.
Se o teste for negativo, ou seja, se não houver reação alguma à injeção,
o paciente não apresenta alergia à penicilina, podendo voltar a fazer
uso deste antibiótico com segurança. Apenas 1% dos pacientes com teste
negativo apresentam sinais de alergia grave ao voltarem a tomar
penicilina. Em geral, para se ter certeza, pedimos que o paciente tome
um comprimido de penicilina e espere no hospital por cerca de 2 horas
para descartamos qualquer reação alérgica mais séria.
Reação cruzada às penicilinas
Quando o paciente descobre ser alérgico a uma penicilina, ele deve ser
encarado como alérgico a todas as outras também. O paciente não é
somente alérgico a amoxacilina ou a benzetacil, ele é alérgico às
penicilinas em geral.
As cefalosporinas são uma classe de antibióticos que apresentam algumas
semelhanças estruturais com as penicilinas. As penicilinas e as
cefalosporinas são didaticamente agrupadas em uma grande grupo de
antibióticos chamado de antibióticos betalactâmicos.
Inicialmente, todo paciente alérgico às penicilinas deve também ser
encarado como alérgico às cefalosporinas. Na verdade, apenas cerca de
10% apresentam alergia para essas duas classes, mas sem a realização dos
testes cutâneos é impossível saber quem é alérgico somente às
penicilinas e quem tem alergia às duas classes de antibióticos.
Tratamento dos pacientes alérgicos à penicilina
Os pacientes com alergia às penicilinas não devem mais ser tratados com
essa classe de antibiótico. Apesar desta restrição significar a
impossibilidade de usar antibióticos muito comuns, como amoxicilina,
oxacilina e piperacilina, na maioria das infecções é possível arranjar
em esquema antibiótico alternativo eficaz.
Porém, se o médico achar que o tratamento com um derivado da penicilina é
essencial para a cura de uma determinada infecção, o mesmo pode lançar
mão de um procedimento chamado dessensibilização à penicilina.
Esse procedimento consiste na administração, dentro de um ambiente
hospitalar, de penicilina em doses crescentes a cada 15 minutos de forma
a “acostumar” o organismo à droga, impedindo temporariamente que
haja alguma reação alérgica. A primeira administração é feita
habitualmente com 0,01% da dose normal. Após sucessivos intervalos de 15
minutos, administra-se o dobro da dose anterior até que se chegue a
dose plena desejada para tratar uma infecção.
Por exemplo, se dose normal for de 500 mg em cada comprimido, a
dessensibilização é iniciada com uma dose de 0,05mg. Após 15 minutos
administra-se 0,10mg; após mais 15 minutos, 0,20mg, e assim por diante,
até chegar a 500mg. O processo todo demora algo em torno de 4 horas. O
paciente, então, pode tomar os comprimidos em dose habitual durante o
tempo determinado pelo médico (por exemplo: 500mg a cada 8 horas por 10
dias)
É importante destacar que esse procedimento tem efeito temporário. Se o
paciente ficar 24 a 48 horas sem tomar o antibiótico, a
dessensibilização perde efeito e o paciente volta a não poder tomar
antibióticos à base de penicilina.
Fonte www.mdsaude.com
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